Descrição de chapéu Folha Verão Rio de Janeiro

Mureta da Lapa faz sucesso com 'cadeira sem praia' no Rio

Prima mais nova da famosa mureta da Urca, região não tem vista para o mar, mas atrai com samba e clima de subúrbio

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Rio de Janeiro

O técnico em farmácia Mauro Henrique Sant'Anna, 44, frequenta há mais de duas décadas a Lapa, na região central do Rio de Janeiro. A única parte que evitava era o último quarteirão da rua da Lapa, com menos movimentação à noite e comércio modesto.

O hábito de Sant’Anna mudou há três meses, quando conheceu o Mureta da Lapa. Primo mais novo da famosa mureta da Urca, esta à beira da praia da zona sul, o local no centro virou sensação da cidade no verão e mudou a vida noturna do local, com rodas de samba, pagode e ensaios de blocos de Carnaval.

Pequenos botequins, galpões de ferro-velho e uma antiga hospedaria compõem a área, com vendedores ambulantes na calçada oferecendo toda a sorte de objetos usados.

baterista toca ao ar livre à noite, com pessoas em cadeiras de praia ao fundo em mureta
Cariocas aproveitam Mureta da Lapa, no centro do Rio, que virou queridinha do verão - Eduardo Anizelli/ Folhapress

"Esse pedaço entre a Lapa e a Glória me causava um pouco de insegurança, principalmente depois das 20h, porque é mais vazio. O bar é sinônimo de melhoria. Com o movimento de pessoas, o poder público vem, tem mais segurança, mais iluminação", diz Sant'Anna.

As cadeiras de praia disponíveis aos clientes, e o muro pintado com desenhos de litoral dão cores quentes a uma região cercada por construções centenárias, muitas delas carentes de reformas.

"Eu tinha algumas ideias pra deixar o lugar descontraído, como usar a cadeira de praia, fazer um grafite. Se é para ser um bar comum, tem uns sete somente nesta rua. Precisávamos de algo diferente", diz Gustavo Santos, 43, produtor de eventos que largou de vez a carreira na área de logística para assumir o bar com outros dois sócios.

Não ter a vista da baía de Guanabara no visual não é um problema. "O público gosta desse clima de subúrbio", opina.

Em dia de evento, as cadeiras com vista para o bar, e não para o mar, são ocupadas logo após o estabelecimento abrir, no fim de tarde.

Quem chega depois se espalha pelo bloco de concreto que fica em um nível superior à calçada, formando uma espécie de mezanino com visão privilegiada para a roda de samba. Foi uma cliente quem apelidou o local de mureta, batizando também o bar, numa referência à mureta da Urca.

Em novembro, ainda no primeiro mês de inauguração, centenas de pessoas se reuniram para assistir a um dos jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo, num telão instalado na parte externa, virado para a rua.

Desde então, outros eventos tiveram sucesso, das rodas de samba às segundas-feiras aos cortejos de pré-Carnaval. No último dia 19 de janeiro, um ensaio aberto do bloco Amores Líquidos ocupou todo o quarteirão. A intenção é repetir a dose durante o Carnaval, com um bloco saindo do bar e desfilando pela Lapa.

A agitação local estimulou outros negócios. Em dia de evento, vendedores ambulantes de bebidas e barracas de lanches estacionam em frente ao Mureta, lucrando com o movimento.

Os sócios admitem certo desconforto com a chegada dos camelôs, já que eles comercializam bebidas mais baratas do que aquelas vendidas dentro do estabelecimento. Os sócios procuraram a prefeitura para resolver a concorrência, mas a presença não gera atrito.

"Hoje, o pessoal vem para curtir o bar, vários vendedores ambulantes de cerveja e churrasquinho param ao redor, e a gente acelera a revitalização e a ocupação do local", reforça o sócio Gleigan Barbosa, 31.

Ainda é confusa, porém, a convivência com os poucos moradores do edifício (o bar fica no térreo) que não se habituaram ao barulho do bairro mais boêmio da cidade —os eventos no bar terminam sempre antes das 23h.

"Estamos fazendo reuniões constantes com o síndico e outros condôminos para que a convivência seja ainda mais pacífica", diz Santos.

A mureta da Urca se tornou um ponto tradicional quando os bares locais permitiram que os frequentadores consumissem do outro lado da calçada, onde o concreto divide a rua e as águas da baía de Guanabara.

Pois a água também não faltará na Lapa: a ideia é instalar até o Carnaval uma ducha gratuita para os frequentadores se refrescarem. O chuveiro também será aberto para as pessoas em situação de rua que circulam na região.

"Essas pessoas estão aqui antes de nós, e entendemos que podemos fazer o que estiver ao nosso alcance", diz Jonatas Rogério.

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