Medo de novos deslizamentos atormenta moradores do Recife

Recifenses vigiam as encostas e reclamam da falta de atendimento da Defesa Civil do município

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Marlon Diego Eugenia Logiuratto
Rio de Janeiro | AFP

Enquanto os bombeiros procuram desaparecidos na lama, moradores de Vila dos Milagres, comunidade pobre da cidade do Recife, mal conseguem pregar o olho: temem novos deslizamentos como os que já deixaram 120 mortos na região nos últimos dias, segundo um novo balanço oficial que continua aumentando.

"A gente tem filho, tem criança, tem tudo dentro de casa. A gente tá dormindo mais de 2 horas, 3 horas da manhã com medo que a barreira caia por cima das casas", disse nesta quarta-feira (1º) à AFP Cláudia do Rosário, parada na porta de sua casa humilde com telhado de zinco e paredes cor-de-rosa manchadas de umidade.

A poucas ruas dali, as chuvas torrenciais do fim de semana passado provocaram deslizamentos de terra que devastaram tudo em seu caminho e soterraram várias casas.

Rayza Dayane, de 25 anos, posa com sua filha, Clara Rhayllane, 1, na entrada de sua casa na Vila dos Milagres, um dos locais ainda com perigo de deslizamentos por causa das fortes chuvas
Rayza Dayane, de 25 anos, posa com sua filha, Clara Rhayllane, 1, na entrada de sua casa na Vila dos Milagres, um dos locais ainda com perigo de deslizamentos por causa das fortes chuvas - Sergio Maranhão/AFP

Na tarde desta quarta-feira, as autoridades locais elevaram a 120 o número de mortos depois da descoberta de cinco corpos e de confirmar a relação de outros nove com os temporais.

Os desalojados chegam a 7.312.

Se voltar a chover intensamente, como prevê o Instituto Nacional de Meteorologia para as próximas horas, teme que ocorra o mesmo com a sua.

Os moradores afetados "chamaram a Codecir [Coordenadoria de Defesa Civil do Recife] lá para dentro e nunca vieram. Eles querem que aconteça a mesma coisa que aconteceu lá, aconteça aqui, para que eles possam vir, é?", queixa-se ela, de 43 anos e desempregada.

Bombeiros tiram da lama os corpos de três vítimas de deslizamentos na Vila dos Milagres, em Recife
Bombeiros tiram da lama os corpos de três vítimas de deslizamentos na Vila dos Milagres, em Recife - Sergio Maranhão - 31.mai.22/AFP

A comerciante Maria Lúcia da Silva, de 37, também se mostra preocupada.

"Quando começa a chover a barreira cede, cede, cede e aqui a gente tamo tudo 'aperreada'. Já ligou para Codecir, a Codecir disse que veio, mas até agora não resolveu nada. Eles passam o protocolo, a gente liga novamente e dizem que a demanda é lá dentro do 'Buracão'", disse Silva, em alusão à localidade mais afetada.

Ali, onde ocorreram os deslizamentos, bombeiros, garis e outros funcionários trabalhavam nesta quarta em busca de três pessoas que continuavam desaparecidas, constatou um cinegrafista da AFP.

A Prefeitura de Recife afirma que abriu linhas telefônicas e de WhatsApp para que os moradores reportem incidentes e que nesta quarta-feira esteve presente no bairro com mais de 200 funcionários de "limpeza, assistência social, defesa civil e saúde", além de ter montado um abrigo em Vila dos Milagres para dar assistência médica, roupas e artigos de primeira necessidade aos afetados.

Entre a noite de sexta-feira e a manhã de sábado, o volume de água atingiu 70% do esperado para todo o mês de maio em alguns pontos da capital.

As imagens de Recife evocam o drama ocorrido em fevereiro em Petrópolis, na região serrana do estado do Rio de Janeiro, onde morreram 233 pessoas após chuvas torrenciais e deslizamentos.

Os especialistas atribuem este tipo de tragédias a uma combinação de fortes chuvas —exacerbadas pela mudança climática— e à construção de grandes comunidades com casas precárias em áreas de risco íngremes.

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Brasil (Cemaden) estima que no Brasil 9,5 milhões de pessoas vivam em áreas de risco para deslizamento ou inundações, muitas delas em comunidades pobres, sem saneamento básico.

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