Quase 20% das pessoas com deficiência são analfabetas no Brasil

IBGE aponta desigualdade em relação à população sem deficiência, cuja taxa de analfabetismo ficou em 4,1%

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Rio de Janeiro

Quase 20% da população de 15 anos ou mais com algum tipo de deficiência no Brasil era considerada analfabeta no terceiro trimestre de 2022, apontam dados divulgados nesta sexta-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Nessa camada da população, a taxa de analfabetismo foi de 19,5% à época. Em termos absolutos, o resultado significa que, de um total de 17,3 milhões de pessoas com deficiência, quase 3,4 milhões não sabiam ler e escrever.

Entre as pessoas de 15 anos ou mais sem deficiência, a taxa de analfabetismo foi de 4,1%. A diferença entre os dois indicadores foi de 15,4 pontos percentuais.

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Sala de aula vazia durante a pandemia em escola na zona leste de São Paulo - Rivaldo Gomes - 7.out.2020/Folhapress

Os dados integram um módulo da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) sobre pessoas com deficiência.

A publicação destaca a existência de desigualdades que afetam essa parcela da população em áreas como educação e mercado de trabalho. O tema é inédito na Pnad, mas já foi investigado em outras pesquisas do IBGE.

Em 2022, por exemplo, o instituto também reuniu em um levantamento uma série de estatísticas que indicam dificuldades maiores para pessoas com deficiência no acesso a áreas como educação, trabalho e renda.

Por ser um tema novo na Pnad, não há uma série histórica comparável. De acordo com a pesquisa, cerca de 18,6 milhões de pessoas de dois anos ou mais tinham algum tipo de deficiência no Brasil no terceiro trimestre de 2022 –o equivalente a 8,9% desse grupo etário.

O IBGE estima que 47,2% das pessoas com deficiência tinham 60 anos ou mais. Entre as pessoas sem deficiência, apenas 12,5% estavam nesse grupo de idade.

"As desigualdades eram esperadas, mas algumas são muito gritantes", diz Luciana Alves dos Santos, analista da pesquisa do IBGE. Um dos pontos que chamam atenção, segundo ela, é a disparidade do indicador de analfabetismo.

Para Alice Rosa Ramos, superintendente de práticas assistenciais da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), os dados mostram que o Brasil tem muita dificuldade para inserir a população com deficiência no sistema de ensino.

De acordo com Ramos, o programa pedagógico ainda não é totalmente inclusivo. "Não adianta colocar a criança com deficiência em uma sala grande, com 30 ou 40 pessoas, e simplesmente esperar que ela aprenda, sem se atentar para as necessidades dela", diz.

"Para avançar nesse sentido, é fundamental garantir que todas as escolas façam as preparações e adaptações que forem necessárias", acrescenta.

Pelos critérios da pesquisa do IBGE, uma pessoa é considerada alfabetizada quando consegue ler e escrever pelo menos um bilhete simples.

Segundo o instituto, o analfabetismo impacta especialmente os idosos no país. A situação reflete a menor escolarização frente aos mais jovens.

Entre a população idosa, com 60 anos ou mais, a taxa de analfabetismo foi de 25,1% para as pessoas com deficiência e de 12,6% para as sem deficiência.

Apenas 25,6% concluem ensino básico

O IBGE também traz uma comparação entre os brasileiros que concluíram o ensino básico –ou seja, que finalizaram pelo menos os estudos do ensino médio. De novo, as disparidades aparecem.

Considerando as pessoas de 25 anos ou mais com deficiência, apenas 25,6% haviam concluído pelo menos o ensino básico. A taxa foi de 57,3% entre a população sem deficiência na mesma faixa etária.

A metodologia da pesquisa considera como pessoa com deficiência quem tem muita dificuldade ou não consegue de modo algum realizar as atividades perguntadas em ao menos um dos quesitos investigados, como ouvir, enxergar, andar ou subir degraus.

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