Descrição de chapéu transporte público greve

Vaivém de decisões sobre greve do metrô confunde passageiros, que aguardam reabertura

Governo de SP chegou a anunciar liberação de catracas, mas Justiça ordenou retomada; à noite, usuários buscavam ônibus

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São Paulo

Após encontrarem portas fechadas em estações por causa da greve do metrô, alguns passageiros escolheram esperar a possível abertura do embarque na Barra Funda na tarde desta quinta (23).

Entre o tédio da espera e a apreensão, as pessoas aguardavam a retomada da circulação após um anúncio de passagem gratuita feito durante a manhã.

A medida, acordo entre o sindicato e o metrô, animou quem sofreu com os transtornos causados pela paralisação, que suspendeu a circulação de trens nas linhas 1-azul, 2-verde, 3-vermelha e 15-prata. Durou pouco. O Metrô recuou horas depois. Por volta do meio-dia, o TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região) determinou a retomada parcial da operação.

Passageiros em pé na entrada do metrô
Passageiros aguardam decisão sobre reabertura do metrô na estação Barra-Funda, na zona oeste de SP - Bruno Santos/Folhapress

Foi nesse horário que o estudante de gestão financeira, Derick de Farias, 19, resolveu tentar a sorte para embarcar na Barra Funda. Ele queria chegar à universidade, próxima à estação Belém, na zona leste, para tentar assistir às aulas noturnas. "As de tarde eu já perdi, mas o problema é voltar para casa. Eu moro em Itapevi e dependo muito do metrô", afirmou.

Com ele estava Giovanna de Souza, 18, moradora do Jardim Vista Alegre que ia para o Tatuapé. "Eu trabalho em telemarketing e preciso estar lá às 14h30", afirmou, às 14h35.

Os colegas Mara Almeida, 45, Selma Margarida, 42, e Alexandre Silva, 21, também aguardavam desde o meio-dia na área de embarque do metrô da Barra Funda. "Ontem só cheguei por milagre, porque o segurança falou que já estava tudo em greve", disse Selma, que trabalha no período noturno como auxiliar geral em um shopping. "Minha chefe me pediu uma prova da greve. Pois vim e tirei a foto", afirmou.

A espera já durava cinco horas para Carlos de Almeida, 47, que havia viajado durante a noite de Cuiabá para São Paulo. "Só que não era para eu parar aqui na Barra Funda, porque tenho que pegar um ônibus no Tietê", disse ele, que esperava a volta do metrô desde às 9h. "Vou ao Rio passear."

Ainda não havia definição sobre a retomada da operação no fim da tarde desta quinta. No fim da manhã, o TRT-2 deferiu liminar a pedido do Metrô que determina o funcionamento de 80% do serviço nos horários de pico (entre 6h e 10h e entre 16h e 20h) e de 60% nos demais horários, durante todo o período de paralisação, com pagamento de tarifa.

Volta para casa

Por volta das 17h15, a Companhia do Metropolitano de São Paulo informou que reabriu trechos das estações das linhas 1-azul, 2-verde e 3-vermelha.

Na azul, segundo o anúncio, era possível circular da estação Ana Rosa à Luz. As viagens da linha verde vão da estação Alto do Ipiranga à Clínicas. Já na linha vermelha, os passageiros conseguem ir da Santa Cecília à Bresser-Mooca. A operação seguiu até as 20h.

Restavam des minutos para o fechamento da estação Ana Rosa quando o porteiro Insnaik Santana, 30, chegou ao local. Morador de Suzano, na Grande São Paulo, ele contou que foi liberado pelo patrão 1 hora mais cedo para conseguir tomar o metrô até a Luz.

No mesmo horário, muitas pessoas desciam apressadas as escadas em direção à plataforma. Uma fila se formou para passar pela catraca.

A auxiliar de enfermagem Daniela Boldrini, 37, foi uma das últimas passageiras a chegar de metrô à estação. Ela havia embarcado, momentos antes, na estação Vergueiro, da linha 1-azul. Segundo ela, a viagem ocorreu sem intercorrências, com vagões vazios. Agora, buscaria tomar um ônibus até a estação Jabaquara, na zona sul, e depois seguir até São Caetano do Sul, onde mora.

