Descrição de chapéu Eleições 2022

Carla Zambelli diz ter atirado para o alto após ter sido xingada por lulista; veja vídeos

Em vídeo compartilhado nas redes sociais, deputada federal atravessa a rua com arma em punho e manda homem se deitar no chão; ela afirma que vai votar armada neste domingo

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São Paulo

A deputada federal Carla Zambelli (PL) disse que atirou para o alto e perseguiu um homem após ser xingada em frente a um restaurante nos Jardins, na zona oeste de São Paulo na tarde deste sábado (29).

Ela, então, perseguiu o homem armada até um bar próximo dali. As imagens estão sendo compartilhadas em vídeo nas redes sociais.

Segundo legislação eleitoral, o porte de arma e de munição é proibido por colecionadores, atiradores desportivos e caçadores nas 24 horas que antecedem e sucedem o dia de votação. Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovada em setembro determina que o descumprimento da regra pode acarretar prisão em flagrante por porte ilegal.

A deputada, no entanto, diz que ignorou a resolução de forma conscientemente por se tratar de uma determinação ilegal a seu ver. "Não é lei, a resolução é ilegal, e ordens ilegais não se cumprem. Conscientemente estava ignorando a resolução, e continuarei ignorando a resolução do doutor Alexandre de Moraes, porque ele não é legislador. Ele é, simplesmente, o presidente do TSE e um membro do STF", disse Zambelli aos jornalistas, ainda na frente do restaurante.

Zambelli afirma ter o porte de arma federal para defesa pessoal e patrimonial, que é expedido por um delegado da Polícia Federal, diferente dos CACs, cuja autorização de porte é concedida pelo Exército.

De acordo com o instrutor de armas e deputado federal recém-eleito Paulo Bilynskyj (PL), para obter o porte de armas federal é preciso comprovar a efetiva necessidade por meio de um processo. O aval é dado pela PF. No caso dos CACs, não há essa exigência.

Em entrevista à Folha, a Zambelli afirmou que estava almoçando com o filho de 14 anos, quando um grupo de pessoas a reconheceu e ficou do lado de fora.

A deputada disse que um homem, bastante exaltado, a ofendeu com palavrões e a chamou de prostituta. Além disso, segundo o relato, ela teria recebido uma cusparada e também caiu no chão após ser empurrada.

"Eu estava almoçando com meu filho no bar, um homem começou a me xingar e falar que o Lula iria ganhar. Eu tenho porte federal de armas, [mostrei] até para ele parar", disse a deputada à Folha.

Um vídeo mostra o homem discutindo com Zambelli na calçada. A deputada cai no chão, levanta e sai correndo atrás dele junto com outro homem armado. É ouvido um disparo.

Ela afirma que queria que o homem parasse para que a polícia fosse acionada. Nesse momento, ela diz que alguém teria feito menção de sacar uma arma que estaria "velada" e fez um disparo para o alto.

"Com certeza [motivação política partidária], ficou gritando Lula, dizendo que Lula vai ganhar. Me chamou de burra, vagabunda, prostituta", contou. "Várias pessoas ficaram olhando, tenho como provar com testemunhas."

Na sequência, Carla atravessou a rua com a arma em punho, entra no bar e manda o homem deitar no chão. "Você quer me matar para quê?" pergunta o homem sob a mira da deputada.

O homem negro grita por socorro e depois foge correndo pela rua.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que a Polícia Militar foi acionada, por volta das 16h30 deste sábado, para o atendimento de ocorrência na alameda Lorena, e o caso será apresentado ao plantão do 78º DP (Jardins), em funcionamento no prédio do 4º DP (Consolação).

Em sua página no Instagram, a deputada aparece ofegante ao lado de um policial e afirma que registrou boletim de ocorrência. "Fui agredida agora pouco, me empurraram no chão. Eram vários. Eles usaram um homem negro para vir para cima de mim", disse Carla no vídeo.

Em um outro vídeo, publicado nas redes sociais por Darcio Bracarense, um dos fundadores do movimento Nas Ruas, a deputada afirma ter suposto que o homem estava armado.

"Um deles estava com um volume na cintura e a impressão que eu tive é que ele iria sacar a arma pra mim. Então, saquei também em legima defesa", disse.

Pessoas que estavam no bar onde ocorreu a ameaça ouviram dois tiros e que o homem perseguido pedia para não morrer.

De acordo com João Guilherme Desenzi, que é vice-presidente da Juventude Socialista do PDT e aparece nas imagens no bar, Zambelli e os seus dois seguranças, todos de arma em punho, gritando "aqui é polícia". A deputada, segundo Desenzi, estaria com a arma apontada em direção ao homem.

De acordo com ele, o homem dizia que não queria morrer.

"Ela apontou a arma para ele, e vira apontando para mim", disse. "Ela queria que ele pedisse desculpas, dizia você me xingou, deita no chão, senão vou atirar", afirma Desenzi, que estava com amigos no mesmo bar.

"No final ainda ela disse só não vou te prender porque hoje ninguém pode ser preso", disse. No final, homem teria feito um L, e ela teria dito, segundo os relatos ‘continua mesmo, ainda vou te pegar’.

Outra testemunha presente no bar, o advogado Victor Marques disse que o homem só foi liberado por Carla e os seus seguranças depois que pediu desculpas para a deputada.

Ao sair da delegacia, na madrugada deste domingo (30), Zambelli disse que sua arma não foi apreendida e que votará com ela por ter porte federal.

A deputada afirmou também que usará colete de proteção a partir de agora e que estará preparada para se proteger de ataques.

Zambelli negou ter cometido racismo ao ter falado que "usaram" um homem negro para ir atrás dela.

"Ele era branco? Não teve nada de racismo nisso, o que teve foi violência contra a mulher", afirmou.

Assassinatos, agressões e ameaças com motivação política se acumulam nas eleições deste ano desde o período pré-campanha.

Em julho, um policial bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros um eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Foz do Iguaçu, no Paraná.

Em 2020, a deputada postou fotos em que aparece disparando um fuzil durante aula em um clube de tiro.

Natural de Ribeirão Preto (SP), Carla foi reeleita com 946.244 votos nesta eleição - em 2018, ela havia conseguido 76.306 votos. Ao longo do mandato, a deputada foi uma das mais fervorosas entre os bolsonaristas na defesa das pautas conservadoras.

A sua aversão ao PT já lhe rendeu outros problemas. Antes de ser eleita deputada, ela recebeu voz de prisão da polícia legislativa por xingar o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) em uma sessão da CPI da JBS, em 2017. Na época, ela atuava como uma liderança do movimento NasRuas, grupo que se notabilizou pela defesa do impeachment de Dilma Rousseff.

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