Ataque contra creche deixa quatro crianças mortas em Blumenau (SC)

Autor tem 25 anos e foi detido; delegado afirma que ação não foi coordenada nem está ligada a outros atentados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Blumenau (SC), São Paulo, Porto Alegre e Curitiba

Um homem de 25 anos invadiu na manhã desta quarta-feira (5) a creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), e matou quatro crianças. As vítimas são três meninos e uma menina, com idade entre 5 e 7 anos.

Uma machadinha e um canivete foram usados na ação, segundo o tenente Márcio Filippi, comandante do 10º BPM (Batalhão da Polícia Militar). Conforme a apuração, o assassino chegou à escola em uma moto, pulou o muro e escolheu as vítimas aleatoriamente. Ao perceber que as professoras correram para proteger as demais crianças, ele tentou fugir pulando novamente o muro. Em seguida, se entregou.

Segundo a polícia, o autor não tem aparentemente nenhuma ligação com a creche. A motivação para o ataque ainda é investigada.

Ambulâncias e policiais em frente à creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), onde um homem de 25 anos matou quatro crianças nesta quarta (5) - Denner Ovidio/Reuters

Outras quatro crianças feridas foram socorridas e levadas para o hospital Santo Antônio. De acordo com a unidade, são duas meninas de 5 anos e dois meninos de 5 e 3 anos, nenhum deles em estado grave —as quatro se recuperam bem e têm alta prevista para esta quinta (6).

O caso ocorre nove dias após o ataque à escola estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, quando um aluno de 13 anos matou uma professora a facadas e feriu outras cinco pessoas, entre elas três docentes. O adolescente foi detido e está internado na Fundação Casa.

Em entrevista coletiva na tarde desta quarta, o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, afirmou que o ataque em Blumenau é um caso isolado, não conectado a outros atentados.

"Entrevistas prévias [da polícia com o suspeito] indicam que é um fato isolado. Não tem relação com outros fatos e não está relacionado com coordenação ou jogos envolvendo outros criminosos", disse o delegado.

A explicação foi dada pelo delegado na tentativa de tranquilizar pais que estiverem com medo de deixar seus filhos na escola após a divulgação, nas redes sociais, de uma série de notícias falsas.

Há dois anos, o estado de Santa Catarina registrou outro caso de ataque a creche. Em 4 de maio de 2021, um jovem, então com 18 anos, invadiu uma creche na cidade de Saudades usando um tipo de facão e matou três crianças e dois adultos. O autor do crime aguarda julgamento e deve ir a júri popular, de acordo com o Tribunal de Justiça.

O autor do ataque desta quarta em Blumenau foi identificado como Luiz Henrique de Lima. Segundo a Polícia Civil, ele não tinha advogado até a tarde desta quarta. A Defensoria Pública também não havia sido acionada.

Lima tem quatro passagens pela polícia entre 2016 e 2022. A primeira delas, em novembro de 2016, foi uma briga em uma casa noturna. Em março de 2021 ele esfaqueou o padrasto e, em julho do mesmo ano, foi abordado por policiais portando cocaína. Na última ocorrência, de dezembro de 2022, ele quebrou o portão da casa do padrasto e esfaqueou um cachorro.

Segundo a polícia, a escolha do local para o ataque não seguiu um critério lógico. "Foi aleatório, ele estaria numa academia ali nas proximidades e depois achou por bem escolher essa escola como alvo", disse Ronnie Esteves, delegado da Divisão de Investigação Criminal de Blumenau.

O criminoso responderá por quatro homicídios triplamente qualificados e quatro tentativas. A polícia solicitou à Justiça quebras de sigilo telefônico e telemático (de dados que circulam via internet) do homem.

De acordo com o delegado Ulisses, uma psicóloga especialista analisará o criminoso para traçar um perfil psicológico em busca de padrões de comportamento que ajudem a identificar potenciais autores de crimes semelhantes.


Vídeo: Pais buscam informações em creche de SC


As aulas nas redes municipal e estadual foram suspensas até esta quinta (6) em Blumenau. Outras atividades, como a comemoração oficial da Páscoa em um parque da cidade, também foram canceladas.

A prefeitura afirma que o serviço de psicologia do município está à disposição das famílias. "Lamentamos profundamente essa tragédia que causa uma triste marca na história da nossa cidade. Que Deus possa confortar o coração de todas as famílias", disse o prefeito Mário Hildebrandt, segundo a prefeitura.

O governador Jorginho Mello (PL) decretou luto oficial de três dias no estado. "O assassino já está preso. Que Deus conforte o coração de todas as famílias neste momento de profunda dor", afirmou.

