Descrição de chapéu Obituário Marcelo Richard Zelic (1963 - 2023)

Mortes: Sonhador e realizador que defendeu os direitos dos indígenas

Marcelo Zelic reuniu documentos sobre a violência contra os povos originários e as violações praticadas na ditadura

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São Paulo

Marcelo Zelic ensaiou uma formação em jornalismo na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, mas desistiu da faculdade. "Largou o curso para fazer trabalho de base. Tinha efervescência de superar a ditadura", afirma a professora Paula Capriglione, 61, sua companheira.

Sua trajetória foi marcada pela defesa da causa indígena e dos direitos humanos. Autodidata, assim conquistou seu espaço como pesquisador.

Marcelo Richard Zelic (1963 - 2023) e a companheira Paula Capriglione
Marcelo Richard Zelic (1963 - 2023) e a companheira, Paula Capriglione - Arquivo pessoal

Zelic foi membro da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais e um dos responsáveis pela inclusão das denúncias de violações dos direitos humanos contra os povos indígenas na Comissão Nacional da Verdade. Ele defendeu a criação da Comissão da Verdade Indígena para reparar as violações sofridas por esse povo.

Criou e coordenou o projeto Armazém Memória. O site reúne documentos que mostram a violência contra os povos originários e as violações praticadas na ditadura. O acervo também abre espaço para outras temáticas, como a sindical e a da luta pela terra.

"Ele trabalhou de domingo a domingo para colocar no ar centenas de milhares de documentos que pertencem à história dos nossos povos. Achou arquivos que ninguém antes tinha visto e com isso fez transformações importantes na nossa democracia", diz a escritora e assessora de comunicação Helena Capriglione Zelic, 27, sua filha.

O pesquisador localizou o Relatório Figueiredo, produzido entre 1967 e 1968 pelo procurador Jader de Figueiredo Correia. O documento mostra relatos de extermínio de populações indígenas, torturas e expulsões de território praticados por servidores do governo federal.

A Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) lamentou a morte do pesquisador e destacou o trabalho recente de Zelic a respeito da tragédia humanitária no Território Indígena Yanomami.

No último mês de abril, participou de uma audiência pública da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais na Câmara dos Deputados, que tratou das violações de direitos humanos dos povos indígenas na ditadura militar. Em março, reuniu-se em Brasília com representantes do Conselho Indigenista Missionário, da Comissão de Paz e Justiça da Arquidiocese de São Paulo e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira para discutir a proteção dos direitos indígenas.

"Marcelo nos ensinou que é preciso perseguir os sonhos para realizar e transformar o mundo", diz Paula.

Na vida pessoal, era sempre gentil e gostava de cuidar das pessoas e de ficar em casa.

"Cuidava de todos nós que estávamos por perto, sempre disposto a dar uma carona ou a tomar um lanchinho falando igual uma matraca. Cuidava da casa com apreço e gentileza. Fazia a comida das cachorras, dormia com elas, varria o quintal, lavava a louça de todo mundo, porque gostava de fazer, porque dizia que pensava melhor enquanto fazia", relata Helena.

Marcelo Zelic morreu no dia 8 de maio, aos 59 anos, por complicações de um AVC. Deixa a companheira, dois filhos, irmãos, nora e cunhadas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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