Descrição de chapéu Obituário Angelo Arthur de Miranda Fontana (1929 - 2022)

Mortes: Advogado especialista em seguro sobreviveu a dois incêndios

No edifício Andraus, em 1972, Angelo Arthur de Miranda Fontana escapou do fogo por uma janela

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Paulo Luís Alves
São Paulo

Dizem que gato tem sete vidas. Algumas pessoas parecem imitar esse modo de vida, nem tanto porque gostam do risco, mas porque gostam da vida.

Um destes foi Angelo Arthur de Miranda Fontana, advogado, especialista em seguro (sem ironia). Natural de Barbacena, Minas Gerais, veio jovem para a capital paulista estudar direito na Faculdade do Largo de São Francisco, da USP.

Depois de poucos anos, conheceu, apaixonou-se e casou-se com Lygia Gyannasi Lima Fontana –também forasteira, vinda de Bebedouro. Tiveram seis filhos, igualando a família em que Angelo cresceu, três meninos e três meninas.

A imagem mostra um senhor de pele clara, óculos e camisa branca numa sala parcialmente clara
Angelo Arthur de Miranda Fontana (1929-2022) - Arquivo pessoal

A dupla Angelo e Lygia era naturalmente cativante. Desde os tempos da Juventude Universitária Católica, onde se conheceram, havia sempre carinho e cuidado pelos muitos amigos que iam colecionando ao longo da vida.

Ele foi diretor de empresas seguradoras por cerca de 30 anos e estava no escritório no edifício Andraus em fevereiro de 1972. Foi testemunha ocular de um dos grandes incêndios da história da cidade de São Paulo.

Escapou por uma janela, descendo por uma escada instalada pelos bombeiros sobre um vão de oito metros até o prédio vizinho, junto com outros sobreviventes.

Pouco mais de 20 anos depois, viu atônito sua própria casa passar por um incêndio que destruiu parte do imóvel, por sorte sem vítimas. Salvo pelo nome?

Em paralelo às atividades profissionais, mantinha um produtivo laranjal herdado do sogro no interior de São Paulo e, ali, também deixou sua marca, capitaneando a mudança do distrito local em município, na esteira do bom momento na exportação de suco de laranja das décadas de 1980 e 1990.

Pouco tempo depois, voltando do Rio de Janeiro de avião, sofreu um pequeno AVC, sem consequências imediatas, mas que levou ao diagnóstico de um angioma cerebral.

Devido ao risco de morte por um provável segundo sangramento, foi convencido a passar por uma cirurgia. Esta revelou-se difícil, danada mesmo. Foram 24 horas e por pouco que as coisas não acabaram ali mesmo. Uma sequela que dificultava a comunicação o obrigou a se aposentar aos 62 anos, no auge da carreira.

O vocabulário a partir de então um tanto mais restrito foi compensado por uma simpatia transbordante. Uma das suas atividades preferidas era manter contato com seus colegas de São Francisco, celebrar o 11 de agosto e enaltecer a faculdade.

Na primeira década do novo milênio, passou por mais duas perdas —seu filho do meio e, depois, sua esposa, ambos de câncer.

A última década de Angelo foi ainda pontilhada por certo deslumbramento com a vida, rodeado pelos cinco filhos, dez netos, inúmeros amigos e parceiros.

A pandemia atrapalhou a convivência com os entes queridos, e parece que ele esperou completar 93 anos e conhecer sua bisneta recém-nascida para, como quem encerra um ciclo, partir para outra. Apenas um passo, para quem viveu tantas vidas em uma.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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