A solidariedade está permitindo que pessoas ilhadas em casas do bairro Camburi, em São Sebastião (SP), obtenham informações sobre a situação na cidade e avisem familiares. Até a noite de domingo (19), 36 mortes tinham sido confirmadas na região.
O publicitário Rafael Ferreira, 39, que alugou uma casa no bairro para passar o feriado de Carnaval com amigos, conta que, na noite de sábado (1), ao perceber que não parava de chover —em menos de 24 horas, o acumulado de chuva foi de 627 mm—, o grupo ligou para um restaurante próximo. Familiarizado com a região, o atendente alertou que a água iria subir e recomendou que levassem os carros para um local mais alto.
O conselho foi o primeiro da noite. Eles tentaram contato com a Defesa Civil, mas não conseguiram falar, e ligaram para a Polícia Militar. A dúvida era se deveriam permanecer na cidade ou pegar a estrada de volta para São Paulo.
"A PM disse que havia muitos deslizamentos na estrada e era mais seguro ficarmos", conta Ferreira. No início da noite deste domingo (19), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou em entrevista à GloboNews que "quem está em local seguro deve ter tranquilidade e permanecer [no litoral], porque as estradas estão interditadas e há riscos. Mas quem está em áreas de encosta, áreas de risco, sujeitas a deslizamentos, deve procurar local seguro".
Após a recomendação da PM, quando a água já escondia completamente o asfalto, um vizinho em uma prancha de stand up paddle passou em frente ao imóvel e reforçou a orientação de que os amigos não saíssem do imóvel.
O grupo passou a madrugada no segundo andar da casa, de onde é possível ver a altura da água, e está há horas sem comer. "Trouxemos a água, mas esquecemos da comida", relata a nutricionista Paula Batista Miziara, 39.
Os alimentos e tudo mais no andar térreo está embaixo d’água, exceto a mesa com o roteador. O móvel está boiando e o aparelho continua funcionando, o que permite que os amigos acessem a internet e deem notícias às famílias.
A conexão também foi usada para ajudar a casa em frente. "A vizinha, de 19 anos, pediu ajuda hoje de manhã. Estávamos na sacada, observando a água, e ela perguntou se a gente tinha internet porque queria falar com o pai. Pedi para ela me passar o número dele e mandei mensagem avisando que ela estava bem", relata Miziara.
Na tarde deste domingo, foi a vez de outro vizinho passar de prancha. Ele perguntou se estavam precisando de algo e avisou que a situação ao redor continuava crítica.
"Todo mundo quer sair daqui. Estamos com fome e não sabemos se conseguiremos comprar comida quando a água baixar porque não sabemos se os mercados alagaram, se os estoques estragaram. Estamos desesperados para voltar para São Paulo", desabafa Ferreira.
O grupo chegou a considerar ir de balsa para Ilhabela, onde mora o tio de um deles, mas ficou sabendo da impossibilidade de embarque devido à ressaca. Muitas estradas também estão interditadas.
"Não temos o que fazer. Vamos esperar a água baixar e chamar as seguradoras para avaliarem os carros. Pretendemos voltar com eles ou com um carro de aplicativo", diz Miziara.
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