Vídeo em que crianças negras ganham banana e macaco de pelúcia será investigado

OUTRO LADO: Influenciadoras negam discriminação racial e dizem que publicações foram retiradas de contexto; polícia abriu inquérito, e Promotoria analisa

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Rio de Janeiro

A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro vão investigar um vídeo em que duas influenciadoras presenteiam crianças negras com uma banana e um macaco de pelúcia. Nas imagens, Nancy Gonçalves e Kerollen Cunha, que são mãe e filha, abordam duas crianças na rua e perguntam se elas querem ganhar dinheiro ou presente.

A publicação do vídeo já foi apagada pelas influenciadoras de suas redes sociais. Só no TikTok, o perfil das duas tem mais de 13 milhões de seguidores. Em nota, a dupla disse que não tinha intenção de discriminar ninguém e afirmou que "as publicações em questão foram retiradas de contexto e interpretadas de maneira distorcida". Elas informaram que vão cooperar com as investigações.

Na foto, mulher branca dá uma banana para criança negra
A influencers Nancy Gonçalve entrega banana a criança negra em vídeo postado nas redes sociais - Reprodução/TikTok

"A assessoria jurídica ressalta que as influenciadoras estão consternadas com as alegações que foram feitas e repudiam veementemente qualquer forma de discriminação racial. Reforçam ainda o compromisso em promover a inclusão, diversidade e igualdade em suas plataformas", disseram em nota.

A publicação repercutiu após a advogada Fayda Belo, especialista em direito antidiscriminatório, denunciar o vídeo em suas redes sociais. Em uma postagem feita nesta terça-feira (30), Fayda classificou o caso como racismo recreativo —quando se discriminam pessoas negras para fins de entretenimento.

Essa prática é um agravante dentro da lei contra crimes raciais. Pela legislação, quem cometer racismo recreativo pode ter a pena aumentada em um terço —nesses casos a condenação pode chegar a oito anos de reclusão.

"Alguém dar de presente para uma criança negra uma banana e um macaco é o cúmulo do absurdo e da barbárie. Ali, ela animaliza e desumaniza esses corpos. Ela remete àquela ideia falsa de que negro é um animal", disse Fayda à Folha.

A advogada afirma ainda que o vídeo das influenciadoras também fere o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) por expor crianças em uma situação vexatória. A lei impõe a preservação da imagem dos menores de idade, vela por sua dignidade e torna inviolável o respeito a sua integridade física, psíquica e moral.

Segundo a Polícia Civil, a Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos) já abriu um inquérito sobre o caso e está analisando o vídeo.

Já o Ministério Público informou que recebeu 690 denúncias, desde terça-feira, contra a publicação de Kerollen e Nancy. A 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada da Capital faz a análise do caso para a adoção das medidas cabíveis.

Quando denunciou o vídeo em suas redes, Fayda, que tem 322 mil seguidores no Instagram, pediu que mais pessoas fizessem uma reclamação do caso à ouvidoria do Ministério Público.

"Nós fomos ensinados a relevar, porque a gente é preto. Mas não temos que fazer isso. Vejo que tanta gente engaja [essas publicações], e queremos uma resposta jurídica", diz Fayda.

No vídeo, Nancy dá uma banana para um menino negro, após ele escolher entre ganhar um presente surpresa ou R$ 10. Diante da cena, o garoto fica aborrecido. Logo depois, em uma outra sequência, a mulher repete a pergunta a uma menina mais nova. Ao falar que prefere ser presenteada, ela ganha um macaco de pelúcia.

Não é o primeiro vídeo que Nancy e sua filha, Kerollen, expõem crianças negras em suas publicações. Em outras postagens, elas aparecem levando crianças que estão vendendo doces nas ruas para um shopping. As duas também fazem esse mesmo tipo de publicação com pessoas em situação de rua.

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