Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus

Justiça liberta quatro suspeitos de golpe milionário em viúva de colecionador de arte

Sabine Boghici, filha da vítima, e mulher acusada de se passar por vidente continuam presas; esquema envolveu quadros de Tarsila do Amaral

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A Justiça do Rio de Janeiro concedeu liberdade a quatro suspeitos de envolvimento em um esquema de estelionato, cárcere privado, roubo, extorsão e associação criminosa contra Geneviève Rose Coll Boghici, 82. A idosa administra os bens deixados por Jean Boghici (1928-2015), conhecido por ter sido um dos maiores colecionadores de arte do Brasil.

A operação para prender os envolvidos, desencadeada em agosto, foi denominada Sol Poente, referência a um quadro Tarsila do Amaral que foi uma das obras desviadas no suposto esquema.

Agentes encontram obra "Sol poente" (1929), de Tarsila do Amaral (1886-1973), embaixo de cama de suspeitos de terem roubado idosa no Rio de Janeiro
Agentes encontram obra "Sol Poente" (1929), de Tarsila do Amaral (1886-1973), embaixo de cama de suspeitos de terem roubado idosa no Rio de Janeiro - Divulgação/Polícia Civil do RJ

De acordo com a Promotoria, Sabine Boghici, filha de Geneviève e Boghici, enganou a mãe dizendo que precisava de tratamento espiritual com supostos videntes em troca de dinheiro e obras de arte. Segundo a vítima, cerca de R$ 725 milhões foram destinados ao grupo. Tanto Sabine quanto Rosa Stanesco Nicolau —que se apresentava como vidente— tiveram os pedidos de revogação de prisão preventiva indeferidos.

Já as prisões de Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, Slavko Vuletic, Jacqueline Stanesco e Gabriel Nicolau Translavina Hafliger foram substituídas por medidas cautelares. Eles são suspeitos de integrar o grupo de Rosa.

Procurados, os advogados Sérgio Guimarães, que defende Sabine, e João Lima Arantes, que representa Rosa, não atenderam as ligações da reportagem nesta terça (6). Logo após a prisão, em 11 de agosto, Guimarães declarou que não houve golpe, mas uma disputa judicial envolvendo os bens do pai de sua cliente.

A decisão foi tomada pela juíza Simone Ferraz, da 23ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça. No despacho, publicado no dia 1º de novembro, ela apontou a gravidade do suposto envolvimento da filha no esquema.

"Os crimes sob exame, perpetrados contra pessoa idosa, com a qual a ré Sabine convivia e coabitava, por sua condição de filha, trazem, por certo, grande abalo à ordem social, de modo que a manutenção da custódia das acusadas apresenta-se imprescindível, neste momento processual. Todavia, diante do exposto acima, o mesmo não mais se aplica aos demais acusados", escreveu.

Entre as medidas aplicadas aos suspeitos libertados estão comparecer mensalmente ao cartório do juízo, e comunicar mudança de endereço. Eles também estão proibidos de manter contato ou se aproximar da vítima ou das testemunhas de acusação. Seus passaportes também deverão ser entregues à Justiça, para evitar saída do país.

De acordo com a investigação, Geneviève foi abordada enquanto estava na rua por uma das falsas videntes. Ela informou que sua filha poderia morrer caso não fosse submetida a um tratamento espiritual. Sabine teria incentivado a mãe a fazer os pagamentos, segundo a Polícia Civil.

Após ter feito seguidas transferências bancárias, a idosa suspeitou de golpe e informou à filha que não faria mais as remessas. A partir de então, segundo investigadores, ela passou a ser mantida em cárcere privado, entre fevereiro de 2020 e abril de 2021, pela própria filha.

Sabine teria nesse intervalo vendido obras para uma galeria de arte em São Paulo, que as revendeu para o fundador do Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), na Argentina.

Nesse período, Rosa Stanesco também passou a frequentar a casa. A companheira da filha começou a levar objetos de valor do apartamento, incluindo os 16 quadros, dizendo que eles estavam amaldiçoados.

Entre as obras desviadas da coleção, em parte já recuperadas, estava "Sol Poente", de Tarsila do Amaral, avaliada em R$ 250 milhões. O quadro foi encontrado debaixo da cama de uma das suspeitas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.