Descrição de chapéu Obituário Carmélia da Conceição Nunes Bernardes (1945 - 2023)

Mortes: Crescida em orfanato, retribuiu o carinho educando crianças

Carmélia Bernardes orientou crianças por 20 anos e se devotou à família

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São Paulo

O bolo e a carne de panela da avó Carmélia sempre foram imbatíveis para os dois netos. A habilidade era motivo para a tradicional brincadeira de fazer ciúme, diz um deles, Calebe Souza, 25. "Tudo bem gostoso, ninguém fazia igual. Até dizia: 'Vó, a senhora faz um almoço melhor que minha mãe'. Era aquela ciumeira."

Não era à toa. O alto nível na cozinha foi lapidado durante os 25 anos em que ela cuidou de crianças no antigo orfanato Lar das Flores, mantido pelo Exército da Salvação em Suzano (SP).

A tarefa de criar e educar foi uma forma de retribuição. Carmélia da Conceição Nunes Bernardes nasceu em Jacareí, no interior paulista, em 1945. Sem condições financeiras, os pais, agricultores, deixaram Carmélia, a mais velha de três filhos, aos cuidados do orfanato.

Carmélia e josé posam para foto. estão sentados em um sofá, ela abraça José com o braço esquerdo, ele olha para o lado esquerdo
Carmélia Bernardes (1945-2023) e o marido, José Bernardes, 78 - Arquivo pessoal

"Minha mãe ficou lá até completar a maioridade, quando virou funcionária, e conheceu meu pai no orfanato", diz a filha Marisa Nunes Bernardes de Sousa, 53.

Carmélia encontraria seu par, José Rodrigues Bernardes, hoje com 78 anos, ainda na adolescência. Ele era filho de um dos casais de funcionários que tomavam conta de uma das casas do orfanato. Cada dupla de tio e tia, como eram chamados os tutores, geria 1 das 10 casas no local, onde moravam até 12 crianças.

Além de filantrópica, o Exército da Salvação é uma organização religiosa. Assim, todas as crianças deveriam frequentar os cultos em um salão, onde também eram realizadas atividades musicais e de estudo.

Marisa e a irmã, Márcia Mendes, 55, cresceram no orfanato, assim como o pai, José, e chegaram a ajudar a mãe na rotina. "Nós dávamos aula de reforço dentro do orfanato aos 15 anos, foi nosso primeiro trabalho."

Para ela, numa época de educação rígida, só conseguia fazer o que a mãe fez quem era inspirado. "Só quem tinha o chamado, conhece a obra e se dispõe a fazer."

Mais de duas décadas depois, Carmélia trocou a árdua tarefa de educar crianças por trabalhos mais amenos no orfanato, como cuidar das roupas, com a mesma devoção que teve pelas filhas e a família.

Carmélia teve um acidente vascular cerebral, que debilitou sua saúde. Ela foi internada em fevereiro para tratar um derrame de líquido nos pulmões, e sofreu outros dois AVCs. Morreu em 27 de março, aos 77 anos. Deixa a irmã, Maria José Bernardes Santos, 74, o marido, as filhas e os netos Calebe e Lucas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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