Vizinha perseguia humorista Eddy Junior sem motivo, afirmam moradores

Artista foi alvo de ofensas racistas em prédio onde mora em SP; defesa diz não ter sido notificada

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São Paulo

Moradores do condomínio onde o humorista e músico Eddy Junior, 27, foi alvo de insultos racistas, na madrugada de terça (18), reforçam que a investigada pelo crime persegue gratuitamente o artista desde que ele se mudou para o local, na zona oeste da capital paulista, em abril deste ano.

O artista divulgou em suas redes sociais vídeos que mostram Elisabeth Morrone, 69, o chamando de macaco. Nas imagens, ela também se nega a entrar no elevador ao lado dele.

O músico Eddy Junior, que foi alvo de ataques racistas - @oficialeddy no Instagram

A aposentada foi multada em R$ 4.500 e corre o risco de ser expulsa do condomínio. O advogado dela, Fermison Guzman Moreira Heredia declarou que "a defesa e a investigada não tiveram acesso a qualquer notificação formal das autoridades" e que só irão se manifestar quando tiverem "acesso às alegadas provas".

A delegada Daniela Branco instaurou um inquérito e disse que testemunhas estão sendo identificadas e as imagens das câmeras, analisadas. Nos próximos dias, ainda segundo ela, Morrone será chamada para prestar depoimento no Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).

O administrador de empresas Gustavo Pedrosa, 54, foi um dos primeiros moradores a se mudar para o condomínio da Barra Funda, no início de 2019. Eddy passou a ser seu vizinho de parede em abril deste ano e, segundo Pedrosa, nunca fez barulho algum, como foi afirmado pela idosa para justificar suas ofensas ao artista.

"Não há nenhum tipo de verdade no que essa senhora alega como motivação para os atos horríveis que ela propiciou, de racismo completo."

Ele afirmou ter sido acordado, entre as 3h e as 4h do dia 1º, quando Elisabeth e o filho dela passaram a gritar ofensas e ameaças contra Eddy, em frente ao apartamento do músico. Somente quando funcionários do prédio chegaram ao quinto andar o administrador teve coragem para abrir a porta de casa. Foi aí que ele entendeu o que acontecia —segundo ele, o tom dos gritos era de "descontrole."

Eddy Junior então explicou, de acordo com o administrador, que Elisabeth e o filho dela, Marcus, já o haviam ofendido com palavras racistas anteriormente. Além disso, acrescentou Pedrosa, Eddy mencionou que a idosa também duvidava de que o artista tivesse condições financeiras de morar no condomínio.

A reportagem apurou que o valor dos apartamentos varia de R$ 600 mil a R$ 2 milhões.

O publicitário Humberto Pacheco, 35, mora em frente ao apartamento de Eddy e afirmou que, no dia 1º, também foi acordado com os gritos de Elisabeth e do filho dela. Ele mora no local desde outubro de 2020 e também afirmou nunca ter tido problemas com Eddy.

"As únicas vezes em que tive problemas com barulho foram justamente com eles [Elizabeth e Marcus], xingando", ressaltou Pacheco.

No dia 7, o publicitário afirmou que acordou com o barulho feito por mãe e filho. "Ouvi ele chutando a porta, falando que ia matar o Eddy. Este foi o dia em que ele estava com a faca. Foram palavras bem duras e deixou um pânico ali no andar."

Câmeras de monitoramento registraram o homem segurando uma faca. Em dado momento, ele chega a cravar a arma em uma parede, ao lado do elevador. O golpe deixou uma marca, como foi verificado pela reportagem no local, na tarde desta sexta.

Eddy registrou um boletim de ocorrência contra os dois no próprio dia 7. Sobre as ameaças e ofensas do dia 1º, o síndico do condomínio registrou outro boletim de ocorrência.

O administrador Gustavo Pedrosa afirma que o caso impactou todos os moradores do condomínio.

"É gratificante ver que um caso deste não passou em vão. Houve da parte dos condôminos uma revolta grande e um apoio forte ao Eddy. Espero que este comportamento nosso sirva de exemplo para coibir este tipo de atitude no futuro."

Pedrosa disse ainda esperar que Elisabeth e o filho dela se sintam constrangidos "em um ambiente em que não são bem quistos" e procurem outro lugar para morar. "Estes dois não têm condições de conviver em sociedade. Eles são uma ameaça a quem está no entorno deles, espero que a Justiça faça a parte dela."

Moradores abordaram a reportagem espontaneamente para ressaltar que Eddy é um bom vizinho, reforçando a agressividade da aposentada.

Uma adolescente afirmou que a idosa já chegou a jogar água em crianças que brincavam no pátio do condomínio, sem qualquer motivo para isso.

No fim da tarde desta quinta (20), houve um protesto em frente ao condomínio, com cartazes contra o racismo fixados na fachada do local.

O Ministério Público disse que entrou em contato com a advogada de Eddy, Carol Novaes, para que ela compareça ao Gecradi (Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância). A defesa do artista afirmou que pretende ajuizar uma ação de reparação por danos morais contra a aposentada.

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