Investigações da Polícia Civil indicam que apenas uma quadrilha, alvo de mandados de prisão e de busca e apreensão nesta terça (28), pode ser responsável por comprar centenas de celulares furtados ou roubados por semana em São Paulo.
A ação foi desencadeada como parte de uma investigação conduzida por equipes do 27° DP (Campo Belo), na zona sul de São Paulo. A apuração durou cerca de um ano.
A Polícia Civil havia solicitado a prisão de 34 suspeitos de integrar a quadrilha. No entanto, a Justiça decretou a prisão preventiva de cinco pessoas: quatro senegaleses e um chileno. As ordens foram cumpridas em pontos na cracolândia, na região central. Os acusados devem responder pelos crimes de organização criminosa e receptação.
Foram autorizadas, ainda, 34 ações de busca e apreensão em diversos endereços, sendo 29 deles no centro, 2 nas zonas leste e oeste, e 1 na zona sul. Os pedidos de busca haviam sido autorizados pela Justiça em 10 de março. Já os de prisões, três dias depois.
Por volta das 8h30, a Polícia Civil informou ter capturado um dos procurados. Ele estava em um imóvel nas imediações da praça Júlio Mesquita.
No mesmo horário, policiais apreenderam diversos aparelhos em uma loja na avenida Rangel Pestana, no Brás. O estabelecimento seria de um dos procurados na ação. No total, foram apreendidos 53 celulares, além de notebooks, tablets e outros objetos eletrônicos.
A atuação da quadrilha entrou na mira da polícia em meio a investigações de três ladrões de celulares que agiam no entorno da avenida dos Bandeirantes, na zona sul, importante via de ligação entre a marginal Pinheiros e a rodovia dos Imigrantes. Entre maio e junho do ano passado, foram cumpridos 60 mandados de busca e apreensão.
Com base nas apurações contra esse trio, a polícia chegou a um suspeito cujos celulares acabaram apreendidos. De um dos aparelhos foram extraídas conversas sobre um grupo no WhatsApp, formado em grande parte por senegaleses, em que o objetivo era a negociação de aparelhos furtados ou roubados.
Em uma dessas conversas, um dos alvos da ação chegou a negociar a comprar de 40 celulares em um período de três dias. O homem é um senegalês que está no Brasil desde o início de 2017, de acordo com a delegada Maria Rezende Corsato, responsável pela investigação. Ele chegou a ficar detido por cinco dias no ano passado, mas sua prisão não foi prorrogada e ele acabou sendo colocado em liberdade.
O grupo, que se esconde em hotéis e pensões na região da cracolândia, tem toda uma dinâmica de trabalho, segundo as apurações.
Ladrões espalhados pela capital são responsáveis por atacar motoristas parados em semáforos ou no trânsito —por isso, o bando recebeu o nome de quebra-vidro.
Com os aparelhos em mãos, eles já sabem para quem vender, acionando os compradores por meio de aplicativos de mensagem. Já na região da cracolândia, os aparelhos são desbloqueados e revendidos no país ou encaminhados para o exterior.
Segundo as investigações, os criminosos montaram uma tabela de preço dependendo do modelo furtado ou roubado. Após o crime, eles fotografavam o celular tomado e enviavam a imagem por meio de um grupo, detalhou a delegada.
"Se eles tinham a mesma rede de abastecimento que o alvo 1, em período parecido eles comercializavam de 150 a 200 aparelhos em três dias", disse Corsato para a Folha. "É possível afirmar que 80% dos aparelhos furtados ou roubados pelo [bando] quebra-vidro são encaminhados para essa quadrilha."
Apenas no Carnaval deste ano, a polícia registrou 3.486 roubos e furtos de celular em todo o estado de São Paulo. A SSP (Secretaria de Segurança Pública) não informou a quantidade de celulares levados, já que um boletim de ocorrência pode se referir a mais de um aparelho.
Segundo a SSP, houve o registro de 595 boletins de ocorrência acerca de celulares recuperados e devolvidos aos donos.
Durante a passagem do bloco Agrada Gregos, no entorno do parque Ibirapuera, zona sul de São Paulo, a Polícia Civil prendeu 12 pessoas e apreendeu uma adolescente por furto de celulares.
A quadrilha era formada por 12 estrangeiros vindos da Argentina, Colômbia e Peru, segundo a delegada Fernanda Herbella, da Deatur (Delegacia de Polícia de Atendimento ao Turista). Apenas uma suspeita era brasileira. Entre os detidos estavam nove mulheres e quatro homens. Durante a ação foram recuperados 46 celulares.
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