Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Castro não tem compromisso com solução de caso Marielle, diz viúva e vereadora

Monica Benicio criticou governador do RJ antes de reunião sobre o tema, da qual se recusou a participar por cobrar mais ações

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Rio de Janeiro

A vereadora Monica Benicio (PSOL), viúva de Marielle Franco, se recusou a participar de uma reunião organizada pela Anistia Internacional com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), na tarde desta terça (14) —que marca os cinco anos do assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes.

A entidade faz parte do Comitê Justiça por Marielle e Anderson, que cobra avanço nas investigações do crime.

Monica Benicio foi até o Palácio Guanabara, sede do governo, para falar seus motivos à imprensa. "Nessa mesma data há um ano ele [Castro] recebeu as organizações, Anistia Internacional e os familiares para dizer que tinha compromisso com a elucidação do caso. E a gente não vê isso, nem publicamente nem na prática. Inclusive naquela ocasião, o governador tinha ao seu lado Allan Turnowski, que era então secretário de polícia, que ele disse que era seu homem de confiança", declarou.

Monica Benicio enxuga lágrima em missa
A vereadora Monica Benicio (PSOL), viúva de Marielle Franco, em missa pelos cinco anos do assassinato, nesta terça (14) no Rio - Mauro Pimentel/AFP

Em nota, Castro declarou ter compromisso com a elucidação do caso e garantiu apoio incondicional à ação conjunta entre a Polícia Civil, o Ministério Público e a Polícia Federal.

O governador destacou que atendeu um pedido feito pela Anistia no ano passado, de manter a equipe de investigação da Delegacia de Homicídios responsável pelo caso. Castro também prometeu continuar dando à Polícia Civil "todas as condições para que possam da melhor forma possível investigar quem quer que seja e, por fim, chegar ao responsável pelo crime".

Turnowski foi preso em setembro de 2022 suspeito de participar de um esquema para executar o bicheiro Rogério de Andrade. A acusação da Promotoria baseia-se em mensagens do delegado Maurício Demétrio, nas quais afirma que o ex-secretário da corporação sabia do plano, que não foi concretizado. Ele responde em liberdade e nega o crime.

Segundo a denúncia, o ex-chefe de Polícia "atuava de forma velada e dissimulada. Ele obtinha informações junto aos asseclas de Rogério Andrade, como Jorge Luiz Fernandes (Jorginho) e Ronnie Lessa, e repassava para Fernando Iggnácio, por meio de Maurício Demétrio e Marcelo e, com base nas informações obtidas, deliberavam estratégias para enfraquecer o grupo rival".

Lessa está preso, desde 2019, pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Demétrio também preso, suspeito de chefiar um esquema de cobrança de propinas. Iggnácio, apontado como bicheiro rival de Andrade, foi morto em novembro de 2020. Marcelo José Araújo de Oliveira seria elo entre Iggnácio e a Polícia Civil.

Monica Benicio relembrou que nas conversas anexadas pela Promotoria, Turnowski teria enviado um emoji a Demétrio supostamente rindo de uma piada a respeito da morte da vereadora.

"Allan, que o governador disse que ele era seu homem de confiança, foi preso e que teve inclusive uma série de reportagens falando a respeito do seu descaso e não comprometimento com a memória da Marielle, fazendo chacota com o seu assassinato", disse.

"Com o fascismo a gente não dialoga. Então, eu não vou ficar ao lado do governador para ele fazer uma foto bonita dizendo que um ano depois de receber a gente está recebendo novamente porque tem compromisso com esse caso", afirmou.

Ainda segundo Benicio, "a mão do governador Cláudio de Castro está suja do sangue de Marielle Franco enquanto ele não se comprometer de fato que o Estado responda quem mandou matar e o porquê".

"Cinco anos é tempo demais, a democracia não pode esperar, os familiares não podem mais esperar, a sociedade brasileira e a comunidade internacional exigem resposta", disse.

Indagada sobre o motivo de acreditar que o governador não possui compromisso, ela apontou o fato de os mandantes não terem sido encontrados após cinco anos do crime.

"Não respondeu porque não pode, não respondeu por incompetência ou não respondeu porque forças políticas estão impedindo que essa investigação chegue ao final. E, na base do governador, a gente segue com o apoio de políticos que declaradamente são contrários aos posicionamentos que Marielle tinha", disse Benicio.

Reunião

A reunião, que estava marcada para ter início às 15h começou às 16h45, após atraso do governador. Ao final, às 18h, a diretora da Anistia Internacional, Jurema Werneck, afirmou à imprensa que espera não ter de voltar ano que vem.

"Falamos claramente para ele [Castro] que a gente não quer voltar ano que vem. Cinco anos é tempo demais de não ter respostas. Cinco anos é tempo demais da gente não saber quem mandou matar Marielle Franco e por quê? O governador nos disse que reconhecia que é vergonhoso o estado do Rio de Janeiro não ter não ter uma resposta em relação a isso", afirmou.

Ao seu lado estava Agatha Arnaus, viúva de Anderson Gomes. Ela disse estar cansada de esperar uma solução para o crime. " É cansativo demais, é cansativo ouvir que é um crime difícil de ser investigado, de ser desvendado. E é claro que já teve um momento de compreensão, mas o cansaço é inevitável. Quero também encerrar esse ciclo e ter uma resposta", afirmou.

Na noite desta segunda (13), Monica Benicio e outros familiares de Marielle se reuniram com a Polícia Federal, que passou a auxiliar no caso a partir de determinação do ministro da Justiça, Flávio Dino.

"A esperança que a gente tem agora nesses últimos momentos é a chegada da Polícia Federal, somando ao governo do estado para que consigamos chegar ao final dessas investigações", declarou.

Sobre a reunião com a PF, ela afirmou que foi animadora. "Em cinco anos foi a primeira vez, o primeiro momento em que um oficial, uma autoridade, nos recebeu primeiro prestando solidariedade, falando que lamentava a nossa perda e depois dizendo que também era uma questão de honra para a Polícia Federal elucidar esse caso", disse.

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