Dom Cláudio realizou sonho de ser missionário na Amazônia, diz arcebispo de SP

Missa na Catedral da Sé abriu, na noite desta segunda-feira (4), os ritos do funeral do cardeal morto pela manhã

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São Paulo

Diante de fiéis emocionados, dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, afirmou que o cardeal Cláudio Hummes realizou um sonho ao se tornar um missionário na Amazônia.

Dom Odilo celebrou na noite desta segunda-feira (4) missa de corpo presente em homenagem ao cardeal morto pela manhã, aos 87 anos. O corpo do religioso, arcebispo emérito de São Paulo, estava diante do altar na Catedral Metropolitana de São Paulo, na Sé. Nos bancos da igreja da região central da catedral, as pessoas não conseguiam esconder a comoção.

Dom Odilio Scherer, arcebispo de São Paulo, celebra missa diante do corpo do cardeal dom Cláudio Hummes na catedral da Sé - Adriano Vizoni/Folhapress

"Nos últimos anos, após ter completado a sua missão em Roma, voltou para cá e lhe foi pedido que assumisse a Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB [Confederação Nacional dos Bispos do Brasil]", lembrou. "Dom Cláudio disse que era um sonho guardado de sua juventude ser missionário na Amazônia", afirmou em seu discurso.

Dom Cláudio Hummes ficou à frente da Comissão Episcopal na Amazônia até março passado, quando precisou renunciar ao cargo por causa de um câncer.

"Ele tinha a capacidade de quebrar a zona de conforto", afirmou o arcebispo à Folha, após a celebração. "A Igreja não perdeu, ela ganhou", disse à reportagem, lembrando várias vezes da vocação de dom Cláudio de evangelizar. "Só se ganha com quem passou a vida fazendo o bem."

O poder de evangelizar era citação comum nas conversas após a missa desta segunda-feira. Leda Tavela, 68, que se manteve ao lado do corpo por mais de 30 minutos após a celebração, lembrou disso enquanto enxugava os olhos. Os dois trabalharam juntos em projetos da arquidiocese para referendar novas comunidades católicas na cidade de São Paulo.

"Ele era de juventude e coragem impressionantes", afirmou Tavela, lembrando que o religioso enfrentou a ditadura para defender movimentos sindicais, quando foi bispo de Santo André —em meados da década de 1970, por exemplo, chegou a abrir as portas da catedral do município do ABC para realização de assembleias de metalúrgicos em greve.

Vários representantes de comunidades católicas da capital assistiram à missa que abriu os ritos do funeral de dom Cláudio Hummes. Não havia autoridades na catedral. Junto ao altar foi colocada uma coroa de flores em nome do governador Rodrigo Garcia (PSDB).

Também visivelmente emocionada, a enfermeira Cristiane Aparecida Modollo, 42, foi até a catedral da Sé para prestar a última homenagem ao religioso. Integrante da comunidade Aliança Missionária, conheceu o então arcebispo de São Paulo. "Ele foi muito importante para nós", afirmou.

A missionária Iasmine Medeiros, 32, da comunidade Shalon, veio do Piauí para São Paulo em 2017 para ajudar na evangelização e contou que o legado de dom Cláudio sempre liderou o grupo.

O corretor de imóveis Nonato de Brito, 51, lembrou das férias do início deste ano, quando levou o cardeal para conhecer sua casa em Caraguatatuba, no litoral norte paulista. Os 12 anos que trabalhou como motorista do religioso deram intimidade suficiente para convidá-lo para um churrasco na praia.

"Rodamos uns 300 mil quilômetros juntos nestes anos todos e ele até me convidou uma vez para ir a Roma", afirmou ele, lembrando que foi dom Cláudio quem celebrou seu casamento na Catedral de São Mateus, na zona leste de São Paulo. "Ele me fez casar, pregava que era preciso", afirmou, dizendo que o cardeal também batizou sua filha, Isabela Cristina, hoje com 9 anos.

Há dez dias, Brito afirmou que correu até a casa de dom Cláudio, na região da Saúde, na zona sul, quando soube que o cardeal não estava bem. "Também falei com ele por telefone depois, era uma pessoa muito simples", contou ex-motorista, que, segundo ele, comemoram juntos aniversários na mesma festa. "Ele nasceu em 8 de agosto [de 1934] e eu no dia 3."

Natural de Montenegro, no interior gaúcho, dom Cláudio era torcedor do Grêmio, segundo o ex-motorista. "Mas aqui acho que gostava do Palmeiras."

A missa liderada por dom Odilo na noite desta segunda-feira foi a primeira de uma série de celebrações em homenagem ao cardeal. Nesta terça (5) serão oito, de duas em duas horas, entre às 6h e às 20h. Na quarta (6) serão mais três, também à partir das 6h, seguido de sepultamento na cripta da catedral.

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