Cadeiras da arquibancada do Pacaembu são vendidas em loja de decoração

Segundo as empresas, essa é uma ação coordenada entre a loja e o estádio

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São Paulo

Uma loja de móveis e decoração colocou à venda as cadeiras originais da arquibancada laranja do estádio do Pacaembu, em São Paulo, pela internet. Os preços variam de R$ 1.499 a R$ 1.799.

Segundo a comunicação do estádio, trata-se de uma ação coordenada entre a loja e a nova administração do local, concedido para a iniciativa privada em 2019. O valor arrecadado, segundo a assessoria da Tok&Stok, vai para a fundação Gol de Letra —organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que desenvolve, desde 1998, projetos para contribuir com a educação de crianças e jovens de comunidades socialmente vulneráveis.

anuncio digital mostra cadeiras à venda
Anúncio das cadeiras originais do Pacaembu no site da loja Tok&Stok - Reprodução

Em nota, a loja informou que o principal objetivo com a linha Cadeira Pacaembu é "celebrar essa história com os torcedores —levando um pedacinho do estádio para suas casas".

"Acreditamos que reaproveitar as cadeiras, evitando seu descarte e dando a elas um novo propósito, tão conectado às emoções dos torcedores, seja um ótimo jeito de honrar seu legado", afirma o comunicado, que diz que a coleção está sendo vendida em edição limitada.

Segundo a concessionária Allegra, atual administradora do estádio, a venda de cadeiras e banquetas fabricadas com os antigos assentos das arquibancadas do Pacaembu "trata-se de uma iniciativa sócio-ambiental, com o objetivo de enaltecer a história do futebol no estádio mais emblemático da cidade de São Paulo".

Em nota, a concessionária declarou também que o reaproveitamento das cadeiras evitou seu descarte, dando a elas um novo propósito. Afirma ainda não há qualquer restrição legal ou contratual à iniciativa.

Funcionária limpa as cadeiras das arquibancadas do estádio do Pacaembu, em foto de 2016 - Moacyr Lopes Junior - 16.set.16/Folhapress

O local é tombado pelos órgãos de preservação estadual e municipal.

Para Renato Anelli, arquiteto e professor do programa de pós-graduação do Mackenzie, há dúvidas sobre como um mobiliário que pertence a um bem tombado pode ser comercializado sem uma autorização do legítimo proprietário, que é a prefeitura, e, se isso está previsto ou não nas autorizações das intervenções emitidas pelo Conpresp e pelo Condephaat (os conselhos responsáveis pela preservação no município e no estado, respectivamente).

"É uma situação bastante 'sui generis', porque é propriedade pública, ela não foi vendida na concessão, o que eu tenho de informação é isso", afirmou.

Segundo ele, que é ex-conselheiro do Condephaat, havia muita reclamação de como os pedidos de autorização das intervenções e aprovação de projetos vinham picados.

"Eram muitas idas e vindas sem que a gente pudesse ter uma noção do todo, e me parece que isso continuou depois da minha saída [em 2021]. Tem um certo limbo, pelo menos de informação sobre o que está acontecendo e se foi autorizado ou não", afirmou.

​A Folha questionou a Prefeitura de São Paulo sobre a venda das cadeiras e, por meio da Seme (Secretaria Municipal de Esportes), a gestão informou que não há qualquer restrição legal ou contratual à iniciativa.

"O contrato de concessão do complexo prevê a necessidade de a concessionária Allegra Pacaembu realizar a substituição dos assentos existentes nas arquibancadas por novos, constituídos por material durável e resistente", disse a nota.

"Cabe a concessionária realizar a destinação e/ou descarte dos materiais e equipamentos existentes no Complexo do Pacaembu, prezando pela sustentabilidade e por um descarte que gere o menor impacto e interferência possível", explica.

Em maio, as arquibancadas do estádio, que fica na região central de São Paulo, foram parcialmente demolidas.

Segundo a concessionária Allegra, atual administradora do conjunto arquitetônico inaugurado nos anos 1940, as obras visam a ampliação dos banheiros e a criação de camarotes, de um espaço para eventos e de uma área de alimentação, além de dar mais acessibilidade ao público com deficiência ou mobilidade reduzida.

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