Descrição de chapéu Obituário Tania Luzia Campos Machado Alves (1954 - 2022)

Mortes: Professora inquieta, se dedicou a abrir horizontes

Tania Campos Machado Alves marcou gerações de estudantes em Capão Bonito (SP)

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Gustavo Simon
São Paulo

Gesto dos mais triviais, recolher no portão o jornal de 18 de novembro foi especialmente doloroso para Patrick Alves. É que aquela pessoa a quem sempre coube a tarefa não estava mais lá. Sua mãe, Tania Campos Machado Alves, guardava relação especial com esta Folha —a qual sempre assinou na versão impressa.

O filho se lembra de quando era criança e a via levar, quase que religiosamente, o jornal do dia junto com um grande copo de água para ler na cama à noite. Mais velhos, ele e os irmãos Frederick e Tacianne —mesmo depois de terem se mudado de cidade, com o estímulo e a bênção dos pais— invariavelmente encontravam recortes separados de reportagens cujo assunto ela sabia ser de interesse de cada um.

A professora Tania Luzia Campos Machado Alves, de Capão Bonito (SP) - Arquivo pessoal

A leitura era hábito definidor de Tania, de alma inquieta. Outro era a comunicação; falante, tinha o condão de driblar certas gafes que cometia, incensadas pelo jeitão quase desligado.

Mas talvez o que mais a tenha marcado foi a dedicação aos alunos que teve em décadas como educadora. Nascida numa família um quê nômade, com sete irmãos, perdeu os pais cedo. No final dos anos 1970, graduou-se conciliando a universidade em Piracicaba com o trabalho numa fábrica em Americana. Em 1984, casou-se com João Carlos, com quem se mudou em uma aventura para Capão Bonito (SP), onde enfim se estabeleceria, teria os filhos e consolidaria a carreira de professora.

Deu aulas de ciências e biologia em escolas particulares, mas tinha apreço mesmo pela educação pública. Quando possível, juntava os alunos da escola estadual Dr. Raul Venturelli em excursões para ampliar os horizontes de jovens da cidade de 47 mil habitantes —seja para ver pela primeira vez um cinema, a 130 km dali, em Sorocaba, seja para conhecer uma universidade federal, no Rio de Janeiro, a mais de 600 km.

"Mesmo depois de aposentada, ela não parou", lembra a afilhada Juliana Antunes. Ao deixar o serviço público, Tania seguiu no magistério, como professora voluntária da Casa do Menor, e ainda organizou bazares, participou de eventos da fraternidade feminina, viajou —até carregando junto o marido, mais caseiro— e manteve uma rotina de caminhadas.

Na pandemia, impossibilitada de sair, encontrou a solução de dar voltas em torno de casa: 70 diariamente, ao lado do marido. "Ela tinha ânsia de viver", resume o filho Patrick. Entre os mais recentes e nobres motivos para isso estavam os netos, Maitê e Mateus, os gêmeos Lucas e Felipe e agora Teodora, que chega em fevereiro —um dos últimos eventos a reunir toda a família foi o chá revelação da neta.

Era marcante em Capão a ponto de um antigo amigo do casal, que se afastou com o tempo, ter dito que ela foi a melhor pessoa que conheceu. Tania, que completaria 68 anos nesta terça (13), certamente cheia de vida, morreu dias após uma queda em casa. João Carlos inverteu os papéis e cuidou da esposa nos últimas semanas. Suas cinzas serão lançadas em Peruíbe, onde a família passou tantos verões.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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