No Twitter, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou de "monstruosidade" o ataque. "Não há dor maior que a de uma família que perde seus filhos ou netos, ainda mais em um ato de violência contra crianças inocentes e indefesas", escreveu Lula.

Depois, em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente voltou a lamentar o episódio e pediu um minuto de silêncio em homenagem às vítimas. "Hoje é um dia que deixa a todos nós, seres humanos, enojados", afirmou Lula. "Penso que todos nós, que somos pais, avós, mães e tios jamais imaginávamos que pudesse acontecer."

O CEI (Centro de Educação Infantil) Cantinho Bom Pastor é uma escola particular que atende crianças de 1 a 12 anos e está em funcionamento há ao menos dez anos. Em nota, a escola afirma que ajudará nas investigações e que se solidariza com as famílias.

"Estamos desolados com a tragédia ocorrida no dia de hoje no nosso ambiente escolar, sofrendo terrivelmente e sentindo as dores que afeta cada criança, familiar e amigo. Ainda estamos tentando entender o ocorrido, que atinge o que nos é mais sagrado: a integridade de nossas crianças, que sempre foram aqui recebidas com amor e carinho", declarou a instituição.

Vizinhos da escola se disseram impressionados com a rapidez com que o assassino entrou e saiu da creche sem ser visto.

"A gente pensou que uma criança tinha caído, se machucado. Mas aí [ouvimos] uma senhora gritando, [pensei] acho que é coisa séria", conta Anderson da Silva, proprietário da gráfica localizada em frente ao portão escola.

"Ninguém viu como [o assassino] chegou ou como saiu, foi muito rápido. É uma sensação de impotência, de não conseguir parar esse cara, de não conseguir fazer nada. Nossos filhos iam nessa creche até o ano passado, são amiguinhos deles que estavam ali, a gente imagina a dor dos pais em uma hora dessas", acrescentou.

PROFESSORA PROTEGEU BEBÊS

Uma das professoras da creche disse que trancou a sala onde ficam os bebês para tentar protegê-los.

"Minha parceira de sala chegou correndo dizendo 'fecha a porta, fecha a janela porque um cara assaltou o posto'. Pensamos que era um assalto porque ele invadiu a escola, só que fechei os bebês no banheiro, depois vieram na porta dizendo que ele 'veio matando', ele foi no parque para matar", relatou a professora Simone Aparecida Camargo à NSC TV.

"No parquinho, a turma do pré estava toda no parque fazendo uma roda de conversa. Ele tinha mais que uma arma", acrescentou.

'MEMÓRIA DO MEU FILHO VAI SER HONRADA'

Bruno Bridi, pai de Bernardo Cunha Machado, 5, uma das quatro crianças mortas na creche, disse agradecer os momentos que viveu ao lado do filho e que vai honrar a memória do garoto em seu coração.

"A partir de hoje a memória dele vai ser honrada dentro do meu coração, de cada um que está aqui dentro, de todo mundo, quem vive o drama na pele sabe", disse o pai, em entrevista a jornalistas.

"Como cristão e como militar, vou lutar com todas as forças para continuar no caminho do Senhor e agradeço a Deus por todos os momentos que vivi com meu filho."

Ele também contou sobre os últimos momentos em que esteve com Bernardo, quando deixou o filho na escola na manhã desta quarta. "Hoje ele chegou pela creche imitando o coelhinho, ele e o amiguinho dele. É isso, [vou] fazer valer todos os momentos dele", disse.

À noite, pais, professores e moradores de Blumenau se juntaram em uma vigília em homenagem às vítimas. Velas e flores foram depositadas na porta da escola. O grupo cantava hinos religiosos e fazia orações pelos mortos. Outras quatro crianças tiveram ferimentos graves e foram internadas em hospital.

Ao lado das flores, uma folha de caderno colada no muro da creche trazia a inscrição: "Pai, mãe, suas crianças estão nas orações de Jesus".

Por volta das 18h, pais de alunos ainda passavam na creche para buscar as mochilas, já que crianças saíram rapidamente do local pela manhã.

Funcionários da creche cobriram a porta com um manto preto e seguiam reunidos no interior da unidade até as 19h.

Os pais foram informados que a creche estudaria a possibilidade de retornar as atividades na terça-feira, mas ainda não há uma decisão oficial sobre a reabertura.

Cristiano Farias Martins , Francisco Lima Neto , Caue Fonseca e Catarina Scortecci

Colaborou Fábio Pescarini, de São Paulo

Erramos: o texto foi alterado

Bruno ​Bridi é pai de Bernardo Cunha Machado, 5, e não de Bernardo Pabst da Cunha, 4, que também morreu no ataque a creche em Blumenau (SC). O sobrenome Pabst também foi grafado incorretamente como Pabest. 

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.