Após chuvas no litoral, casal acolhe 34 vizinhos e percorre trilha para voltar a São Paulo

Vítimas do temporal deixaram carros e mantimentos para trás e carregaram no máximo um mochila e o animal de estimação

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São Paulo

Por volta das 6h de domingo (19), com o dia claro, o casal Fabio Dala Colleta de Mattos e Gabriela Fontana percebeu o tamanho da tragédia que rodeava a sua casa em um condomínio na praia Preta, em São Sebastião, no litoral paulista.

A rodovia Rio-Santos havia desaparecido, e o mar apresentava as cores de um doce de leite, conforme ele define. O morro, que fica atrás do imóvel, havia desmoronado.

"Acabou a energia pela madrugada no momento em que o morro desabou", afirma Gabriela.

Lama e galhos tomam conta de condomínio na praia Preta, em São Sebastião
Lama e galhos tomam conta de condomínio na praia Preta, em São Sebastião - Fabio Mattos/Divulgação

O casal tentou se aproximar da portaria do condomínio, a 70 metros da residência. "Vimos, então, que não dava nem para sair de casa. E ficamos preocupados com os vizinhos, teve casa que foi totalmente destruída", disse ele.

Entre domingo e a manhã desta segunda (20), eles acolheram 34 vizinhos, entre eles idosos, cinco crianças com idades de 2 a 9 anos e dois adolescentes, um de 13 e outro de 16 anos.

"Fiquei muito preocupada, porque o mantimento e a água poderiam não ser suficientes para todos, caso a gente não conseguisse sair de lá", contou Gabriela.

"Algumas casas foram invadidas por lama e galhos de árvores", afirmou Fabio.

Por sorte, como Gabriela diz, a Defesa Civil atendeu ao clamor da vizinhança e, na manhã desta segunda, abriu uma trilha do condomínio até a rodovia Rio-Santos, com a ajuda de uma motosserra.

"Andamos cerca de 20 minutos por essa trilha, e depois vans do DER [Departamento de Estradas de Rodagem] nos levaram até Juquehy", disse Fabio.

No local havia motoristas particulares, e eles conseguiram regressar para São Paulo.

Os vizinhos deixaram quase tudo —automóveis, bicicletas, malas, mantimentos— para trás. Carregavam no máximo uma mochila e o animal de estimação.

Abalado com o que viu, o casal agora não sabe quando poderá voltar ao condomínio. "Passamos perrengue e tentamos preservar as crianças, mas estamos bem. Muita gente, principalmente em áreas de comunidade, como a da Vila Baiana, precisa de ajuda", disse Gabriela.

Até a noite desta segunda, as chuvas que atingiram o litoral de São Paulo desde sábado (18) deixaram 40 mortos, sendo 39 em São Sebastião e um Ubatuba.

O total de pessoas fora de casa, desabrigadas ou desalojadas, chega a 2.496. Os desaparecidos somam 40, mas os números ainda devem aumentar, já que há relatos de que pessoas estariam sob os escombros de estruturas que cederam.

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