Descrição de chapéu Obituário Antonio Raul Borges Palmeira (1956 - 2022)

Mortes: Defensor público, abraçava as causas dos desvalidos

Antonio Raul Borges Palmeira, com 'voz de trovão', dedicou a vida a prestar assistência jurídica a quem não tinha acesso ao direito

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Salvador

No dia 23 de novembro de 2016, 181 anos após ser acusada de conspiração contra a Coroa Portuguesa, a ex-escravizada Luísa Mahin foi absolvida em um júri simulado pela Defensoria Pública da Bahia, que designou Antonio Raul Borges Palmeira para defendê-la.

A simulação colocou Mahin como ré sob a acusação de participar da Revolta dos Malês, levante ocorrido em 1835. Mãe do abolicionista Luís Gama (1830-1882), ela foi representada pela atriz Valdineia Soriano na ocasião.

Assim, Mahin acabou entrando para o rol das mais de mil participações em tribunais do júri deste advogado cuja carreira somou 40 anos.

Formado em 1979 pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, Palmeira foi empossado como defensor público em 1986. Desde então, dedicou a vida a prestar assistência jurídica a quem não tinha acesso ao direito, a exemplo do que preconiza a Constituição.

Antonio Raul Borges Palmeira (1956-2022)
Antonio Raul Borges Palmeira (1956-2022) - Arquivo pessoal

O mais velho dos filhos do casamento de Vilma com Joselino optou pela profissão para fazer gosto à mãe. "Ele foi aprovado em três cursos, de três universidades, mas escolheu o direito porque era o que nossa mãe gostaria de estudar", revelou a irmã Nadja Palmeira.

O homem alto e com "voz de trovão", como apelidado pelos colegas, era afeito à literatura, à história, ao teatro, às artes, com conhecimento das nuances processuais, da medicina legal e da alma humana, descreveu em artigo Rafson Ximenes, defensor público geral da Bahia.

"Era uma pessoa muita culta, inteligente, sensível, com um humor ácido, enorme senso de justiça, que amava viajar, sobretudo a Paris, que conhecia muito bem", lembrou a amiga e subdefensora geral Firmiane Venâncio, companheira de viagens de Palmeira.

Além da paixão pelo belo, não abria mão da típica comida baiana servida às sextas-feiras, um combinado à base de dendê: caruru, vatapá e moqueca. "Também amava carne de carneiro. Tanto que comemos por 14 dias na Turquia e prometemos passar um ano sem repetir", recordou, rindo.

Em 14 de junho, Palmeira foi encontrado morto no banheiro de casa, em Salvador, vítima de parada cardiorrespiratória. "Para a família foi uma surpresa, um susto, porque, inclusive, temos uma irmã cardiologista e ele nunca reclamou de nada", disse Nadja.

Foi cremado no dia seguinte, no cemitério Jardim da Saudade, ao som de Nina Simone e Édith Piaf. "Ele costumava falar que, no funeral dele, tocasse ‘Non, Je Ne Regrette Rien’, de Piaf. E ele foi do jeito que queria, sem dor, em um dia de chuva e vento", definiu Firmiane.

Nascido em Salvador no dia 10 de abril de 1956, Palmeira morreu aos 66 anos. Solteiro, sem filhos, deixou o pai, Joselino, os irmãos Nadja, Ricardo, José Raimundo, Dione, Cíntia, Aline e Gustavo, além de quatro sobrinhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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