O jurista Antônio Ignácio Angarita Ferreira da Silva sempre foi um guia, tanto para sua família quanto para seus alunos da FGV (Fundação Getulio Vargas), onde foi fundador de duas escolas: a de Administração de Empresas de São Paulo, em 1954, e a de Direito de São Paulo, em 2002.
"Meu pai tinha alma de professor. O que também levava para casa. Foi uma pessoa muito amada e admirada por todos os seus valores", diz Caio Cavalcante Angarita Silva, um de seus três filhos.
Angarita nasceu no Amazonas em 31 de julho de 1926. Gradou-se em ciências jurídicas e sociais pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), em 1950, e desenvolveu toda a sua carreira em São Paulo.
Além de professor-fundador, foi diretor, de 1963 a 1964, da Escola de Administração de Empresas da FGV.
Deixou amigos por onde passou, e a paixão pela democracia atraiu muitos admiradores. Nunca deixou de dividir seu tempo com todos.
Gostava de uma boa conversa, e ainda mais de divergências que o fizessem refletir. Refletia, nem sempre compreendia, mas sempre dizia aprender algo.
O respeito ao jurista unia a todos, independentemente de posicionamentos, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à ex-prefeita da capital paulista Luiza Erundina, que descreveu Angarita como um parceiro extraordinário.
Participou, com sua habilidade de conciliação, do esforço para redemocratizar o Brasil.
O anseio democrático o levou à administração pública do estado de São Paulo, ocupando cargos como o de secretário de Governo e Gestão Orçamentária na gestão de Mario Covas (PSDB).
Também presidiu a antiga Viação Aérea de São Paulo (Vasp).
O jurista também foi figura destacada no projeto, articulação e autorização orçamentária para a criação dos Poupatempos, em São Paulo.
Oscar Vilhena Vieira, professor da FGV e colunista da Folha, por anos conviveu com Angarita. Para ele, o amazonense foi um dos poucos que conseguiu unir o ideal de prosperidade e avanço na área econômica à inclusão e defesa ferrenha dos direitos humanos.
"Já bem velhinho, eu o encontrei. Ele andava meio desanimado, e perguntei o motivo. Ele disse: ‘Vejo que no debate político atual falta um pouco de ideal’. Logo perguntei que ideal seria aquele, e ele disse: 'Ainda sou um socialista’. Foi um socialista dos mais críticos, que nunca se conformou com o Estado, mas tinha a graça de se afirmar assim", conta Vilhena.
Antônio Ignácio Angarita Ferreira da Silva morreu no dia 30 de agosto, aos 96 anos. Ele deixa dois filhos, Fábio e Caio. A esposa, Isabel, e sua terceira filha, Marta, já faleceram.
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