Descrição de chapéu yanomami

Mensagens e depoimento ligam senador a suspeitos de fraude na saúde yanomami

Mecias de Jesus é padrinho político de três ex-coordenadores suspeitos de desviar dinheiro público; parlamentar diz que não tem responsabilidade sobre eventuais ilícitos

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Brasília

A Polícia Federal apura a relação entre o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e investigados em um esquema de desvio de medicamentos destinados ao povo yanomami.

Documentos da investigação, aos quais a Folha teve acesso, reforçam suspeitas de proximidade entre o parlamentar e os investigados. Há diálogo em que Mecias é chamado de "chefe" por um ex-funcionário do Dsei (Distrito de Saúde Indígena) Yanomami. A PF apura o contexto do emprego do termo.

O nome de Mecias também foi citado em um depoimento prestado à polícia por um ex-coordenador do Dsei, que afirmou ter sido indicado ao cargo pelo parlamentar, ainda na época em que o general Eduardo Pazuello era ministro da Saúde de Jair Bolsonaro (PL).

Em nota, o senador afirma que "não tem responsabilidade sobre quaisquer possíveis atos ilícitos de terceiros" e que cabe à PF ao Ministério Público a apuração dos fatos "para um posterior julgamento da Justiça". "Não se pode julgar, nem condenar alguém, sem o devido processo legal", diz.

Senador Mecias de Jesus, um homem moreno, vestindo terno cinza e gravata azul, de pé, discursando
Senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) no Senado - Jane de Araújo/Agência Senado

Quem chama Mecias de Jesus de "chefe" é Cândido Lira, então assessor do coordenador do órgão, Ramsés de Almeida.

De acordo com os documentos da PF, Cândido entra em contato com o senador para informá-lo da sua exoneração. Diz ainda que "nossas pessoas" estão sendo demitidas.

O ex-assessor também liga para o filho de Mecias, o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Jhonatan de Jesus, para avisá-lo de que foi mandado embora do seu posto.

O material traz ainda conversas de WhatsApp de uma ex-funcionária do Dsei com colegas de trabalho. Sem resposta, ela diz, mais de uma vez, que recorrerá a uma pessoa de nome Mecias caso não tenha retorno. Nos diálogos, de março de 2022, ela não cita sobrenomes.

O desvio de medicamentos do Dsei Yanomami foi descoberto pelo MPF (Ministério Público Federal). Em novembro do ano passado, quando a situação sanitária na região já estava crítica, a PF realizou uma operação sobre o esquema.

As supostas fraudes consistiam em inserir dados falsos no sistema do Ministério da Saúde para atestar uma entrega maior do que a realmente realizada, beneficiando a empresa contratada.

O esquema na retenção de medicamentos, em especial vermífugos, o que deixou 10.193 crianças desassistidas, segundo nota divulgada pela PF. O prejuízo aos cofres públicos estimado em uma única entrega foi de R$ 572,5 mil.

Em fevereiro deste ano, a Folha revelou que uma gravação de áudio de uma funcionária do Dsei com um assessor considerado o braço direito do então coordenador da unidade reforçava suspeitas de fraude em esquema de fornecimento de medicamentos básicos aos indígenas.

Em outro documento da PF obtido, a ligação do senador com o caso é investigada por uma troca de mensagens entre Claudia Winch (então chefe do abastecimento de medicamentos do órgão) tanto com Ramsés quanto com Cândido.

Em depoimento prestado na investigação, Rômulo Pinheiro, que também foi coordenador o distrito de saúde, afirma que sua nomeação, durante a gestão de Pazuello, se deveu a uma indicação do senador.

Mecias de Jesus e seu filho foram os responsáveis por indicar para o cargo de coordenador órgão Ramsés, Rômulo e o antecessor dele, Francisco Dias Nascimento.

Na nota enviada à Folha, Mecias de Jesus confirmou a indicação, mas disse que elas "obedeceram a critérios técnicos e que foram submetidas e aprovadas por todos os órgãos federais responsáveis". Afirma ainda que "não tem responsabilidade sobre quaisquer possíveis atos ilícitos de terceiros e não teve ingerência dentro do distrito".

Cândido, Cláudia, Rômulo e Ramsés foram alvos de pedidos de prisão temporária, negados pela Justiça Federal, que, no entanto, autorizou operações de busca e apreensão contra eles, além da suspensão das atividades que exerciam.

A Folha procurou os quatro desde o final de abril por telefone, mas não obteve retorno.

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