Obras de golpe que envolveu Tarsila do Amaral já saíram do Brasil; entenda o caso

Pinturas de Antonio Dias e Rubens Gerchman foram compradas por colecionador argentino ainda no ano passado

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Brasília

Duas das obras que teriam sido subtraídas por Sabine Boghici de sua mãe, num dois maiores escândalos recentes da arte nacional, já estão fora do Brasil. "Elevador Social", de Rubens Gerchman, de 1966, e "Maquete para o Meu Espelho", de Antonio Dias, de 1964, se tornaram parte da coleção privada de Eduardo Costantini, fundador do Malba, o Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires.

A saída de obras de arte do Brasil deve obedecer a regras estabelecidas pelo Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram, mesmo em casos de trabalhos que sejam de coleções privadas.

Obra 'Elevador Social', de Rubens Gerchman
Obra 'Elevador Social', de Rubens Gerchman - Reprodução

Primeiro, o estatuto do Ibram define que museus brasileiros têm preferência na compra de obras em casos de venda judicial ou de leilão de bens culturais, o que não se aplica a este caso.

Ainda assim, o ex-presidente da instituição e museólogo José do Nascimento Junior afirma que, com frequência, os colecionadores oferecem obras desse porte primeiramente a museus públicos nacionais.

Nascimento também afirma que, caso alguma das obras envolvidas nesse escândalo fossem tombadas, como as pinturas de Tarsila do Amaral, por exemplo, o Ibram também teria de ser notificado da saída da tela do país.

Segundo a própria instituição, ela deve ser procurada em casos de acervos musealizados —obras do período monárquico, arqueológicas, patrimônios, entre outros. Como as duas obras, de Antonio Dias e Rubens Gerchman, não fazem parte desses grupos, não haveria necessidade de consulta ao instituto.

No entanto, Nascimento avalia que essas são obras importantes para a cultura brasileira. Dias teve protagonismo na vanguarda dos anos 1960, ao lado de Gerchman. A saída dos dois trabalhos daqui, assim como de quadros tais quais o "Abaporu", que está no Malba, e "A Lua", que está no Museu de Arte Moderna de Nova York, são uma perda para o repertório de artes plásticas nacional.

Ele usa como exemplo "A Primeira Missa no Brasil", de Candido Portinari. Se a obra tivesse sido posta à venda sem a preferência de instituições públicas, dificilmente a tela teria ido parar no Museu de Belas Artes com a compra pelo Ibram, como aconteceu em 2013.

Em nota, o colecionador afirma que a compra foi devidamente registrada, intermediada pelo galerista paulistano Ricardo Camargo. Ele ainda acrescenta que comprou no mesmo ano outras duas obras, "Tocadora de Banjo", de Victor Brecheret, e "Urso", de Vicente do Rego Monteiro, estas da própria Geneviève Boghici, mãe de Sabine Boghici. Os valores das obras não foram revelados.

Entenda o caso

As duas obras que foram parar na Argentina fazem parte de um grupo de 14 quadros que teriam sido subtraídos por Sabine Boghici, junto de joias e bens avaliados em mais de R$ 720 milhões.

Um dos quadros recuperados em operação da Polícia Federal foi "Sol Poente", um dos trabalhos mais emblemáticos de Tarsila do Amaral. A polícia suspeita que a filha, que está presa, aplicou um golpe na própria mãe para subtrair os itens.

As obras pertencem a uma das coleções privadas mais renomadas do país, fundada por Jean Boghici, morto em 2015 —a idosa que teria sido vítima do golpe é sua viúva, Geneviève Boghici, e a suspeita que foi presa é uma de suas duas filhas, Sabine Boghici. Há dez anos, parte do acervo foi destruído em um incêndio que atingiu a cobertura duplex da família em Copacabana.

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