Ensaios de blocos de Carnaval voltam a ocupar as ruas de SP com manifestações políticas

Foliões usaram adereços que fazem referência a partidos e movimentos de esquerda

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São Paulo

O analista de tecnologia Estefan Alvarenga, 31, escolheu um shorts vermelho e uma bandeira da campanha do presidente Lula para ir ao ensaio do bloco Charanga do França, em Santa Cecília, na manhã deste domingo (29). "Carnaval é manifestação política sim, o que não é?", disse.

Assim como ele, os amigos Luiz Fernando Sabino, 35, e Anderson Juisland, 36, também usavam bonés que fazem referência ao presidente eleito. "Carnaval é política sempre", disse Sabino. "É uma questão de ocupar os espaços públicos", continuou.

Folião usa boné com nome do presidente Lula em ensaio do bloco Charanga do França, em Santa Cecília, na manhã deste domingo - Danilo Verpa/Folhapress

Outros foliões que ocuparam a rua Imaculada Conceição para ouvir marchinhas de Carnaval usavam também bonés do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra). Um ambulante vendia brincos em formato de estrela vermelha com a sigla PT em alusão ao Partido dos Trabalhadores. Havia ainda modelos com o símbolo da foice e do martelo que representam o comunismo.

A multidão ocupou quase toda a rua na Santa Cecília. Moradores interagiam com os foliões nas janelas. Uma delas mostrou os cachorros fantasiados na janela, o que arrancou gritos da multidão. Outra moradora usou uma mangueira para jogar água nos foliões. A temperatura beirava os 30 °C no início da tarde. Entre o público, porém, ficou a dúvida se o gesto foi para ajudar a refrescar ou uma forma de afugentar os foliões. De qualquer forma, o banho de mangueira foi bem recebido por quem estava há horas no asfalto debaixo do sol.

Pais com crianças ficavam mais afastados da aglomeração em torno dos músicos que tocam na rua.

Com adereços políticos ou não, em comum, os foliões estavam com saudades de pular Carnaval na rua, o que não acontecia, ao menos de maneira formal, desde 2020, quando teve início a pandemia de Covid.

"Não via a hora de o Carnaval voltar", disse a auditora fiscal Dolores Efernandes, 68, acompanhada de um grupo de amigas com tiaras coloridas e maquiagem com glitter. O grupo chegou cedo justamente para garantir um espaço disputado perto da banda. Sem equipamentos eletrônicos, a Charanga do França exige disposição dos seguidores para ouvir a música sem se afastar muito dos instrumentos. Como era um ensaio, o bloco não andou pelas ruas de Santa Cecília, ficou parado. "Eles tocam marchinhas históricas e saem no chão. Sem frescura", disse sobre o bloco que conta ter conhecido em uma das saídas culturais do grupo.

Os ambulantes que vendem bebidas aos foliões também comemoravam a retomada dos blocos. No ano passado, não houve uma programação oficial e os blocos ocuparam as ruas em diversas ocasiões à revelia dos pedidos da prefeitura para evitar atrair multidões sem a devida organização.

"Agora tem bloco todo fim de semana", afirmou com alegria Natanael Santos ao lado do isopor lotado de cerveja, refrigerante, água e bebidas prontas. "Essa é a novidade desse Carnaval, vem lá de Belo Horizonte", disse ao mostrar uma lata de bebida que mistura rum, mate, guaraná e limão.

O nome sugestivo da bebida, xeque mate, era anunciado pelos ambulantes. Os carrinhos também vendiam drinks, como gin tônica.

Os ensaios precedem a programação oficial do Carnaval de rua e neste ano, diferentemente dos dois anteriores, a Prefeitura de São Paulo fechou contrato de patrocínio para organizar os desfiles de blocos de rua.

Uma marca de cerveja venceu o edital e irá fornecer R$ 25,6 milhões para a gestão municipal. Ao todo, a vencedora da pregão poderá divulgar dez marcas em espaços públicos onde os foliões irão passar.

São esperados durante o feriado de Carnaval 663 blocos, quantidade de inscrições recebidas pela administração municipal.

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