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Derrota de Haddad para Tarcísio em SP destrava indicação para ministério de Lula

Ex-prefeito perde para bolsonarista, mas deve integrar equipe de Lula, que venceu neste domingo

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São Paulo

A derrota de Fernando Haddad (PT) em São Paulo ao lado da vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), neste domingo (30), destrava a conversa para que o ex-prefeito ocupe um ministério no governo federal petista.

Durante a campanha, petistas evitaram falar sobre o tema, argumentando que o foco do partido era promover uma virada de Haddad sobre Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato apoiado por Jair Bolsonaro (PL).

Neste domingo, porém, Tarcísio venceu Haddad e se elegeu governador de São Paulo. Com 100% das urnas apuradas, o ex-ministro de Bolsonaro obteve 55,27% dos votos válidos, ante 44,73% do petista.

Lula venceu a eleição nacional —com 99,99% das urnas apuradas, o petista foi eleito pela terceira vez com 50,9% dos votos ante 49,1% de Bolsonaro.

Fernando Haddad (PT) durante votação neste domingo (30) em Indianópolis, na zona sul de São Paulo - Zanone Fraissat - 30.out.22/Folhapress

Por volta das 20h15, o ex-prefeito discursou e reconheceu sua derrota. "Já liguei para o Tarcísio de Freitas, desejando a ele que faça um bom governo, me colocando à disposição. [...] Eu acredito na democracia, democracia é reconhecimento do resultado", disse.

Questionado pela Folha sobre integrar algum ministério do governo Lula, ele disse que não conversou sobre isso com o novo presidente eleito.

"Nunca conversei com o Lula sobre a possibilidade de perder as eleições de São Paulo. Até ontem à noite, estávamos na luta para ganhar essa eleição. Lula tem toda liberdade para montar sua equipe", disse Haddad.

O petista afirmou ainda que Lula vai herdar um país em ruínas e que espera que ele monte uma grande equipe como fez em 2002. Haddad foi ministro da Educação entre 2005 e 2012, nos governos Lula e Dilma Rousseff (PT).

No hotel onde aliados de Haddad acompanharam a apuração, na zona sul da capital, o clima era de festa pela vitória de Lula, apesar da derrota da Haddad.

De tempos em tempos, um locutor narrava os dados da eleição nacional e os apoiadores vibravam. Na hora da virada, os gritos lembraram a comemoração de gol.

Haddad afirmou estar feliz e realizado. "Eu poderia estar mais feliz se tivesse ganhado a eleição, mas o fato de ter contato com apoio de vocês, partidos aliados, essa frente maravilhosa e todos os progressistas unidos, permitindo realizar a melhor das nossas eleições em 40 anos, com 45% dos votos do estado de São Paulo", disse.

Ele ainda se referiu à eleição municipal de 2024, em que o PT já decidiu apoiar Guilherme Boulos (PSOL). Haddad comemorou a vitória na capital, que administrou entre 2012 e 2016.

"Boulos, vai se animando aí, que na capital eu tive praticamente a mesma votação que quando venci José Serra [PSDB] em 2012. Isso é muito significativo, porque eu tenho um amor profundo por essa cidade e fiquei tão feliz de ver o mapa da cidade todo vermelhinho", disse.

Boulos deixou de concorrer ao governo paulista após o compromisso de que o PT apoiaria sua candidatura à Prefeitura.

Mais tarde, no caminhão de som ao lado de Lula, Haddad foi saudado na avenida Paulista, lotada de apoiadores. Num discurso curto, ele agradeceu os paulistas e não falou diretamente de sua derrota, apenas comemorou os locais onde venceu.

"Nós ganhamos a eleição na periferia de São Paulo, ganhamos na capital, na região metropolitana. E nós começamos um namoro que vai dar certo com nosso interior. Eu agradeço o interior de São Paulo, porque, se não fosse a virada de voto, hoje nós não estaríamos celebrando Lula presidente da República", disse.

"Esse é um dia feliz desse país, é um dia que um metalúrgico do povo, retirante do Nordeste, volta à Presidência da República para redimir esse país do fascismo", completou.

"A campanha do Haddad foi fundamental para a gente chegar até onde nós chegamos", disse Lula.

