"Quero ser que nem tu." Foi o que disse o garoto de 12 anos Bruno Carneiro Lopes, do Rio Grande do Sul, após saber que tinha, oficialmente, um pai.
O registro do novo sobrenome na certidão de nascimento, confirmado em maio, veio após quase dez anos de espera pela adoção. A mãe do menino, Regiane Carneiro, faleceu quando ele tinha dez meses de vida, após um câncer no útero.
Desde então, o menino conviveu com Rodrigo Medina Lopes, 45, ex-marido de Carneiro, e sempre o teve como pai. Bruno nasceu de um relacionamento posterior ao fim do casamento, e o pai biológico nunca o reconheceu.
A notícia do novo registro foi dada a Bruno pelo próprio pai adotivo, que gravou o momento em vídeo e compartilhou na internet. "Não esperava essa repercussão", diz ele, que viu dobrar o número de seguidores em sua conta pessoal.
Nas imagens, o pai chama o filho para ver a nova certidão de nascimento. Ao começar a ler, o menino para ao perceber que agora tem o sobrenome da mãe e do homem que aceitou como pai.
Ambos se emocionam, Bruno abraça Lopes e diz "Quero ser que nem tu". Quando o pai pergunta como o menino se sente, ele responde que está muito feliz.
O pai lembra que, naquele dia, tinha um compromisso profissional fora de Porto Alegre, onde moram, e que Bruno nunca podia viajar de avião com ele, devido ao fato de a guarda provisória estar com a avó materna.
"Liguei no Fórum para pedir autorização de viagem. Quando retornaram a ligação, informaram que eu não iria mais precisar de autorização, pois a juíza tinha permitido a adoção e o novo registro de nascimento."
Regiane Carneiro morreu em 2010, dez meses depois do nascimento do filho. A descoberta do câncer aproximou ainda mais Lopes da ex-mulher, com quem sempre manteve uma relação amigável.
Eles foram casados por 12 anos e tiveram uma filha em 1995. Ele é corretor de planos de saúde e executivo de vendas numa rede hoteleira.
"Regiane me procurou depois de alguns anos de separação e disse do seu sonho de ter um menino, que gostaria que fosse comigo. Mas eu estava em outra fase e não aceitei."
Pouco depois, conta, a ex-mulher engravidou de outro homem, que nunca quis assumir o filho. O pai adotivo, por sua vez, teve contato com Bruno já na primeira semana de vida do menino.
"Eu sempre tive a entrada livre na casa deles, minha filha morava lá. Eu jantava com elas, pois morava na mesma rua, na casa da minha mãe. Fui visitar o Bruno bebê e me apaixonei por ele desde o primeiro momento", recorda.
Uma dermatite atópica na criança fez com que o então "titio" se envolvesse ainda mais com seus cuidados. Foi quando a mãe de Bruno descobriu um câncer no útero.
"Ela pediu que o Bruno ficasse comigo, para não separá-lo da irmã. Todos aceitaram e me ajudaram muito no processo de adoção, comprovando nosso vínculo, com depoimentos, fotos e documentos."
Depois da morte de Carneiro, em 2012, Bruno passou a ter a rotina dividida entre o pai e a família da mãe. "Convivemos muito bem juntos. Minha sogra virou minha segunda mãe", diz Medina.
Com a repercussão do vídeo na internet, o corretor viu seu número de seguidores passar de 10 mil. "Espero apenas que essa repercussão toda possa inspirar outras famílias para a adoção, pois muitos pais biológicos não querem assumir seus filhos."
No Rio Grande do Sul, das 53.385 crianças nascidas neste ano, 3.202 (cerca de 6%) não possuem o nome do pai no registro de nascimento.
Em 2021, dos 126.483 bebês nascidos no Estado, 7.097 (5,6%) foram registrados apenas no nome da mãe. Os dados são da Arpen/BR (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais).
O Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), mostra que o Brasil tem hoje 29.532 crianças e adolescentes abrigados em casas de acolhimento —onde ficam temporariamente aqueles que estão afastados do convívio com os pais biológicos por algum motivo, como abandono ou negligência. Destes, apenas 4.125 (14%) estão aptos à adoção.
No Rio Grande do Sul, foram 326 adoções em 2020, 406 em 2021 e 158 até maio de 2022.
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