Descrição de chapéu Obituário Moisés Pereira (1931 - 2023)

Mortes: Comerciante, caminhou do sertão da Bahia para vencer no interior de SP

Ainda criança, Moisés Pereira e seus quatro irmãos fugiram da seca com a mãe; em Barretos se estabeleceu e criou família

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São Paulo

A história de Moisés Pereira poderia ter sido extraída de algum capítulo de "Vida Secas", o clássico de Graciliano Ramos.

Cansada de ver a fome dos cinco filhos —o mais velho com 13 anos e o caçula, de apenas 3— que criava sozinha no sertão baiano, depois de o marido ser assassinado em uma emboscada, Elvira, a matriarca da família, decidiu pegar a estrada com a meninada.

O comerciante Moisés Pereira à beira de um rio, sentado em uma cadeira de praia, segurando uma vara de pesca na mão direita
Moisés Pereira (1931- 2023) - Arquivo pessoal

Moisés, aos 9 anos naquele início dos anos 1940, era o irmão do meio. Deixava para trás a terra seca em Guanambi (BA). Não sabia precisar quanto andaram, mas costumava cravar terem sido meses até a família chegar a Bebedouro, a 345 km da capital paulista, onde os retirantes nordestinos decidiram descansar os pés.

Na terra próspera, veio o trabalho como boia-fria na lavoura. Junto às sementes de café, Moisés semeava sonhos. Ainda jovem se mudou para a vizinha Barretos em busca de oportunidades. Lá fez a vida.

O emprego em uma padaria o transformou em um confeiteiro de mão cheia. Atrás de um extra, pedalava pela cidade com uma cestinha de doces na bicicleta. Assim juntou dinheiro para comprar a casa onde viveu até seus últimos dias.

Dedicou parte do espaço no imóvel para comercializar seus bolinhos e em pouco tempo transformou o negócio em um bem-sucedido secos e molhados —durante mais de 40 anos, a Mercearia Pereira fez fama em Barretos.

"Os clientes eram marcados em caderneta", diz o filho Marcelo, 54.

Mariano, Moisés conheceu a professora Marlene em uma romaria, em 1964. Dois anos depois, os dois devotos de Maria estavam casados.

Corintiano, teve dois carros na vida, um Fusca branco, 1974, e um Gol preto, 1989. Era no fuscão que colocava os três filhos no banco de trás para a tradicional viagem a Caldas Novas (GO), a 400 km de distância.

A paixão pela pescaria lhe fez comprar um rancho às margens do rio Grande, na divisa entre São Paulo e Minas, onde também ganhou dinheiro locando o lugar como estaleiro de pesca. E para onde ia nos últimos tempos com Júnior, o filho caçula a quem deu o próprio nome.

Jogador de truco, Moisés não abria mão da galinhada no dia de seu aniversário, em 2 de janeiro. Na terra do peão de boiadeiro era bom no violão —o clássico sertanejo "Índia", de Cascatinha e Inhana, era sua música preferida.

A doença de Alzheimer, que nos últimos anos lhe tirava a memória recente, não o impedia de ser o bom contador de causos de sempre. Nem de lembrar do sertão deixado a pé para trás quando criança. Mas ele nunca retornou para lá, pois dizia que não se volta para onde se passou fome e sede.

Moisés Pereira morreu no último dia 4 de junho, aos 92 anos. Viúvo há 20 anos, deixou os filhos Marcelo, Mônica e Moisés Júnior, e quatro netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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