Descrição de chapéu Obituário Maria Jesus (1920 - 2022)

Mortes: Adotou o Rio e ensinou carinho e determinação à família

Maria Jesus encontrou no trabalho a ferramenta para superar dificuldades

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São Paulo

Em agosto de 1954, o Brasil se chocou com o último ato do presidente Getúlio Vargas. Longe do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, outra história estava no começo. Maria Jesus, 34, havia chegado de Portugal no Corrientes, vapor saído de Gênova, na Itália, em abril daquele ano.

Sua primeira casa brasileira foi no porão de um prédio de Higienópolis, bairro do subúrbio carioca. A jovem portuguesa trabalhou com serviços domésticos e era responsável, junto com o marido, Eduardo Augusto Ferreira, por manter o edifício organizado.

O casal se conheceu ainda em Portugal, em 1937, em um sanatório da cidade de Caramelo, em que ambos trabalhavam.

Até ali, o trabalho já era conhecido de Maria Jesus.

Senhora idosa sentada em cadeira, tem expressão serena, é branca e tem cabelos curtos brancos
Maria Jesus (1920-2022) - Arquivo pessoal

Nascida em 1920 no distrito de Vizeu, no interior de Portugal, só conseguiu se alfabetizar porque começou a trabalhar aos oito anos e, durante um período, ajudou na casa de uma professora.

Por toda a sua vida, o trabalho seria um meio de garantir a subsistência, criar os quatro filhos e superar as adversidades. Casou-se aos 19 anos com Eduardo, em 1939, sem mudar o nome, e seguiu trabalhando com a família em diversas atividades, como quebrar pedras em minas.

A Segunda Guerra Mundial talvez tenha sido uma das maiores dificuldades para Maria Jesus. O conflito forçou o deslocamento de sua família pelo interior até chegar à capital Lisboa, sempre seguindo em frente, como lembra sua neta, Marcia Ferreira.

"Nunca a vi reclamar ou chorar, sempre dizia ‘siga em frente, tudo passa’, era extremamente colaboradora. Sempre doava, entregava e dividia tudo", diz Marcia.

Em 1950, o marido Eduardo viajou ao Brasil em busca de uma vida melhor, e Maria Jesus ainda permaneceu por quatro anos em Portugal, trabalhando em plantações de pinheiros e abrindo estradas.

Em todos os ofícios, principalmente os de matriarca, Maria dedicou seu espírito de coletividade ao cuidado com o outro. O amor a tornou adorada pelos vizinhos em um condomínio na Vila Valqueire, na zona oeste carioca, onde viveu até o fim de sua vida.

Mesmo com a perda do marido em 2001, continuou a se doar à família e a frequentar missas enquanto pôde.

Maria Jesus morreu em 5 de outubro, aos 102 anos, devido a uma isquemia na região do intestino.

Além das lições de serenidade e amor, deixa quatro filhos, oito netos e dez bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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