Descrição de chapéu ataque a escola

'Resta é transformar dor em amor e juntar os cacos', diz diretora de escola atacada em Blumenau

Um mês após crime, quando quatro crianças foram mortas, creche tenta retomar a rotina

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Blumenau

Uma rede de apoio se formou em torno da escola infantil Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), alvo de um ataque que deixou quatro crianças mortas, há exatamente um mês.

Empresários, pais de alunos e pessoas da própria comunidade se uniram na tarefa de modificar o espaço. A principal mudança até agora é no muro, que ficou mais alto e já ganhou nova pintura na parte externa, com desenhos de dinossauros entre flores, lagos, montanhas.

"Um mês de tristeza, de dor e também de luta, porque a gente não parou. A gente está trocando tudo", diz a diretora da creche, Alconides Ferreira de Sena, à Folha.

muro pintado de dinossauro em creche
Fachada da creche cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), recebeu nova pintura após ataque que deixou quatro crianças mortas em 5 de abril - Catarina Scortecci/Folhapress

A pintura interna, onde ficava o parquinho com brinquedos, começou a ser feita no início do mês —as paredes brancas começam a exibir borboleta, arco-íris, árvore. "As próprias crianças vão ajudar a pintar as folhas da árvore, com ajuda dos artistas, mas no tempo delas", conta.

"No momento do ocorrido, eu sou sincera em te dizer que, pra mim, tudo tinha acabado. Mas, antes que eu processasse isso, os pais, as famílias, a comunidade, começaram a se mobilizar por conta própria. Começaram a buscar parcerias, e as ajudas foram surgindo", diz ela. A creche particular funciona há quase 15 anos.

Há um esforço para modificar principalmente a área do parquinho, invadido por um homem de 25 anos na manhã de 5 de abril. Ele chegou de moto, pulou o muro e, em 20 segundos, conseguiu atingir as crianças com uma machadinha. Elas estavam reunidas embaixo de um sombreiro para conversar sobre a Páscoa. A árvore permanece ali, mas tudo em volta foi retirado.

A árvore virou um símbolo de resistência. "Não arrancamos. Vamos ressignificar", diz a diretora. Nesta sexta (5), crianças e funcionários realizaram ato pela paz e amarraram fitas de cetim branco na árvore. Os participantes vestiam uma camiseta branca com palavra "paz" e a figura de um anjo.

A reforma da escola vai continuar. Alconides conta que uma empresa se ofereceu para fazer a drenagem no terreno e outra fará o contrapiso. Uma terceira vai colocar a grama sintética. Por fim, outra vai instalar um novo parquinho com brinquedos.

Ela também planeja colocar grama sintética na calçada que fica em frente à porta principal da creche e onde ainda é possível observar as marcas das velas deixadas na noite daquele 5 de abril, entre flores, mensagens e fotos. As homenagens dos moradores de Blumenau —e mesmo de cidades vizinhas— se estenderam por dias. Ainda hoje chegam correspondências e livros de orações.

Mas a porta principal só foi reaberta completamente em 17 de abril, com o retorno das atividades para as crianças, quase duas semanas após o ataque. Segundo Alconides, nem todos os alunos voltaram. "Teve aquelas que saíram porque os pais quiseram tirar, tem aquelas que no momento não estão vindo, e os pais até querem que elas retornem, mas a criança não tem nem coragem de passar aqui na frente. Tem de tudo. Temos também novos alunos."

"Na minha imaginação, eu achava que ia demorar uns três ou quatro meses para uma família vir aqui, olhar vaga, conhecer o espaço e fazer matrícula. Mas já temos seis crianças novas depois do ocorrido. Isso foi uma surpresa boa pra mim", afirma ela.

Mas o retorno às atividades não é simples. Famílias, alunos e funcionários da escola infantil estão sendo acompanhados por psicólogas ligadas à Prefeitura de Blumenau. A diretora afirma ainda que "quatro funcionárias pediram a conta e outras duas estão afastadas por conta do emocional". O local empregava quase 30 funcionários.

"Na medida em que as crianças forem voltando, a gente deve contratar mais funcionários. É como antes? Não. A gente está bem e sossegado? Claro que não. Mas, neste momento, o que nos resta é transformar dor em amor, juntar os cacos, erguer a cabeçae tentar reconstruir uma história. É o que a gente está fazendo", afirma ela.

Na Cantinho Bom Pastor, além do muro, que agora está mais alto, uma empresa de segurança ofereceu seus serviços para a creche por seis meses, de forma gratuita.

Em outra escola infantil, no CEI Emilia Piske, que pertence à rede pública do município, os pais dos alunos, por conta própria, também resolveram erguer muros após o episódio.

A Prefeitura de Blumenau diz que está fazendo uma vistoria e que há unidades passando por reformas.

Transferido para unidade de segurança máxima

Luiz Henrique de Lima, o homem que matou as quatro crianças, segue preso desde o dia 5 de abril. Recentemente, ele foi transferido para uma unidade de segurança máxima.

"Seguindo orientações do gerenciamento de vagas e por questões estratégicas de segurança, o apenado foi transferido recentemente do Presídio Regional da cidade para Unidade de Segurança Máxima de São Cristovão do Sul", diz a nota da Secretaria de Estado da Administração Prisional e Socioeducativa.

O Tribunal de Justiça informou à Folha que, até o momento, o réu está sendo assistido pela Defensoria Pública do Estado.

A reportagem fez contatos com a assessoria de imprensa da Defensoria Pública ao longo do mês, mas não obteve retorno.

Ele já é réu e responde por quatro homicídios consumados quadruplamente qualificados (motivo fútil, emprego de meio cruel, sem possibilidade de defesa e contra menor de 14 anos) e por cinco tentativas de homicídio, com as mesmas qualificadoras, por causa das crianças que ficaram feridas.

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