Ato em Copacabana marca 10 anos de desaparecimento e morte de Amarildo

Pedreiro sumiu na Rocinha em 2013 e corpo nunca foi encontrado; STJ confirmou em 2022 indenização aos familiares, que ainda não receberam

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Rio de Janeiro

Um ato na praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, marcou, nesta quinta-feira (13), os dez anos do desaparecimento e morte do pedreiro Amarildo Dias de Souza. Ele sumiu no dia 14 de julho de 2013 após ser detido por policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha e levado à sede da unidade. O corpo nunca foi encontrado.

A ONG Rio de Paz estendeu um tecido transparente na praia de Copacabana e colocou na areia dez manequins, representando os anos do caso. Familiares de Amarildo sentaram sobre o tecido e seguraram máscaras com o rosto do pedreiro.

De acordo com a investigação, Amarildo foi conduzido da porta de casa até a UPP. Ao todo, 12 PMs foram condenados por crimes de tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e fraude processual.

Pessoas sentadas sobre um grande pano branco. Elas vestem camisas brancas e calças escuras. O pano branco está esticado sobre a areia da praia, também branca. No fundo, o mar e o céu
ONG Rio de Paz realizou, nesta quinta (13), uma manifestação para marcar os 10 anos do desaparecimento de Amarildo; familiares estiveram na praia de Copacabana e levaram máscaras com o rosto do pedreiro - Onofre Veras-13.jul.2023/Thenews2

Segundo a sentença, por ordem dos comandantes, Amarildo foi submetido a tortura por cerca de 40 minutos. Ele foi agredido com descargas elétricas, saco plástico na cabeça na boca e afogamento em balde com água, o que causou sua morte.

Durante julgamento, a defesa de parte dos réus sustentou a tese de que Amarildo teria sido vítima de traficantes de drogas depois de supostamente liberado pelos policiais que o capturaram e levaram à sede da UPP.

Apesar da condenação dos policiais, o corpo de Amarildo até hoje não foi encontrado. O caso se tornou símbolo de casos de abuso de autoridade, violência policial e deu origem a diversos protestos.

Dois PMs continuam ativos na corporação. O major Edson Raimundo dos Santos, à época comandante da UPP, foi condenado a 13 anos e 7 meses. Atualmente, Santos é lotado na DPG (Diretoria Geral de Pessoal). Em entrevista à Folha, em 2015, o major negou o crime. O segundo tenente Luiz Felipe de Medeiros é lotado no CABis (Centro de Abastecimento de Insumos de Saúde).

Em agosto do ano passado, a Segunda Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) confirmou que o estado do Rio de Janeiro deveria pagar R$ 500 mil aos familiares de Amarildo. Os ministros também decidiram manter a decisão do Judiciário de pagamento de pensão de dois terços de salário mínimo aos seis filhos do pedreiro.

A família, no entanto, ainda não recebeu. O estado precisa ser intimado a pagar o valor e pode tentar impugnar a conta apresentada. Após essa etapa, o processo ainda precisa voltar ao juiz para homologação do valor.

"O estado comete dois crimes: além de tirar a coluna da casa, a pessoa que trazia o alimento para dentro, ainda não paga a família. Não quer saber se a família está comendo, passando fome, morando de aluguel", afirma Anderson Souza, 31, filho mais velho de Amarildo.

"Se a indenização saísse poderíamos comprar uma casa, dar um lar porque agora temos filhos, sobrinhos. Seria importante especialmente para a minha mãe. Onde ela mora infiltra direto. O dinheiro não traria a vida do meu pai de volta nem felicidade. Mas ajudaria para, ao menos, confortar", completa o filho mais velho de Amarildo.

João Tancredo, advogado da família de Amarildo, prevê que a esposa, irmã e filhos do pedreiro só comecem a receber em 2026.

"A morosidade da Justiça chega a ser perversa", afirma o advogado João Tancredo. "Os filhos de Amarildo, todos muitos jovens, além da convivência com o pai que lhes foi suprimida, foram também privados do auxílio que Amarildo lhes prestava. Nenhum se formou ou conseguiu trabalho regular que lhes garantisse a subsistência."

A ONG Rio de Paz lança, também nesta quinta, o documentário "Cadê Você?", sobre desaparecimentos de repercussão no Rio de Janeiro, como os casos de Amarildo e de Priscila Belford, irmã do ex-lutador Vitor Belford, desaparecida há 19 anos.

"A ideia do documentário surgiu a partir da percepção de que os casos de pessoas desaparecidas no Rio de Janeiro são muito extensos e de que, entre esses 5.000 desaparecidos por ano em nosso estado, uma fração significativa não vai reaparecer nunca porque foi morta e teve seu corpo lançado em cemitério clandestino, incinerado e até mesmo devorado por animais", disse o fundador da ONG Rio de Paz, Antonio Carlos Costa.

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