Indígenas denunciam escalada da violência e pedem proteção

Lideranças relatam seis assassinatos em dez dias e protestam em Brasília e Nova York

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São Paulo

Seis assassinatos entre os dias 3 e 13 de setembro levam lideranças indígenas a denunciarem uma escalada da violência contra os povos originários no Brasil. Os povos guajajara, guarani-kaiowá e pataxó vivem dias de luto devido a mortes ocorridas nesses dez dias.

Uma das vítimas foi um adolescente de 14 anos morto na madrugada do dia 4 na terra indígena Comexatibá, no sul da Bahia. Segundo o Mupoiba (Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia), uma aldeia pataxó foi atacada por pistoleiros. Na ocasião, outro indígena de 16 anos também ficou ferido.

Outra vítima foi Vitorino Sanches, 60, da etnia guarani-kaiowá, assassinado por pistoleiros no dia 13 em Amambai, no Mato Grosso do Sul, um mês e 13 dias depois de sobreviver a um ataque a balas na entrada da terra indígena da cidade.

Lideranças indígenas Txai Suruí, Samela Sateré-Mawé, Cristiane Pankararu e Toya Manchineri marcham até o Consulado do Brasil em Nova York em protesto contra o presidente Jair Bolsonaro
Lideranças indígenas Txai Suruí, Samela Sateré-Mawé, Cristiane Pankararu e Toya Manchineri marcham até o Consulado do Brasil em protesto - Kamikia Kisedje/Apib/Divulgação

Na manhã do dia 15, indígenas de nove povos e quatro estados participaram de uma marcha em Brasília para denunciar os assassinatos.

Segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), em Brasília o grupo de 120 indígenas pediu proteção às lideranças de comunidades ameaçadas e solicitou ao STF (Supremo Tribunal Federal) a conclusão do julgamento do caso de repercussão geral sobre demarmações de terras indígenas, suspenso desde setembro de 2021.

O caso em julgamento discute uma reintegração de posse contra o povo Xokleng, em Santa Catarina, mas a decisão terá consequências para todos os povos indígenas do país.

Para as lideranças indígenas, a paralisação das demarcações e o desmonte de mecanismos de fiscalização e proteção territorial agravam os conflitos e a violência.

Em Nova Iork, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursava na Assembleia-Geral da ONU, na manhã de terça-feira (20), um grupo de sete lideranças indígenas da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) puxou uma marcha até o Consulado do Brasil.

O grupo criticou o desmonte da Funai (Fundação Nacional do Índio) e de órgãos ambientais e protestou contra assassinatos e conflitos em territórios indígenas, além de denunciar a explosão de desmatamento e das queimadas no país.

Nesta quarta-feira (21), o líder Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib, discursou para apoiadores da causa indígena em evento da Semana Climática de Nova York e falou sobre o cenário de violência no Brasil.

"Temos lideranças indígenas sendo assassinadas todos os dias. Estamos vivendo uma escalada da violência promovida pelo governo brasileiro", disse.

OUTROS CASOS

No Maranhão, dois indígenas guajajara da terra indígena Arariboia foram assassinados na madrugada do dia 3 de setembro. Um dos mortos, Janildo Oliveira Guajajara, era "guardião da floresta". Ele foi morto com tiros nas costas no município de Amarante do Maranhão.

Os "guardiões da floresta" atuam para proteger a Arariboia da invasão frequente de madeireiros e caçadores. As terras indígenas do Maranhão sofrem invasões de grileiros e madeireiros há décadas e desde 2007 os "guardiões" agem por conta própria.

A imagem colorida mostra um homem vestido de preto e fazendo de V com os dedos
O 'guardião da floresta' Janildo Oliveira Guajajara - Reprodução/redes sociais

Em Arame, também no dia 3, Jael Carlos Miranda Guajajara foi encontrado morto às margens de uma rodovia que corta o território chamado Jacaré. O corpo tinha marcas de espancamento.

Uma semana depois, na madrugada do dia 11, Antônio Cafeteiro Sousa Silva Guajajara, da aldeia Lagoa Vermelha, foi morto a tiros em uma estrada também no município de Arame, perto da terra indígena Arariboia.

No Mato Grosso do Sul, uma jovem guarani-kaiowá da aldeia Jaguapiru, que faz parte da reserva indígena de Dourados, foi assassinada e seu corpo foi encontrado uma semana após ela ter desaparecido.

O relatório "Violência contra os Povos Indígenas no Brasil", do Cimi, mostra em que no ano passado 176 indígenas foram assassinados no país.

"O aumento de invasões e ataques contra comunidades e lideranças indígenas e o acirramento de conflitos refletiram, nos territórios, o ambiente institucional de ofensiva contra os direitos constitucionais dos povos originários", diz o documento.

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