Descrição de chapéu Obituário Vicente Silvério Rios (1954 - 2022)

Mortes: Dedicou-se a retratar a Amazônia e os povos indígenas

Vicente Silvério Rios preocupava-se em transmitir a verdade por meio do seu trabalho

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São Paulo

Apaixonado por filmes, Vicente Rios queria trabalhar com cinema desde criança. Como não tinha o apoio e a compreensão da família, aos 14 anos, saiu de casa para investir na profissão. De carona, chegou ao Rio de Janeiro e iniciou os primeiros trabalhos.

Ele chegou a passar por São Paulo, mas foi na Amazônia que escreveu a sua história como um dos mais importantes cinegrafistas das últimas décadas.

Ao lado de sua fiel companheira, a câmera, Vicente foi quem melhor retratou a Amazônia, seus contextos sociais e políticos, o desmanche da floresta, as tragédias, as belezas e os povos indígenas.

Vicente Silvério Rios (1954-2022) ao lado de um índio durante filmagem
Vicente Silvério Rios (1954-2022) ao lado de um índio durante filmagem - Arquivo pessoal

Nascido na roça no município goiano de Guapó, desde pequeno o pai lhe atribuía muitas responsabilidades e desejava que cursasse uma faculdade.

Ainda em Goiás, teve o primeiro contato com o documentarista Adrian Cowell (1934-2011). Segundo o advogado Nilson Rios, 38, um dos filhos, os dois foram apresentados no começo dos anos 1980.

"Um dos câmeras de Cowell se afastou por problema familiar e ele o convidou para substituí-lo. Foi no início das filmagens de 'A Década da Destruição'. A parceria dos dois durou mais de 30 anos", conta.

Na série, o cinegrafista dividiu a direção com Cowell. Um dos episódios, "Chico Mendes: Eu quero viver", retrata a trajetória do líder seringueiro no Acre, em defesa da Amazônia, até seu assassinato e as repercussões no Brasil e no mundo.

Vicente colecionou prêmios nacionais e internacionais, entre os quais o Global 500 da ONU (Organização das Nações Unidas), de 1987, e o Chico Mendes de Meio Ambiente, na categoria arte e cultura, em 2007. Em 24 de abril do ano passado, recebeu do Conselho Universitário da Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros) o título de doutor honoris causa.

Atuou ainda como curador e coordenador do acervo do cineasta inglês, Adrian Cowell, doado à PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Goiás, e na coordenação do acervo do fotógrafo, antropólogo, escritor e documentarista Jesco von Puttkamer (1919-1994) —ambos os acervos retratam a memória ambiental, indígena, histórica e política do país.

Sério e introspectivo, Vicente preocupava-se em transmitir a verdade por meio do seu trabalho. E, apesar de reconhecer a sua importância, nunca teve vaidade.

"Meu pai está na lembrança de quem ele filmou. Que esse legado fique para desvendar ao brasileiro uma parte da história da Amazônia."

Vicente morreu dia 28 de setembro, aos 68 anos, de câncer no esôfago. Deixa a esposa Alice Helena, os filhos, Nilson e Carolina, e um acervo valioso para o audiovisual brasileiro.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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