Falar de tudo a todo tempo era um talento de Berg Silva. Mais do que isso, era uma de suas formas de cativar a audiência, fosse em uma aula aberta ou no balcão do Bar do Costa, na zona norte do Rio.
Famoso pela fotografia, também foi professor, agitador cultural, pai, marido e fundador de bloco de Carnaval, além de boêmio.
"Ele falava de mais-valia para o garçom e eu, mesmo historiadora, me coloquei no lugar de aluna, olha isso", lembra Sonia, 55, mulher de Berg.
"Jovem, preto, pobre e periférico, ele entendeu que com estudos conseguiria romper o que é pensado para a gente, filho da classe trabalhadora", diz ela.
Nascido em Vicente de Carvalho, no Rio, Berg começou a estudar história na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), mas foi convidado a se retirar da instituição por sua militância estudantil.
Terminou a graduação em 1991 na Universidade Federal Fluminense e tornou-se mestre em 1992 pela UFRJ, partindo para a sala de aula. Em 1994, nasceu Carolina Aleixo, filha de seu primeiro casamento.
Quatro anos depois, aconteceria seu contato com a fotografia. "A maior paixão da vida dele", afirma Carolina.
O encontro foi no trabalho de laboratório para o fotógrafo João Roberto Ripper, no Imagens da Terra, projeto criado para denunciar problemas sociais. No fim da experiência, Berg ganhou sua primeira câmera e começou a fotografar em sindicatos.
Foi nas passagens pelos jornais cariocas Dia e O Globo que a paixão pela foto se conectou às memórias das cozinhas da mãe e da avó e do trabalho como garçom na adolescência.
Iniciante nas Redações, era deslocado para pautas de bairro. "Ele dizia ‘já que vim para a Baixada e tem um boteco legal, pô, vou fazer uma foto da cana, de uma sardinha com cerveja gelada’ e virou referência", afirma Sonia.
"Por muitos anos eu podia chegar a um restaurante, olhar o cardápio e saber que as fotos eram dele", diz a filha Carolina.
Seu último projeto nasceu com o mesmo interesse de todos os outros. Sonia foi visitar o pai na Paraíba, contou a Berg sobre uma torra de farinha e, em seguida, ele já agitava um livro para contar o manejo do produto.
O projeto deve ser concluído por Sonia e Carolina, porque o tempo foi pouco. Berg Silva morreu no dia 1º deste mês, aos 56 anos, por complicações no fígado.
O gurufim, brincadeira que se segue ao velório, foi regado a cerveja e Carnaval, como merecido. Deixa a mulher, Sonia, e a filha, Carolina.
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