Metroviários dizem que governo Tarcísio mentiu e mantêm greve mesmo após decisão judicial

Gestão estadual afirma que os funcionários descumpriram acordo de voltar ao trabalho após liberação de catracas

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São Paulo

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo afirmou que vai manter a greve do metrô mesmo após decisão judicial determinar o funcionamento de no mínimo de 80% da operação durante os horários de pico.

A categoria afirma que o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) mentiu ao dizer que liberaria as catracas ao mesmo tempo em que ingressava com pedido de liminar.

O governo estadual, por sua vez, afirma que os funcionários descumpriram o acordo e não voltaram aos postos de trabalho como combinado.

Greve dos metroviários, que começou à 0h desta quinta-feira (23) em São Paulo; categoria cobra abono salarial - Bruno Santos/Folhapress

Em entrevista nesta quarta, Camila Lisboa, presidente do sindicato, acusou o governador Tarcísio e o presidente em exercício do Metrô, Paulo Menezes Figueiredo, de mentir para a categoria. Figueiredo enviou uma carta para o sindicato, concordando com a catraca livre desde que 100% do quadro de funcionários retomassem os trabalhamos.

"Quase 12h e não vinha autorização do metrô, enquanto isso Tarcísio mentiu para população, para imprensa e para os funcionários, porque ao mesmo tempo em que dizia que teria catraca livre fez um pedido na Justiça", disse Lisboa.

"A carta veio da direção do Metrô, subordinado ao governo de São Paulo. Quando o Metrô nega o pedido de reajuste diz que não tem autorização do governo. O Metrô não autorizaria catraca livre sem autorização do estado, e isso eu ouvi da presidência", afirma. "Queremos abrir negociação com o Tarcísio, governador que teve um aumento no seu salário de 50%", disse.

A Secretaria de Comunicação do Governo divulgou, em nota por volta das 9h10, que a catraca livre seria colocada em prática.

Quase três horas depois, o governo informou à imprensa sobre a decisão, em caráter liminar, que determinava o funcionamento de 80% do serviço do metrô nos horários de pico (entre 6h e 10h e entre 16h e 20h) e com 60% nos demais horários, durante todo o período de paralisação, com cobrança de tarifa.

Mesmo após o mandado de segurança concedido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, o Sindicato dos Metroviários resolveu manter a greve, pelo menos até uma audiência no final desta tarde.

VAIVÉM

Já o governo afirma que, "diante da continuidade da paralisação por parte do Sindicato dos Metroviários mesmo com a liberação das catracas, obteve na manhã desta quinta-feira (23) liminar que determina o retorno da categoria ao trabalho".

A entidade, pouco antes das 11h, afirmou que 100% da categoria já tinha retomado as funções e aguardava apenas a liberação das catracas para a retomada das operações.

No meio do vaivém entre as duas partes, os passageiros estão desde as primeiras horas do dia sem conseguir chegar aos seus destinos e com poucas alternativas. A greve gerou um caos no transporte coletivo da capital paulista nesta quinta, com multidões na frente das estações afetadas, ônibus lotado e mais de 800 km de trânsito, maior número registrado para o horário este ano.

A greve dos metroviários paralisa as linhas 1-azul, 2-verde, 3-vermelha do metrô desde o início da manhã, além da linha 15-prata do monotrilho. As linhas 4-amarela e 5-lilás, que são operadas por concessionárias, circulam normalmente, assim como os trens da CPTM.

Por volta das 8h, o Sindicato dos Metroviários determinou o retorno ao trabalho. Segundo a entidade, a medida foi tomada porque o Metrô tinha se comprometido a operar com catraca livre, sem a cobrança de tarifa.

"Atenção metroviários e metroviárias, o Metrô acabou de enviar uma carta aceitando a liberação da catraca. Ele pediu ao sindicato e à categoria para saber em quanto tempo a gente volta para o posto de trabalho. Nós estamos orientando a todos a voltarem neste momento para os seus postos de trabalho, de todas as áreas", disse a presidente do sindicato, Camila Ribeiro Lisboa.

