Nunca desisti de procurá-la, diz irmã de mulher que passou 17 anos em cárcere privado

Mãe e dois filhos, de 22 e 19 anos, viviam em condições precárias no Rio e estavam subnutridos

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Rio de Janeiro

Irmã da mulher que passou 17 anos em cárcere privado com seus dois filhos no Rio de Janeiro, Maria (nome fictício), 42, disse que nunca deixou de procurá-la. A mulher, com os filhos de 22 e 19 anos, foram libertados nesta quinta-feira (28) pela polícia.

Os três eram mantidos em cárcere por um homem que foi pego após denúncia anônima. Policiais do 27º Batalhão da Polícia Militar, em Santa Cruz, libertaram o trio em Guaratiba, na zona oeste da cidade.

"Nunca desisti de procurar minha irmã. Consegui um suposto telefone dele que não atendia, depois procurei no Facebook até um dia que achei o telefone certo dele. Ele não queria contar onde estavam morando. Acho que ela viu meu número e gravou, porque ela conseguiu passar para a vizinha", conta a irmã.

A imagem mostra uma cozinha suja
A mãe e os dois filhos eram mantidos presos em uma casa de Guaratiba, na zona oeste do Rio - Reprodução/PMRJ

O homem acusado de encarcerar e maltratar os familiares foi preso e levado à 43ª Delegacia de Polícia. A Folha não conseguiu localizar sua defesa nesta sexta.

A polícia afirma que os três eram mantidos nessas condições havia 17 anos, sempre na mesma casa onde foram resgatados. Os dois jovens tinham aparência de criança por causa da desnutrição.

Segundo a irmã, a vítima e o agressor são primos de primeiro grau por parte de mãe. Ele, mais velho, é da Bahia, e ela, do Rio.

No começo da relação, quando o casal ainda morava no bairro Senador Camará, os familiares auxiliavam nas crises de ciúmes do marido, mas assim que nasceram os filhos o agressor decidiu sumir com a família, relata a irmã da vítima.

Vizinhos afirmam que a irmã, contra a vontade da vítima, avisou que iria ligar para a polícia e denunciar as condições em que se encontravam. Questionada se teria sido a responsável pela denúncia anônima, ela não comentou.

Nas imagens divulgadas pela polícia, são vistos sinais de subnutrição e violência física nos corpos das vítimas, relegadas a um ambiente escuro, pequeno, completamente revirado e com alta insalubridade, seja pelo chão sujo, seja pelas paredes mofadas.

A imagem mostra um quarto com panos jogados no chão
Cômodo em que vítimas eram mantidas em casa em Guaratiba, no Rio - Reprodução/PMRJ

A Folha esteve no local nesta sexta (29) e, ao ver o interior da casa pela única janela possível, identificou uma cama de ferro enferrujada, um colchão manchado e um pote de margarina com líquido amarelo ao pé. Lixos e sacolas estavam espalhados pelo chão sujo.

Vizinhos, que pediram para não ser identificados, relataram que nos últimos 20 anos foram raras as vezes que viram a mulher e os dois filhos.

Uma moradora da rua Nagid Assad, onde ocorreu o crime, conta que, inicialmente, eles ainda eram vistos no portão, cumprimentando as pessoas. Porém, depois de pouco tempo, não apareciam mais.

Outro morador afirma que o suspeito de encarcerar a família costumava, à noite, ligar o som no último volume e recusava pedidos de vizinhos para abaixá-lo.

Ambos relataram à reportagem que no último dia 20, por causa de uma falha no portão da casa da família vítima, a mulher do agressor conseguiu sair do imóvel para pedir socorro.

A vizinha afirma ter sido a primeira vez que a viu. A vítima a chamou e pediu que ligasse para a irmã dela.

Depois de algumas tentativas de acertar o número de telefone, a vítima conseguiu contatar a irmã mais velha e pedir para ser resgatada.

Mãe e filhos foram retirados de casa por uma ambulância do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e levados para o Hospital Municipal Rocha Faria, onde foram internados.

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