Descrição de chapéu indígenas yanomami

Ataque a tiros na terra yanomami deixa uma criança morta

Região do ocorrido é alvo de operação recente do governo; pelo menos cinco ficaram feridos

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Brasília

Um ataque a tiros na aldeia Parima, que fica dentro da Terra Indígena Yanomami (Roraima), deixou cinco feridos e uma criança morta nesta segunda-feira (3).

No local fica uma base de apoio da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), que prestou atendimento aos feridos —entre os quais há crianças e adultos, inclusive em estado grave.

Após a notificação do ocorrido, agentes da Polícia Federal e servidores da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), da Força Nacional, da Força Nacional de Saúde Pública, além de militares, deslocaram-se até o local.

Rio Mucajaí, na TI Yanomami
Rio Mucajaí, na TI Yanomami - Michael Dantas - 2.fev.2023/AFP

Em nota, o governo federal disse que os feridos foram transferidos nesta tarde para Surucucu e Boa Vista em aeronaves da Marinha e da FAB (Força Aérea Brasileira).

No texto, a gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também lamentou o que classificou como "ato violento" e se solidarizou com a comunidade indígena.

"O Governo Federal tem atuado para que os envolvidos sejam identificados e responsabilizados", diz a nota divulgada pela Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência).

Esse não é o primeiro ataque de que se tem notícia desde o início da operação de desintrusão do garimpo ilegal na TI Yanomami, no início do ano, que começou após o presidente Lula (PT) viajar ao local e o Ministério da Saúde decretar estado de emergência sanitária na região.

Os agentes de saúde que visitaram o local em janeiro encontraram as bases da Sesai desabastecidas de medicamentos e alimentos, sucateadas, com fezes e alta incidência de desnutrição e malária entre os indígenas, consequência direta da exploração ilegal do ouro no território.

O garimpo ilegal na terra yanomami quase triplicou em 2022 na comparação com 2020, quando teve início o monitoramento feito pela Polícia Federal na região.

Segundo a PF, o garimpo ocupava 14 km² do território em 2020, passou para 23,7 km² em 2021 e para 41,8 km² em 2022 —um crescimento de 76% em um ano e de 198% desde o início do monitoramento.

O governo de Jair Bolsonaro (PL) incentivou a atividade, sucateou as agências e as instâncias de proteção e combate à exploração ilegal e propôs um projeto de lei para regulamentar o garimpo nos territórios indígenas.

As ações de repressão são encabeçadas, sobretudo, pela PF e pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis), com auxílio da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da Força Nacional.

Havia mais de um mês que não eram registrados ataques ou confrontos no território Yanomami. Agora, sobe para 15 o total de mortos desde o início da operação de desintrusão.

O último episódio de violência aconteceu no final de abril, nas proximidades de Uxiú, e marcou o ponto de maior tensão desde o início das operações, quando garimpeiros mataram um indígena a tiros e balearam outros dois.

Nos dias seguintes, mais nove corpos foram encontrados na região.

Antes, em outro ponto do território, equipes da PRF e do Ibama foram recebidas a tiros quando chegavam em um garimpo para uma ação de repressão ao crime organizado. Quatro garimpeiros foram mortos pelos agentes de segurança e foi encontrada grande quantidade de armamento no local.

O ataque desta segunda deixou três crianças feridas, duas nos braços e uma no glúteo, e dois adultos, um no tórax e outro no abdômen.

Na tarde desta terça-feira (4), o Ministério dos Povos Indígenas divulgou nota em que afirma lamentar o ocorrido e que "os agressores se evadiram e a situação está sob controle".

Ainda não se sabe o que motivou a violência, mas pessoas ouvidas pela Folha sob condição de anonimato dizem que, na última semana, a região foi alvo de uma operação de combate ao garimpo ilegal.

Também afirmaram que a aldeia de Parima tem disputas históricas com outras comunidades da área.

A aldeia fica próxima ao batalhão de fronteira de Surucucu, do Exército, e também perto da fronteira com a Venezuela.

É mais próximo das regiões fronteiriças que sobrevivem os últimos garimpos ativos dentro do território yanomami.

Pessoas envolvidas nas ações afirmam, sob anonimato, que o perfil de atuação dos garimpeiros se adaptou, com trabalho noturno, acampamentos dentro da mata e até com equipamentos ficando enterrados durante o dia para dificultar a fiscalização.

Segundo essas pessoas, os garimpeiros se entocaram em pontos que ficam até cinco quilômetros dentro da mata e também estão nas regiões de fronteira, o que facilita o escape para outro país, onde as forças de segurança brasileiras não podem atuar.

Neste mês, o governo Lula publicou um decreto que autoriza as Forças Armadas a também atuar em atividades de combate à atividade ilícita.

Até então, os militares prestavam ajuda humanitária, com distribuição de cestas básicas e de insumos (como medicamentos e combustível), logística (transporte de tropas e planejamento) e inteligência (por exemplo, com uma aeronave com capacidade de fotografar os garimpos).

A intenção agora é, junto com outros órgãos que atuam na área, ocupar o território yanomami com novas bases e com equipes passando dias na floresta.

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