Uma hora depois, a assessoria do governo Tarcísio confirmou a decisão de abrir as catracas para por fim à paralisação. Apesar disso, as cinco linhas afetadas continuam fechadas.

"A gente está esperando a volta de 100% da categoria. Assim que todos estiverem nos postos haverá a retomada com a catraca livre. Essa não é a condição atual", informou a companhia.

O sindicato garante que todos os funcionários já retornaram aos postos há mais de uma hora.

"Já faz mais de uma hora que todos os funcionários estão nos postos aguardando a liberação para a retomada. O governador está proibindo a abertura das estações com a catraca livre", disse Narciso Soares, vice-presidente da entidade.

No início da tarde, o TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região) ordenou que parte do metrô volte a funcionar durante a paralisação. Nos horários de pico, que compreendem entre 6h e 10h e entre 16h e 20h, 80% do serviço deve voltar a operar. Já nos demais horários, será 60%.

A decisão foi do desembargador Ricardo Apostólico Silva. Segundo o tribunal, se a ordem não for acatada, o sindicato dos metroviários será multado no valor de R$ 500 mil por dia.

O Metrô diz que tentou todas as formas de negociação, inclusive com a concessão de benefícios como o pagamento de progressões salariais. A empresa também afirmou que cumpre integralmente com o acordo coletivo de trabalho e as leis trabalhistas.

Narciso Fernandes Soares, vice-presidente da entidade, disse que deve ocorrer nova assembleia no final do dia para decidir os próximos passos da greve.

"A ideia é fazer assembleia também no final do dia para discutir a sequência da nossa negociação com o Metrô, queremos que o Metrô negocie com a categoria, atenda os desejos da categoria e, nesse momento, a pressão é a catraca livre que foi uma coisa que o sindicato propôs desde o início da madrugada, desde ontem à noite. Vamos voltar [ao trabalho] para atender a população, sem a população ter que pagar passagem", afirmou.


Entenda a greve no metrô de SP

O que os metroviários pedem

  • Pagamento de abono salarial para repor o não pagamento das PRs (participação nos lucros) de 2020 a 2022
  • Revogação de demissões por aposentadoria especial
  • Revogação de desligamentos realizados em 2019
  • Fim das terceirizações e privatizações
  • Abertura imediata de concurso público para repor o quadro defasado de funcionários

O que diz o Metrô

Afirma não ter dinheiro para pagar o abono salarial neste momento, alegando que a empresa teve quedas significativas de arrecadação devido à pandemia e ainda não teve o retorno total da demanda de passageiros, se comparada a 2019

Vaivém sobre abertura das catracas

Na véspera da greve

  • Justiça rejeita liminar do Metrô e permite catraca livre em caso de greve
  • Sem acordo com empresa, metroviários anunciam greve
  • Metrô não divulga se vai liberar passageiros de graça

No dia da greve

  • Metroviários entram em greve, com estações fechadas
  • Funcionários afirmam que voltariam ao trabalho com catracas livres
  • Metrô anuncia que aceita liberar catracas
  • Metroviários dizem que estão a postos para trabalhar, mas estado não libera passageiros
  • Gestão Tarcísio acusa funcionários de não terem voltado ao trabalho
  • Justiça revê decisão e manda metroviários garantirem 80% do serviço durante a greve
  • Funcionários dizem que não vão voltar ao trabalho sem catraca livre

Scores

7.200
metroviários compõem o quadro. Desse total, 3.800 são funcionários diretamente ligados à operação dos trens, sendo que cerca de 700 trabalham ao mesmo tempo nas quatro linhas

3 milhões
é o número atual de passageiros do sistema por dia, segundo o Metrô. Antes da pandemia, a média ficava entre 3,8 milhões e 4 milhões de passageiros

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