Apaixonado por formigas, o professor Walter Hugo de Andrade Cunha foi um pioneiro do estudo do comportamento animal, campo da biologia conhecido como etologia.
Nascido na zona rural de Santa Vitória (MG), era o sexto entre os sete filhos do professor de matemática José de Andrade Santos e a fazendeira Euclides de Andrade Cunha.
Viveu na fazenda até os cinco anos e depois, em Uberlândia, antes de se mudar para São Paulo no fim de 1938. Na capital paulista, se formou em 1956 em filosofia na USP —durante o curso, começou a se interessar pela psicologia.
Enquanto funcionário da divisão psicotécnica da CMTC (Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos), questionou os critérios adotados pela empresa para a contratação de motoristas. Ele descobriu que o funcionário com respostas mais rápidas, um dos critérios para a seleção, causava mais acidentes de trânsito.
Em 1957, Walter foi convidado para ser professor de psicologia na USP. Permaneceu na instituição até 1980.
Em 1960, fez estudos de pós-graduação em psicologia experimental na Graduate School of Kansas (EUA). Ao voltar ao Brasil, passou a dar aulas de psicologia comparativa e animal. Fez doutorado na própria USP, estudando suas amadas formigas.
Walter foi pioneiro no ensino e na pesquisa em psicologia animal, e criou o Laboratório de Psicologia Comparada do Instituto de Psicologia da USP. Foi também o primeiro professor desta disciplina no país.
Assim, ajudou a formar gerações de pesquisadores nas áreas de etologia e psicobiologia em diversos centros de pesquisa do país. Atual professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Jayro Motta foi aluno de Walter durante sua pós-graduação, no início da década de 1970.
"A aula dele era diferente. Enquanto nas outras disciplinas tínhamos artigos em inglês para traduzir, a do Walter se baseava na observação. Era uma reunião semanal no laboratório com a observação das formigas saúvas, que deveria ser relatada em um caderno", conta.
"Um lado da página era do aluno e o outro, dele. Lá, fazia correções, anotações, perguntas e incitava a nossa reflexão. Assim, ele ia modelando o nosso comportamento de observar. Sem esquecer que ele era o único professor que, com jeitinho, mas de modo sistemático, apontava erros e corrigia o menor deslize de português", afirma Jayro.
Walter recebeu em 2015 o título de professor emérito da USP. "Pedi ao Walter que escrevesse o prefácio de um livro meu e descobri que, mesmo com suas importantes contribuições, não era um professor emérito. Fiz uma campanha e consegui que a USP concedesse o título a ele", diz Jayro.
Walter morreu dia 29 de agosto, aos 92 anos. A causa da morte não foi informada. Viúvo, deixa trê s netos.
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