Descrição de chapéu Obituário Rafael Almir Marcial Tramm (1939 - 2022)

Mortes: Generoso, defendia a simplicidade e a igualdade social

Autoditada, Rafael Tramm aprendeu nove idiomas e chegou a ser preso pela ditadura militar

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São Paulo

Rafael Tramm deixou um rastro de generosidade por onde passou. Ajudou e cuidou dos irmãos e sobrinhos, emprestou dinheiro aos amigos que necessitaram, arrumou emprego a quem pediu.

Assim, viveu seguindo os conceitos que pregava: simplicidade, igualdade social e amor ao próximo.

"Ele acreditava no potencial das pessoas e investia no que podia ajudar. Cuidou de mim a vida toda, me incentivou a estudar e a me tornar uma mulher independente", conta a psicóloga Marcia Mangabeira Gregio, 69, sua sobrinha.

Rafael nasceu e morreu no mesmo dia: 10 de julho. A morte ocorreu aos 83 anos, de septicemia.

Rafael Almir Marcial Tramm (1939-2022)
Rafael Almir Marcial Tramm (1939-2022) - Arquivo pessoal

Baiano de Salvador, Rafael perdeu o pai aos dois anos. Além da mãe, quem ajudou na sua criação foi a irmã mais velha, Ivonne Marcial Tramm —ele tinha ainda mais dois irmãos.

Autodidata, Rafael aprendeu inglês, alemão, russo, espanhol, italiano, francês, chinês, japonês e esperanto. Entrou na Petrobras em 1962 e trabalhou na empresa como tradutor-intérprete.

Em abril de 1964, foi preso por panfletar um documento contra o golpe militar. Chegou a ser solto depois de alguns meses, mas só passou um dia em liberdade, sendo detido novamente no dia seguinte. Dessa segunda vez, ficou quase um ano na prisão, mas não chegou a ser torturado.

Devido à perseguição da ditadura, mudou-se para São Paulo e abriu uma empresa de tradução. Após a redemocratização, foi readmitido pela Petrobras —ele se aposentou em 2016.

Ainda em sua atuação política, Rafael teve uma longa atuação na União Cultural pela Amizade dos Povos (antiga União Cultural Brasil-URSS). Na instituição, foi diretor a partir de 1971 e, desde 2009, presidente.

Rafael foi filiado ao PT e presidiu o diretório do partido da Vila Buarque, bairro na região central de São Paulo. Também redigia e financiava panfletos que distribuía em estações de metrô, universidades e manifestações de esquerda.

Rafael e Maria Leopoldina Morais Veiga, 56, professora e tradutora, eram amigos há cerca de 20 anos. Uma das lembranças que ela levará do amigo é o olhar sensível para o ser humano, em especial os humildes e em dificuldade financeira.

"Ele representou e incentivou a amizade entre os povos. Participou de todas pautas solidárias e de esquerda. Rafael adorava conversar com opositores, sempre de forma pacífica. Apresentava fatos históricos e políticos, e explicava o porquê seguia os ideais da esquerda. Ele dizia: ‘pode ser que eu não convença, mas planto uma dúvida na cabeça das pessoas’", afirma a amiga.

Solteiro, Rafael Tramm deixa a companheira, irmão e sobrinhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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