Risco de novos deslizamentos leva mais de 100 famílias a saírem de casa em Manaus

Na noite de domingo, oito pessoas morreram após imóveis ficarem soterrados

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Manaus

O risco de novos deslizamentos no bairro Jorge Teixeira, na zona leste de Manaus, levou a prefeitura a retirar ao menos cem famílias de suas casas e abrigá-las numa escola. Até esta segunda (13), houve a interdição de mais de 130 imóveis.

A medida foi tomada após um deslizamento destruir ao menos 11 casas que ficavam na encosta de uma área verde no bairro na noite deste domingo (12), causando oito mortes.

Morreram Clebson Nunes Barbosa, 34, Jucicleia Barbosa da Silva, 32, Kaleb Mendes Nunes, 7, e Eloísa de Lima Referino, 7, e os venezuelanos Rosmig Yelena Salazar, 44, Dainelson Rosniel Alvarado Salaza, 5, Israel Jonniel Franco, 7, e Ilan Yoan Franco Colared, cuja idade não foi divulgada.

O acidente que tirou a vida delas foi uma das 120 ocorrências atendidas pela Defesa Civil na cidade neste domingo (12) devido a alagamento e deslizamentos.

"Escutamos gritos, o barulho. Foi muito triste", afirma o motorista venezuelano Héctor Castelhanos, 47, cuja família está entre as que tiveram de deixar suas casas no bairro.

Ele perdeu os vizinhos e, nesta segunda, vigiava sacolas de roupas e alguns objetos retirados da moradia em que vivia com a mulher, filha e netos.

A imagem mostra pessoas sujas de lama
Bombeiros e voluntários atuam no resgate de vítimas de desmoronamento em Manaus - Facebook/Prefeitura de Manaus

"A economia no Brasil está melhor", disse Héctor ao revelar que veio ao Brasil em busca de trabalho, mas que seu projeto é voltar ao seu país em dois anos.

O motorista diz que os vizinhos que acabaram vítimas do deslizamento também buscavam viver melhor. "Conhecia todos, eles estavam buscando uma melhora de vida para eles e seus filhos."

Um dos moradores que ajudaram no resgate dos corpos, o desempregado Carlos Silva, 38, afirmou que estava voltando da igreja para casa quando o acidente ocorreu.

A comunidade estava sem energia elétrica e algumas pessoas usavam o celular para para iluminar o ambiente. Outros tiravam a lama e o entulho e auxiliavam a retirada de moradores das casas que foram atingidas pela lama.

"Descemos desesperados. A gente estava tirando só com a mão mesmo. Alguns tinham pá, machado. Outros tinham baldes. Foi um desespero tão grande que ninguém suportava. Estava todo mundo trabalhando e chorando."

Dono de um restaurante em uma rua próxima ao local onde ocorreu a tragédia, Giovane Souza, 31, diz que ajudou no resgate dos corpos. "Quando cheguei e vi as pessoas desesperadas, pensei: tem que ser na mão. A gente usou a mão, panela... O que a gente achava."

Ele conta que os moradores tinham a esperança de encontrar as pessoas vivas e que, no início, ouviram a voz de uma mulher. Inicialmente, eles a chamavam pelo nome e ela respondia. Duas horas depois, conseguiram alcançar o local de onde a voz pediu socorro. "Ela estava abraçada com a filha, já estavam mortas."

Embora Manaus esteja na estação chuvosa, que vai de dezembro a abril, período de maior precipitação na cidade, o volume de água no domingo ficou acima do normal, com 100 milímetros de chuva —a média é 60 milímetros.

O geólogo e pesquisador do CPRM (Serviço Geológico do Brasil) Gilmar Honorato afirmou que um estudo feito em 2019 apontou 1.600 áreas consideradas de risco muito alto em Manaus em eventos como inundações, enxurradas e alagamentos.

Segundo o CPRM, nesses locais havia 18 mil moradias com cerca de 73 mil pessoas. As áreas de risco se concentravam sobretudo nas zonas norte e leste, que são as mais populosas da cidade e são marcadas por por moradias precárias frutos de ocupações desordenadas ao longo das últimas décadas.

O geólogo destaca que o local onde as oito pessoas morreram não constou neste estudo porque, na ocasião, as moradias atingidas pelo deslizamento ainda não haviam sido erguidas.

"Manaus, com crescimento populacional, tende a ter mais áreas de risco. Se não houver fiscalização para desocupação de encostas e áreas sujeitas a alagamento, é possível que aumentem as áreas de risco", disse Honorato.

Ele acrescentou que o estudo do CPRM deveria ser atualizado todos os anos por técnicos da prefeitura para evitar acidentes como o deste domingo.

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