Donos de escola infantil são indiciados por suspeita de tortura em São Paulo

OUTRO LADO: Investigados ficaram em silêncio em depoimento, mas defesa nega acusação; aluno foi amarrado em pilar

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São Paulo

A Polícia Civil indiciou o casal proprietário de uma escola infantil na zona sul de São Paulo, por suspeita de tortura de crianças. Eles foram indiciados nove vezes pelo crime, mesmo número de vítimas identificadas. A defesa deles nega.

Presos na semana passada, Eduardo Mori Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira foram conduzidos na terça-feira (4) ao 6º DP (Cambuci) para prestarem depoimento. Eles preferiram se manter em silêncio, conforme a advogada Sandra Pinheiro de Freitas, que defende o casal.

"Eles não enxergam os atos ali praticados como tortura. Eles afirmam que nunca tiveram essa intenção. Nunca foi esse o fundamento da situação", disse a advogada em conversa com a Folha no final de junho.

Fachada da escola na zona sul em que donos são suspeitos de tortura foi pichada
Pichação em escola na zona sul da São Paulo cujos donos são investigados - Paulo Eduardo Dias/Folhapress

Uma das imagens divulgadas pela polícia mostra um menino com as mangas da blusa amarradas em um pilar. A medida, segundo relatos de funcionários, seria um castigo por ele ter feito xixi nas roupas.

"Ele [Kawano] me relatou que aquele negócio de amarrar as crianças, ele via como uma brincadeira. Ele brincava assim quando era criança. O grande problema também é como foi colocada cada foto. Como foi colocado cada vídeo. Tudo isso vai ter que ser analisado no processo."

Segundo o delegado Fábio Daré, o relato dos pais foi fator importante para o indiciamento. Desde o dia 19, segundo o delegado, foram ouvidas duas funcionárias e 12 mães de alunos com idade de 1 ano e 8 meses a 6 anos.

De acordo com a polícia, as profissionais que lidavam com os alunos afirmaram que discordavam das atitudes dos donos da escola e que não chegaram a receber salário.

Ainda segundo o delegado, há indícios de "violência psicológica" contra as crianças.

"Colocar uma criança de 1 ano e 8 meses dentro de um quarto escuro por horas. Colocar uma criança com incontinência urinária sentada num balde para urinar e defecar ali, para não sujar a escola. Colocar essa mesma criança num ralo para fazer as necessidades pessoais dela. Amarrar uma criança num pilar. Esses elementos me levaram a crer que houve tortura na escola", disse Daré na sexta.

"As oitivas delas foram muito concatenadas, uma bateu com a outra", acrescentou.

Suspeita-se que apenas os donos do colégio agrediram as crianças, segundo o delegado. Não há indícios, de acordo com ele, da participação de professores.

Uma ex-funcionária, que trabalhou na escola em 2016, procurou a delegacia após a repercussão do caso e relatou ter presenciado situações de maus-tratos enquanto esteve na unidade.

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