Em virtude da grave, Boldrini disse ter chegado mais de uma hora atrasada em uma consulta médica que não poderia desmarcar.

Mais cedo, na avenida Paulista, "paciência" era a palavra mais citada por usuários do transporte que aguardavam ônibus em um ponto nas proximidades da estação Trianon-Masp da linha 2-verde do metrô, na noite desta quinta-feira.

Por volta das 18h40 mais de 50 pessoas se aglomeraram na parada. Os destinos eram os mais variados, mas os ônibus com passageiros pendurados nas portas seguiam em direção aos bairros das zonas norte e oeste da capital paulista.

"Está um caos. Isso atrapalha muito a gente que já está acostumada com um trajeto", disse a produtora gráfica Arlete Alcântara, 53.

Moradora de Interlagos, na zona sul, ela disse que aguardava um ônibus mais vazio para seguir até a rua da Consolação, onde tomaria um metrô até Pinheiros. De lá embarcaria em um trem até o Grajaú.

Quem também estava desconfortável com a situação era a bancária Cláudia Panini, 39. Ela, que mora no Limão (zona norte) e usualmente utiliza ônibus para voltar para casa, vislumbrava um dia atípico através do trânsito e da demora no transporte.

"Nem a pista [congestionada] nem o ponto [cheio]. Está demorando para o ônibus passar. Já estou aqui há 30 minutos, em dias normais não passa de dez minutos", detalhou.

O bancário Augusto Costa, 30, encontrava em seus fones de ouvido um passatempo enquanto seu ônibus em direção para casa não chegava. Quando já estava havia 40 minutos no ponto, uma primeira condução que poderia servir passou lotada.

"De manhã vim de Uber, agora nem vou tentar, o trânsito é para passar raiva, vou ficar muito tempo parado." Logo depois de conversar com a Folha ele conseguiu embarcar em um ônibus em direção à Vila Romana.

No sentido Vila Mariana, havia lentidão no trânsito, mas os ônibus não seguiam lotados.


Entenda a greve no metrô de SP

O que os metroviários pedem

  • Pagamento de abono salarial para repor o não pagamento das PRs (participação nos lucros) de 2020 a 2022
  • Revogação de demissões por aposentadoria especial
  • Revogação de desligamentos realizados em 2019
  • Fim das terceirizações e privatizações
  • Abertura imediata de concurso público para repor o quadro defasado de funcionários

O que diz o Metrô

Afirma não ter dinheiro para pagar o abono salarial neste momento, alegando que a empresa teve quedas significativas de arrecadação devido à pandemia e ainda não teve o retorno total da demanda de passageiros, se comparada a 2019

Vaivém sobre abertura das catracas

Na véspera da greve

  • Justiça rejeita liminar do Metrô e permite catraca livre em caso de greve
  • Sem acordo com empresa, metroviários anunciam greve
  • Metrô não divulga se vai liberar passageiros de graça

No dia da greve

  • Metroviários entram em greve, com estações fechadas
  • Funcionários afirmam que voltariam ao trabalho com catracas livres
  • Metrô anuncia que aceita liberar catracas
  • Metroviários dizem que estão a postos para trabalhar, mas estado não libera passageiros
  • Gestão Tarcísio acusa funcionários de não terem voltado ao trabalho
  • Justiça revê decisão e manda metroviários garantirem 80% do serviço durante a greve
  • Funcionários dizem que não vão voltar ao trabalho sem catraca livre

7.200
metroviários compõem o quadro. Desse total, 3.800 são funcionários diretamente ligados à operação dos trens, sendo que cerca de 700 trabalham ao mesmo tempo nas quatro linhas

3 milhões
é o número atual de passageiros do sistema por dia, segundo o Metrô. Antes da pandemia, a média ficava entre 3,8 milhões e 4 milhões de passageiros

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