Indígenas protestam em Nova York durante discurso de Bolsonaro na ONU

Lideranças pedem financiamento sem intermédio de governos para apoiar conservação da biodiversidade

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Nova York

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursava na Assembleia-Geral da ONU, na manhã desta terça-feira (20), um grupo de sete lideranças indígenas da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) puxou uma marcha até o Consulado do Brasil em Nova York, a alguns quarteirões da sede da ONU.

O protesto foi acompanhado por indígenas de outros países, reunidos pela Aliança Global de Comunidades Tradicionais, e também não indígenas integrantes de ONGs e movimentos internacionais, com pouco mais de 30 pessoas.

Lideranças indígenas Txai Suruí, Samela Sateré-Mawé, Cristiane Pankararu e Toya Manchineri marcham até o Consulado do Brasil em Nova York em protesto contra o presidente Jair Bolsonaro
Lideranças indígenas Txai Suruí, Samela Sateré-Mawé, Cristiane Pankararu e Toya Manchineri marcham até o Consulado do Brasil em Nova York em protesto contra o presidente Jair Bolsonaro - Kamikia Kisedje/Apib/Divulgação

"Bolsonaro, quanto você ganha para deixar nossas florestas queimarem?", dizia o coro, puxado em inglês, durante a marcha.

Brasileiros revezaram o alto-falante em críticas ao desmonte na Funai e nos órgãos ambientais, aos assassinatos e conflitos em territórios indígenas e à explosão do desmatamento e das queimadas no país.

Em frente ao consulado, o protesto encontrou um grupo de sete apoiadores do presidente, vestidos de verde e amarelo, mas evitaram a interação. Dois indígenas brasileiros relataram à Folha terem ouvido acusações vindas do grupo bolsonarista —como a de serem indígenas fajutas por usarem celulares—, mas preferiram não reagir às falas.

"Bolsonaro veio para mentir na ONU, para dizer que o Brasil está cuidando das suas florestas, então nós fomos até o consulado para desmenti-lo e denunciar o genocídio e a destruição ambiental que estamos vivendo", disse Samela Sateré-Mawé, que compõe a comunicação da Apib.

Ao lado de Samela, também integravam o protesto as lideranças Txai Suruí, colunista da Folha, Cristiane Pankararu e Toya Manchineri.

Na fala de abertura na ONU, o presidente fez breve menção aos povos indígenas. Disse que é fundamental cuidar do meio ambiente, mas que também é preciso "não esquecer das pessoas".

"A região amazônica abriga mais de 20 milhões de habitantes, entre eles indígenas e ribeirinhos, cuja subsistência depende de algum aproveitamento econômico da floresta", afirmou.

Os movimentos indígenas reunidos pela Aliança Global de Comunidades Tradicionais devem fazer outros protestos ao longo da Semana do Clima de Nova York, que começou na segunda (19) e vai até domingo (25).

O principal pedido da articulação à comunidade internacional é a criação de um mecanismo de financiamento direto para os povos indígenas, sem intermédio de governos nacionais, para apoiar a conservação da biodiversidade nos seus territórios.

A expectativa é que a pressão feita em Nova York dê força a medidas práticas que podem ser decididas em duas conferências da ONU previstas para o final deste ano: a COP27 do Clima e a COP15 da Biodiversidade.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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