São Sebastião vira palco de união de Lula e Tarcísio

Antagonistas na eleição de 2022, presidente e governador prometem parceria pelas vítimas das chuvas no litoral paulista

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São Paulo

Entre aperto de mão e abraço, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), estreitam em meio à tragédia de São Sebastião um relacionamento pouco provável até as eleições de 2022.

Apadrinhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio assumiu o Palácio dos Bandeirantes com apoio de um eleitorado com aversão aos partidos de esquerda. Nesta segunda-feira (20), Tarcísio e Lula caminharam pelas áreas afetadas com as fortes chuvas no litoral norte de São Paulo.

Este é, pelo menos, o quarto encontro entre presidente e governador, mas os anteriores transcorreram de modo formal.

Presidente Lula ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, durante pronunciamento sobre a tragédia no litoral de SP - Ricardo Stuckert/PR

Gilberto Kassab, secretário estadual de governo e principal articulador da campanha de Tarcísio, já vinha trabalhando desde o início para esta aproximação.

"É importante para o Brasil essa integração de esforços, de dois governos que na campanha estiveram em palanques diferentes", afirmou Kassab à Folha.

Em São Sebastião, a reportagem apurou que tanto Tarcísio e Lula valorizaram o empenho de cada um e a rápida tentativa de buscar soluções como chefe de Estado. No momento em que discursavam, por volta das 13h30, o litoral paulista contabilizava 36 mortos, pelo menos 40 desaparecidos e 2.496 pessoas desabrigadas.

"Essa parceria que estamos fazendo aqui é uma fotografia boa para o nosso país", disse Lula, ao lado de Tarcísio e do prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB).

"Sei com qual partido o Tarcísio disputou as eleições. Veja que coisa bonita e simples, nós estamos juntos. Acabou a eleição, ele tem a obrigação de governar o estado de São Paulo, e eu tenho governar o país", completou o presidente.

Ao terminar o seu discurso, Lula foi recebido por Tarcísio com um abraço. "A gente precisa trabalhar com a cooperação entre governo federal, estadual e municipal. Temos mais de 600 pessoas envolvidas nessa operação, incluindo militares do Exército, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar", disse o governador.

No litoral norte desde domingo, Tarcísio anunciou, nesta segunda, a transferência por tempo indeterminado do seu gabinete para São Sebastião.

Já o presidente interrompeu a sua folga na base naval de Aratu, em Salvador, e deverá ficar em São Sebastião até esta terça-feira, pelo menos.

A ida do presidente é um contraponto às atitudes de Bolsonaro em episódios trágicos. Em dezembro de 2021, Bolsonaro não se desfez da folga no litoral de Santa Catarina enquanto a Bahia enfrentava crise em decorrência das chuvas.

Homem caminha pela região da praia do Juquehy, em São Sebastião - Nelson Almeda/AFP

"A presença do governador, do companheiro Felipe, prefeito da cidade, e do governo federal é uma demonstração específica de que é possível exercer a nossa função na democracia mesmo quando pertencemos a partidos diferentes, ou a gente pensa diferente", falou o presidente.

Antes do encontro em São Sebastião, Tarcísio já havia se reunido com Lula em duas ocasiões ao lado dos demais governadores estaduais. Em um deles, no dia 9 de janeiro, Tarcísio cumprimentou Lula e disse que precisava aprender sobre São Paulo com o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB).

No dia seguinte, Kassab costurou um encontro de forma reservada entre Tarcísio e Lula. Neste também estiveram presentes os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil).

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