Aluna de medicina da USP usou dinheiro de formatura para pagar aluguel e iPad, diz delegada

Alicia confessou, em depoimento, que pediu transferência dos valores porque achou que a reserva era mal administrada

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São Paulo

Em depoimento prestado na tarde desta quinta (19), a aluna do curso de medicina da USP Alicia Dudy Müller Veiga, 25, confessou que desviou dinheiro da comissão de formatura de sua turma e afirmou que usou parte dos valores em benefício próprio, de acordo com a delegada Zuleika Gonzalez.

Alicia é investigada por apropriação indébita de R$ 920 mil. A pena máxima prevista para esse crime é de quatro anos de reclusão, além do pagamento de multa. A delegada afirma que um eventual pedido de prisão da estudante "é algo improvável, porém não impossível".

Aluna de medicina, Alicia Veiga, 25, é acusada de desviar R$ 1 mi da comissão de formatura da USP
Alicia Dudy Muller Veiga, aluna de medicina da USP, recebeu transferências que somam mais de R$ 900 mil, segundo a polícia - Reprodução/Lattes

"Está comprovado o crime de apropriação de valores. A informação mais importante até o momento é que ela usou parte desse dinheiro com aluguéis, de apartamento, de carro", disse Gonzalez, que acompanhou o depoimento, em uma delegacia da zona sul da capital paulista, encerrado por volta das 18h30.

Entre os gastos efetuados com o dinheiro desviado está a compra de aparelhos eletrônicos, como um iPad Pro de R$ 6.000. Também foi identificado o uso de R$ 3.600 para pagamento de aluguel de imóvel, desde outubro do ano passado, e de R$ 2.000 para aluguel de veículo, desde março.

De acordo com a investigação, nove transferências bancárias foram feitas pela empresa Às Formatura para três contas pessoais de Alicia, a pedido da estudante, que presidia a comissão de formatura. A polícia pediu a quebra de sigilo bancário para verificar todas as contas que a suspeita possui no Brasil.

Ainda segundo a delegada, Alicia admitiu que retirou os valores do fundo da formatura porque achou que o dinheiro não era bem administrado pela empresa contratada.

"Ela realmente tirou esse dinheiro da empresa de formatura. Alega que achava que não estava sendo bem administrado. Resolveu administrar por conta própria e fez péssimas aplicações, perdendo valores. Tentou recuperar o dinheiro de várias formas, fazendo apostas em lotérica, e efetivamente confessou [que usou] para beneficio próprio parte dos valores", afirmou Gonzalez.

A delegada acrescentou que, após o prejuízo com as aplicações, a suspeita teria se desesperado.

"Ela afirma que mentiu para os colegas dizendo que havia perdido o dinheiro no Sentinel Bank, por medo. Admitiu que aplicou no Nubank e no Banco do Brasil e que as aplicações deram prejuízo. Quando teve cerca de R$ 50 mil de prejuízo, alega ter se desesperado e iniciado jogos em lotéricas", afirmou Gonzalez

A polícia agora investiga se houve algum erro por parte da Às Formatura, mas afirma não haver indícios de que a empresa tenha agido de forma errada.

O depoimento de Alicia durou cerca de quatro horas e meia. Ela estava acompanhada de seu advogado, Sergio Ricardo Stocco, e ambos deixaram a delegacia pouco depois das 19h sem falar com os jornalistas.

Além da investigação por apropriação indébita, Alicia é investigada pela polícia de São Bernardo do Campo (ABC paulista) por suspeita de estelionato e lavagem de dinheiro após calote em uma casa lotérica, em julho, quando fez apostas em jogos de loteria.

Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), os estudantes descobriram o desfalque no último dia 6 de janeiro, quando a própria Alicia relatou o caso em um grupo de WhatsApp. Aos colegas ela disse que teria investido o dinheiro do fundo em uma corretora e que teria sofrido um golpe.

"Estou escrevendo para dizer que não temos dinheiro. Com toda a dor, culpa e arrependimento que vocês podem imaginar", escreveu no grupo.

Contrato

Na quarta (18), outros dois integrantes da comissão de formatura foram ouvidos pela polícia. Eles informaram que Alicia costumava se apresentar à disposição para resolver todas questões referentes à formatura e usaram os adjetivos "solícita" e "humilde" para se referir a ela.

De acordo com a empresa Ás Formaturas, o presidente da comissão tinha permissão de movimentar o dinheiro. Os alunos da Faculdade de Medicina haviam elaborado um estatuto que previa que movimentações acima de R$ 10 mil precisariam da assinatura do presidente ou vice-presidente junto aos dois tesoureiros, mas o documento não foi formalizado em cartório nem comunicado à empresa.

A empresa foi notificada pelo Procon-SP a dar explicações sobre como Alicia conseguiu transferir o dinheiro do fundo e, segundo o órgão, apresentou "informações genéricas". Assim, uma reunião foi marcada para segunda-feira (23) para que a empresa Ás Formaturas esclareça a situação.

Ainda de acordo com o Procon, caso a empresa não tenha zelado pelo patrimônio dos consumidores —ou seja, não tenha guardado os valores de modo adequado—, poderá responder a processo administrativo.

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