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Navio que fez 1ª viagem brasileira para a Antártida está abandonado no porto de Santos

Usado pela USP por 40 anos, equipamento foi destruído por incêndio em 2008 e aguarda por uma definição desde então

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São Paulo

Pioneiro nas pesquisas oceanográficas brasileiras, o navio Professor W. Besnard está há 15 anos encostado no porto de Santos, com o casco corroído pela ferrugem e por outros desgastes provocados pela falta de manutenção.

O veículo de 49,3 metros fabricado na Noruega e entregue em 1967 foi usado por quatro décadas por alunos e professores do Instituto Oceanográfico da USP em seus estudos.

Batizado em homenagem ao cientista russo-francês Wladimir Besnard, um dos criadores do então Instituto Paulista de Oceanografia (incorporado a USP em 1951), o navio coletou 50 mil amostras de organismos marinhos em suas mais de 150 viagens, incluindo a a primeira expedição brasileira para a Antártida, na década de 1980.

O histórico navio Besnard segue sem cuidados no Porto de Santos; seu estado atual nem de longe rememora seus tempos áureos - Karime Xavier/Folhapress

Em 2008, porém, o equipamento pegou fogo quando estava ancorado na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Com isso, foi transferido para Santos, onde aguarda até hoje por um destino. Entre as alternativas analisadas nesse período estavam uma reforma, a possibilidade de doar o equipamento para o Uruguai e a transformação em um museu.

Após anos de impasse, a USP doou o navio para a Prefeitura de Ilhabela (no litoral norte de São Paulo) em 2016. Segundo a universidade, o plano era que o veículo fosse afundado e transformado em um recife artificial —o que nunca aconteceu.

A gestão municipal afirmou que investiu R$ 102 mil na contratação de empresa especializada para a execução dos estudos necessários para o naufrágio controlado, mas que cancelou o projeto depois que a ONG Imar (Instituto do Mar), pediu o tombamento do equipamento no Condephaat (órgão estadual responsável pelo patrimônio histórico).

Em 2019, o navio foi então doado para o Imar, que ficaria responsável por reformá-lo para que ele voltasse a funcionar, o que também não aconteceu.

A Folha entrou em contato com a ONG por email, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Em 2020, o presidente do Imar, Fernando Liberalli, escreveu nas redes sociais que sempre trabalhou para preservar o navio, gastando inclusive recursos próprios para isso, mas que recebeu apenas críticas.

"Registro aqui, meu repúdio a todos os que deixaram de apoiar a preservação da memória de um navio que navegou 40 anos ininterruptamente, que coletou cerca de 50 mil amostras de organismos marinhos e efetuou a primeira expedição polar brasileira", escreveu ele na ocasião.

A Autoridade Aeroportuária de Santos afirmou que mantém constante monitoramento da embarcação, para garantia de condições seguras de flutuabilidade, bem como inspeção e fortalecimento da amarração.

O órgão disse que a obrigação de fazer a manutenção é do Imar, mas que tem atuado por questão de segurança.

"A obrigação de manter o navio seguro é do proprietário. Em 2018, 2020 e 2022 a Autoridade Portuária de Santos realizou ações de retirada de água de dentro da carcaça, uma vez que havia risco de afundamento, diante da declaração do Imar de que não tinha condições de executar as ações. Entretanto, os recursos despendidos para a operação são cobrados em juízo", explicou.

Atualmente há uma ação judicial contra a Prefeitura de Ilhabela que determina a retirada do navio do cais —o Imar não é parte na ação.

A Prefeitura de Ilhabela afirmou que está em constante contato com a Autoridade Portuária de Santos e o próximo passo será a contratação de um plano de remoção para o navio, que envolve Marinha, Ibama, Secretarias do Meio Ambiente e outros órgãos e entidades.

"Para a prefeitura só interessa a remoção para o projeto inicial, de naufrágio", disse o município.

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