Com Haddad, o PT teve esperança de chegar ao Palácio dos Bandeirantes pela primeira vez. O partido nascido no ABC paulista disputa o governo estadual há 40 anos, mas não foi competitivo em pleitos anteriores. Haddad e Lula fizeram uma campanha casada, com carreatas e comícios conjuntos.

Agora, a expectativa é a de que Haddad ocupe uma pasta na Esplanada dos Ministérios. Nos bastidores, seu nome foi aventado para Economia e Educação. Ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Haddad é formado em direito, tem mestrado em economia e doutorado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP).

Lula foi cobrado ao longo da campanha a apresentar seu nome para o Ministério da Economia, mas resistiu. O petista chegou a afirmar que buscava um perfil político para o cargo, alguém aberto ao diálogo.

O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que fez campanha para Lula, também são nomes cotados para o posto.

A derrota deste domingo é a terceira consecutiva para Haddad, que perdeu no primeiro turno para João Doria (ex-PSDB), em 2016, na tentativa de se reeleger prefeito de São Paulo. Em 2018, ao substituir Lula, que estava preso, na eleição presidencial, ele perdeu para Bolsonaro por 55% a 45% dos votos válidos.

Aliados de Haddad, no entanto, minimizam o fracasso eleitoral do ex-prefeito usando o argumento de que o partido saiu com um tamanho maior no estado. Na Assembleia Legislativa, o PT passou de 10 para 18 cadeiras.

Além disso, lembram que Haddad se redimiu ao vencer na capital, onde havia perdido em 2018. O petista já havia vencido na cidade no primeiro turno e, neste domingo, teve 54,41% a 45,59% de Tarcísio.

A campanha de Haddad, no entanto, teve embates com a cúpula que coordenou a campanha de Lula. Os lulistas acreditavam que, no primeiro turno, Haddad deveria ter centrado fogo em Tarcísio para enfraquecer o palanque bolsonarista no estado e costurar uma aproximação com o governador Rodrigo Garcia (PSDB) no segundo turno.

O ex-prefeito fez o contrário e concentrou suas críticas no tucano. Ele argumentou que precisou se defender dos ataques da campanha do PSDB a ele.

No primeiro turno, Tarcísio teve 42,32% dos votos válidos; Haddad marcou 35,7%, e Rodrigo Garcia, 18,4% —o que representou uma derrota histórica para o PSDB, que governa São Paulo há quase 30 anos.

Na última semana, após uma série de reveses para Tarcísio, sobretudo relacionados aos desdobramentos do tiroteio em Paraisópolis, Haddad diminuiu sua diferença para o rival e apostou numa virada que não veio.

Como mostrou a Folha, Haddad conseguiu articular uma ampla aliança em sua campanha, de Geraldo Alckmin (PSDB) a Guilherme Boulos (PSOL), tendo o apoio inclusive de parte dos tucanos da ala histórica do PSDB. A maior parte dos partidos de centro e de direita, porém, abraçou Tarcísio.

O ex-prefeito, que teve a mais alta rejeição em todo o pleito segundo o Datafolha, não conseguiu contornar o expressivo antipetismo em São Paulo, principalmente no interior.

Haddad ancorou sua campanha em propostas sociais, como aumento do salário-mínimo e ICMS zero para carne e cesta básica. Tarcísio apostou no perfil técnico, apesar de comprometer-se com a agenda bolsonarista, e fez um discurso mais alinhado ao mercado, prometendo geração de empregos e foco no social.

Na campanha, Haddad foi questionado pela gestão na prefeitura —ele cumpriu metade de suas metas e deixou 35 obras não finalizadas. O petista apresentou um legado de melhora nas contas públicas e repetiu suas realizações no MEC, com ampliação das universidades federais e a criação do Prouni.

O petista teve, por um lado, acenos ao centro a partir da aliança com Alckmin e de encontros com a "Faria Lima progressista". Ele buscou diálogo com o interior, ressaltando sua raiz paulista em contraponto a Tarcísio, que é carioca e só veio para São Paulo por ocasião da eleição.

Mas Haddad também insistiu na agenda progressista, pregando mais impostos para os mais ricos e fazendo uma defesa do MST. Ele apontou que o movimento hoje é formado por pequenos produtores rurais "tão cidadãos quanto qualquer outro".

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