Família de jovem morto por PMs à paisana na Bahia cobra justiça

Em julho, câmeras de segurança flagraram homem sendo assassinado; polícia diz que caso está sob investigação

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Salvador

Quase cinco meses após o assassinato de Daniel da Cruz de Jesus, 24, morto por policiais militares à paisana, familiares cobram que os servidores sejam punidos pela Justiça da Bahia. O rapaz, que não reagiu, foi baleado.

Após seis pedidos de respostas —três por email e três por aplicativo de mensagens—, a Polícia Militar não respondeu à Folha se os militares envolvidos no caso foram afastados das funções. A família afirma que o trio continua em atividade externa.

Imagem de câmera de segurança mostra carro em rua com homens de preto abordando homem
Imagem de câmera de segurança mostra jovem sendo morto por policiais em Santo Antonio de Jesus (BA), em julho - Reprodução

Toda a ação foi registrada por uma câmera de segurança na cidade de Santo Antônio de Jesus.

Por volta de 6h do dia 15 de julho passado, Jesus passava em uma rua do bairro Irmã Dulce, com uma gaiola de passarinho na mão, quando foi abordado pelos três homens.

A imagem mostra que, assim que dois policiais descem do carro, Jesus coloca uma das mãos na cabeça, enquanto um dos homens pega a gaiola. O jovem, então, abre as pernas, permanece imóvel, mas recebe o primeiro tiro. Depois de caído, é baleado mais duas vezes.

À época, a PM emitiu nota na qual sustentava que os policiais foram recebidos a tiros pela vítima. Depois que a versão apresentada pelos militares na delegacia local foi desmentida pelo vídeo, a instituição voltou atrás na narrativa.

Na ocasião, houve a instauração de um inquérito policial militar com prazo de conclusão em até 40 dias, prorrogáveis por mais 20. Questionada, a PM apenas respondeu, por email, que "o inquérito está em andamento".

Por sua vez, o inquérito da Polícia Civil já foi concluído e remetido à Justiça. Com uma investigação própria sobre o caso, o Ministério Público baiano confirma o recebimento do inquérito, mas afirma que o caso está sob sigilo.

À reportagem um familiar da vítima disse, sob anonimato, que a família está apreensiva com a morosidade.

O homem diz que a família se sente intimidada com a liberdade dos policiais, pois, à época do crime, parentes da vítima protestaram publicamente na cidade pela prisão dos envolvidos, o que pode ser visto por ele como motivo de retaliação.

Segundo o parente da vítima, os policiais envolvidos no homicídio passam em ronda na frente da casa deles com frequência, "com um sorriso de canto de boca". Ele afirma que a família, "de gente negra em bairro pobre", tem medo até de se sentar na calçada.

Ele conta que a morte de Jesus desencadeou problemas de saúde tanto na mãe quanto no filho da vítima, uma criança de cinco anos, que passa por acompanhamento psicológico, tem crises constantes e ainda pergunta pelo pai.

Já a mãe da vítima chegou a ficar internada alguns dias após o crime, além ter tido um princípio de AVC (acidente vascular cerebral), diz o familiar.

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