Jovem obeso morre após ficar mais de 4 horas em ambulância à espera de atendimento em SP

Segundo a família, paciente precisava de uma maca especial; Secretaria de Estado da Saúde diz que lamenta o ocorrido

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São Paulo

Um homem de 25 anos morreu na tarde desta quinta-feira (5) em São Paulo depois de uma peregrinação em busca de atendimento em unidades de saúde. Ele era obeso e, segundo familiares, ficou quatro horas e meia dentro da ambulância em frente a hospitais estaduais.

Vitor Augusto Marcos de Oliveira sofreu três paradas cardíacas, de acordo com a família, e só foi levado para dentro de uma das unidades depois de morrer.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde diz que lamenta o ocorrido e que apura a situação para que sejam tomadas as devidas providências. O caso é investigado pelo 72º DP (Vila Penteado) como morte suspeita e omissão de socorro.

Homem negro de camiseta azul e boné
Vitor Augusto Marcos, 25, morreu nesta quinta-feira (5) em São Paulo depois de horas aguardando por atendimento na frente de hospitais - Vitor Augusto Marcos no Facebook

A Secretaria Municipal da Saúde disse que o jovem deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Perus, na zona norte, na manhã de quarta-feira (4) e, com a piora de sua condição, que demandava cuidados hospitalares, ele foi transferido para uma unidade do estado.

O paciente foi levado de carro por um amigo para a UPA Perus por volta das 10h de quarta, de acordo com sua irmã, Williane da Silva de Oliveira, depois de sentir dores nas pernas.

"Tinha feito muito exercício na piscina. Ele entrou andando, mas estava com a saturação baixa e colocaram ele no oxigênio", disse.

De acordo com ela, ele pesava 190 quilos, e a equipe médica da UPA achou melhor realizar a transferência para um hospital com mais recursos, na tarde de quinta.

Por falta de equipamento especial, de acordo com a família, ele teria sido levado no assoalho da ambulância até o Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, da rede estadual, também na zona norte.

"Ele ficou três horas dentro da ambulância esperando atendimento. Minha mãe implorou por ajuda, gritou lá no hospital implorando para atenderem ele, mas ninguém fez nada. De lá, foi levado para o Hospital Geral de Taipas, onde também não foi atendido. Ele ficou dentro da ambulância, na frente do hospital", contou Williane.


Vídeo: Mãe implora por atendimento médico ao filho em hospital de SP


Pacientes do Hospital Geral de Taipas, também da rede estadual, têm enfrentado meses de espera para conseguir uma cirurgia, conforme a Folha publicou em novembro do ano passado.

Carlos Alberto de Castro Soares, coordenador de hospitais do estado, em entrevista ao SP1, da TV Globo, disse que o caso está em apuração.

"Nós estamos apurando o porquê o nosso regulador do estado cedeu a vaga de forma formal, isso está na ficha de regulação do cross municipal, com que circunstância ele acolheu esse paciente porque o paciente é acima de 200 quilos", disse.

Ainda segundo o coordenador de hospital do estado, não há justificativa para o drama vivido pelo paciente e sua família.

"Não existe justificativa para esse tipo de situação. Nosso governador Tarcísio [de Freitas - Republicanos], nosso secretário dr. Eleuses [Paiva] e o dr. Sérgio Okane estão também, como nós todos, indignados com essa situação, com o desfecho trágico", afirmou.

O irmão, segundo Williane, ficou aguardando mais uma hora e meia na frente do Hospital de Taipas, esperando uma maca especial por causa do peso dele.

"O pessoal da ambulância fez o que pôde, mas o oxigênio acabou e ele teve três paradas cardíacas. Só depois disso que o levaram para dentro da UTI do hospital, mas ele já estava morto. Nos informaram 30 minutos depois", disse.

Depois de tudo, a família diz que ainda precisou procurar pelo corpo depois de receber informações desencontradas.

Williane afirma que a família recebeu a informação de que o corpo estaria no IML (Instituto Médico-Legal) Oeste (Vila Leopoldina), mas, ao chegar ao local na manhã desta sexta-feira (6), descobriram que a unidade está desativada.

O corpo dele foi localizado no IML do Hospital Geral das Clínicas de São Paulo. Ainda não há informações sobre velório e sepultamento.

Na nota, a secretaria estadual afirma que a definição de prioridade dos casos é feita pelos municípios de origem dos pacientes. "A demanda é distribuída de forma descentralizada na rede, considerando que há regulações municipais ou regionais, com os respectivos serviços de referência para sua área de abrangência", afirma.

Questionada sobre o número de macas para atender pacientes com obesidade nos hospitais de Taipas e Vila Nova Cachoeirinha, a pasta diz apenas que "as duas unidades citadas dispõem de mobiliário para o atendimento de paciente com comorbidades, incluindo obesos".

A secretaria acrescenta que instaurou uma "sindicância para investigar o caso de forma rigorosa". "Diante de quaisquer irregularidades os responsáveis serão penalizados com todas as medidas cabíveis", declara a pasta, que afirma se solidarizar com a família da vítima.

MACAS PARA OBESOS

O médico Walter Cintra, graduado pela USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do curso de especialização em administração hospitalar e de sistemas de saúde da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas), diz que a falta de maca não pode ser justificativa para falta de atendimento ao paciente.

"O que me parece estranho é que se justifique o não atendimento por falta de maca, isso não é razoável. Você improvisa qualquer coisa, muitas vezes não tem maca mesmo para o paciente que não é obeso e não é por causa disso que vai deixar de atender. Vai fazer um atendimento precarizado, mas não vai deixar de atender. Nós vivemos muitas vezes situações de colapso e a gente atende o paciente onde puder atender", disse.

Segundo Cintra, não existe e não é necessário que haja uma lei para exigir materiais adequados para o atendimento de pessoas obesas nas unidades de saúde.

"É óbvio que as macas devem ter condição de receber os pacientes obesos. Essa é uma condição presente na população. As pessoas obesas existem e a vida delas é valiosa para nós, parafraseando o Silvio de Almeida. Não precisa de lei para dizer que tem que ter maca para obeso, não tem cabimento. Em qualquer serviço de saúde tem que ter isso", afirmou.

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