Aluno que matou professora faltou a duas consultas psiquiátricas, diz prefeitura

Investigação de ameaças feitas por estudante travou dois dias após denúncia

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São Paulo

O estudante de 13 anos que matou uma professora na segunda (27) faltou a duas consultas psiquiátricas agendadas a pedido da unidade escolar em que estudava antes de ser transferido para a escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste paulistana.

O Conselho Tutelar afirmou à Folha ter sido acionado pela escola estadual José Roberto Pacheco, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, em 28 de fevereiro deste ano. Nesse mesmo dia, uma funcionária da unidade registrou um boletim de ocorrência relatando o comportamento suspeito do jovem nas redes sociais.

A servidora disse à polícia que o aluno postou vídeos portando armas de fogo e simulando ataques violentos e que ele encaminhou mensagens e fotos de armas a estudantes por meio do WhatsApp, o que causou medo aos pais.

Adolescente que esfaqueou professora e colegas na Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo, deixa o 34º Distrito Policial após depoimento para ser levado à Fundação Casa
Adolescente que esfaqueou professora e colegas na Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo, deixa o 34º Distrito Policial após depoimento para ser levado à Fundação Casa - Rubens Cavallari/Folhapress

A Secretaria da Segurança Pública afirmou que, após coletar o depoimento da funcionária, a polícia encaminhou o caso para a Vara da Criança e do Adolescente.

Segundo a Prefeitura de Taboão, ainda no dia 28, os conselheiros foram até o endereço apontado pela escola como o de residência da família, mas no local foram informados de que o adolescente e seus parentes não viviam mais lá. O órgão tentou entrar em contato por telefone, por meio dos números que constavam do relatório, porém não tiveram sucesso.

Também no dia 28, a escola José Roberto Pacheco enviou email para o CAPSi (Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil) solicitando atendimento ao adolescente e disponibilizou um funcionário para atender a família na unidade, mas mãe e filho não foram ao local, de acordo com o Conselho Tutelar.

No dia 9 de março, uma quinta-feira, a mãe e o adolescente compareceram ao CAPSi e foram avaliados por uma equipe multiprofissional. Nessa consulta, os profissionais perceberam a necessidade de o jovem ser atendido por um psiquiatra e uma consulta foi marcada para o dia seguinte, 10 de março. Entretanto, eles não retornaram.

No dia em que foi constatada a necessidade de atendimento por psiquiatra, o jovem já havia sido transferido para a escola Thomazia Montoro, onde começou a estudar em 6 de março, segundo a Secretaria da Educação do Estado.

A equipe do CAPSi entrou em contato com a mãe para tentar reagendar a consulta para 17 de março. Segundo a prefeitura, ela disse, porém, que não poderia ir devido a compromissos profissionais.

Além do atendimento psicológico, uma investigação por parte da Promotoria de Taboão da Serra teve início no dia 27 de fevereiro, porém travou dois dias após ter sido levada às autoridades competentes.

O caso foi interrompido, segundo o Ministério Público de São Paulo, depois de a família do adolescente mudar de município e o processo ter sido transferido para outra jurisdição, na capital.

A Promotoria de Taboão da Serra recebeu ofício do Conselho Tutelar do município em que foi relatado o comportamento agressivo do jovem. Na ocasião, uma promotora determinou em 1º de março que fosse feita uma avaliação psicológica dele, uma oitiva informal com ele e que a escola apresentasse um relatório sobre as medidas adotadas em relação ao estudante.

No entanto, nenhuma das determinações foi cumprida, já que no mesmo dia o pai do aluno solicitou a transferência de unidade escolar. No dia 6 de março, o Conselho Tutelar informou ao Ministério Público a mudança de domicílio da família do adolescente e, por isso, o caso saiu da Promotoria de Taboão da Serra e foi transferido para São Paulo.

O ATAQUE

Na manhã de segunda-feira (27), o estudante do oitavo ano do ensino fundamental matou a facadas a professora Elisabeth Tenreiro, 71.

Câmeras de segurança registraram o ataque. O adolescente usava uma máscara de caveira, entrou correndo na sala de aula e parte para cima de Elisabeth, que estava em pé.

A docente, que não percebeu a aproximação do aluno, foi atingida nas costas e caiu no chão. Em desespero, alunos tentaram sair da sala, e alguns foram atacados pelo estudante.

Um segundo vídeo mostra o adolescente atingindo outra professora. Ele desfere vários golpes na mulher, que está em pé e tenta se proteger com os braços. Duas mulheres entram na sala, e uma delas consegue imobilizar o adolescente, enquanto a outra retira a faca das mãos dele.

Ainda na segunda-feira (27), após o ataque, o secretário estadual de Educação, Renato Feder afirmou em entrevista a jornalistas que a escola Thomazia Montoro "foi pega desprevenida". "Nesse período de permanência, a diretora não recebeu nenhum aviso e nem [teve] ciência de nada que chamasse atenção."

Na noite de terça (28), a Justiça determinou a internação provisória do adolescente.

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