Andar com arma apontada para a frente, como fez Zambelli, contraria técnica policial

Coronel da reserva da PM diz que policiais se deslocam com arma apontada para baixo para não pôr pessoas em risco

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) não deveria andar com uma arma apontada para a frente, segundo protocolos usados pela polícia, como fez na tarde deste sábado (29), nos Jardins, zona oeste de São Paulo. Isso mesmo que estivesse em uma situação de perigo ou fosse para prender alguém.

A congressista sacou uma arma e apontou para pessoas, o que gerou correria no cruzamento das alamedas Joaquim Eugênio de Lima e Lorena. Nas suas redes sociais, ela disse ter sido agredida.

Um vídeo mostra a deputada federal em passos rápidos com a arma apontada para a frente enquanto um homem entra em um bar.

Segundo o coronel da reserva da PM Alan Fernandes, professor da FGV e da corporação e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Público, quando vão fazer um deslocamento, sobretudo correndo, policiais colocam o armamento no coldre.

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) com arma apontada para a frente na tarde deste sábado (29) em frente a um bar nos Jardins, zona oeste de São Paulo - Reprodução

De acordo com o especialista, que comandou batalhão da PM na zona leste de São Paulo, se não estiver no coldre, a arma deve estar apontada para baixo, em posição sul, e colada próxima à pessoa.

"A técnica policial diz que você não corre com uma arma daquela [como a da deputada]. A gente ensina nas escolas [de polícia] para não se fazer isso", afirma. "Mas as pessoas que contam somente com o porte, e não são da polícia, não têm esse tipo de noção."

Fernandes usa como exemplo um vídeo que mostra policiais militares correndo atrás de um grupo suspeito de fazer um arrastão no viaduto da rua Comandante Taylor, no Sacomã, na zona sul, em novembro do ano passado.

Imagens de uma câmera de monitoramento e outra do colete de um dos agentes, mostram dois PMs correndo com pistolas na mão, mas apontadas para baixo.

Na hora da rendição, é possível ver o agente mandando o suspeito deitar no chão, mas o homem tenta lutar contra outro policial e acaba sacando uma arma, que depois foi identificada como uma réplica. Neste momento, o policial efetua os disparos. O suspeito foi morto.

"A arma tem que estar de uma maneira que não coloque ninguém em risco, ou seja, não para a frente", afirma o coronel da reserva.

Vídeo deste sábado mostra que a deputada entra na lanchonete apontando a arma para o rapaz.

A deputada disse que, antes de entrar no estabelecimento, atirou para o alto após ter sido agredida.

Em entrevista à Folha, a deputada disse que um homem negro, bastante exaltado, a ofendeu com palavrões.

"Eu estava almoçando com meu filho no bar, um homem começou a me xingar e falar que o Lula iria ganhar. Eu tenho porte federal de armas, [mostrei] até para ele parar", disse a deputada à Folha.

"Com certeza [motivação política partidária], ficou gritando Lula, dizendo que Lula vai ganhar. Me chamou de burra, vagabunda, prostituta", contou. "Várias pessoas ficaram olhando, tenho como provar com testemunhas."

Na sequência, Carla atravessa a rua com a arma em punho, entra no bar e manda o homem deitar no chão. "Você quer me matar para quê?" pergunta o homem sob a mira da deputada.

Em outro vídeo, o mesmo homem aparece discutindo com Zambelli na calçada. A deputada cai no chão, levanta e sai correndo atrás dele junto com outro homem armado. É ouvido um disparo.

O homem negro grita por socorro e depois foge correndo pela rua.

Segundo legislação eleitoral, o porte de arma e de munição é proibido nas 24 horas que antecedem e sucedem o dia de votação. Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovada em setembro determina que o descumprimento da regra pode acarretar prisão em flagrante por porte ilegal.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.