A vida de Charles Correia da Cruz, o Chaleira, é um resumo de algumas das maiores paixões dos brasileiros: Carnaval, futebol e churrasco.
Filho de Juarez da Cruz, o fundador da escola Mocidade Alegre, o ritmista nasceu no samba.
Durante mais de 50 anos, foi referência até para integrantes de baterias de outras agremiações do Carnaval de São Paulo.
A mesma habilidade que esbanjava com as mãos ao tocar seu repinique, tinha nos pés, quando entortava um adversário. Atacante dos bons, desfilava seus dribles no futebol de várzea como um passista na avenida.
A logística do açougue do pai foi seu ganha-pão durante anos. E carne é o que nunca faltou nos churrascos na chácara da família em Itaquera, zona leste de São Paulo, que reuniam também músicos e integrantes de escolas do Rio —dona Zica, a viúva de Cartola e uma das maiores personalidades da velha guarda da Mangueira, e o cantor Monarco, da Portela, soltaram a voz lá, como contam as histórias da festa.
"Ele era muito considerado nas escolas do Rio de Janeiro por causa das raízes da família", afirma o amigo de mais de 50 anos Hugo César Dias, o Hugo Santana, 63, em referência ao pai de Chaleira.
Carismático, o fato de ser torcedor do Palmeiras —outra herança da família— não o impediu de desfilar pela Gaviões da Fiel, da torcida organizada do Corinthians. Como fez em outras agremiações paulistanas desde que teve um desentendimento na Mocidade Alegre, no início dos anos 2000. Na última década, Chaleira integrava principalmente a bateria da Império de Casa Verde.
Mas nem só de alegria foi a vida do sambista. Ele teve Covid-19 duas vezes, sendo que na primeira precisou ser internado em um hospital de campanha em Santo André, no ABC.
O período sem Carnaval durante a pandemia, porém, serviu para que aparasse as arestas e em 2022 retornasse para a bateria da Mocidade Alegre. " Ao lado do sobrinho Thomas, ele ficou muito emocionado, pois havia voltado para casa", diz Santana.
Morador na região do Limão, na zona norte, Chaleira também tinha um apartamento na Praia Grande, na Baixada Santista, para onde ia toda semana.
No início da tarde do feriado de 12 de outubro, sentiu-se mal. Mas não procurou médico e logo depois participou de um samba com os amigos.
À noite, ao voltar para casa após levar suas duas cachorras para passar na praia, "seu repinique parou" de repente. Chaleira caiu ao abrir a porta, vítima de infarto fulminante.
O velório reuniu uma multidão durante a madrugada do dia 14 na Morada do Samba, a quadra da Mocidade Alegre na Casa Verde, também na zona norte paulistana.
Charles Correia da Cruz, o Chaleira, morreu aos 67 anos. Deixou a mulher Tatiana, sete irmãos e 15 sobrinhos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.