Apertem os cintos: o que você precisa saber sobre turbulência

Recentes incidentes em viagens aéreas levantam questões sobre esse desafiador fenômeno climático

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Christine Chung
The New York Times

Inúmeros passageiros já viveram a sensação singular e aflitiva da turbulência em viagens aéreas: olhos fechados com força, mãos agarradas aos encostos dos assentos, preparando-se para a montanha-russa que está por vir.

Alguns incidentes recentes de turbulência deixaram dezenas de passageiros feridos. No mês passado, sete passageiros de um voo da Lufthansa de Texas a Frankfurt (Alemanha) foram hospitalizados com ferimentos leves depois de o avião encontrar turbulência forte quando sobrevoava o Tennessee. Em dezembro, cerca de duas dúzias de pessoas, incluindo um bebê, ficaram feridas em um voo da Hawaiian Airlines de Phoenix a Honolulu que passou por um trecho de turbulência pouco antes de pousar.

Os casos recentes suscitam uma dúvida: a turbulência aérea está ficando mais frequente e intensa?

Conversamos com alguns especialistas para saber mais sobre o fenômeno meteorológico difícil de prever. Veja o que disseram.

Corredor de avião com objetos espalhados pelo chão depois de turbulência
Avião da Lufthansa depois de turbulência que deixou sete feridos em março deste mês - Reprodução/Twitter

O que é turbulência?

Turbulência é movimento aéreo instável provocado por mudanças na velocidade e direção dos ventos, como correntes do jato, tempestades com trovões e frentes climáticas frias ou quentes. Sua gravidade pode variar, provocando alterações de leves a fortes na altitude e velocidade aérea.

A turbulência não é ligada apenas ao mau tempo —também pode aparecer quando o céu parece estar plácido. E pode ser invisível, tanto aos olhos quanto aos radares meteorológicos.

Existem quatro classificações de turbulência: leve, moderada, severa e extrema. Em casos de turbulência extrema, pilotos podem perder o controle da aeronave, que pode até sofrer danos estruturais, segundo o Serviço Meteorológico Nacional americano.

A turbulência está aumentando? E, se sim, por quê?

Pesquisas recentes indicam que a turbulência vem aumentando e que essa alteração é provocada pela mudança climática —especificamente, que as emissões elevadas de dióxido de carbono estão afetando as correntes aéreas.

Paul Williams, professor de ciência atmosférica na Universidade de Reading, na Inglaterra, estuda a turbulência há mais de dez anos.

Suas pesquisas concluíram que a turbulência em céus claros, que ocorre com mais frequência em altas altitudes e no inverno, pode triplicar até o final do século. Segundo Williams, entre todas as categorias de turbulência, é essa que vem aumentando em todo o mundo em todas as altitudes de voo.

Suas pesquisas sugerem que nos próximos anos nossos voos podem ser mais turbulentos, potencialmente resultando em mais passageiros e tripulantes feridos.

Passageiro desembarca no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), após o voo JJ8065 da TAM, vindo de Madri, sofrer uma turbulência sobre o oceano Atlântico e deixar ao menos 15 feridos
Passageiro desembarca no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), após o voo JJ8065 da TAM, vindo de Madri, sofrer uma turbulência sobre o oceano Atlântico e deixar ao menos 15 feridos - Fabio Braga - 2.set.13/Folhapress

Como a turbulência é monitorada e medida?

Os meteorologistas utilizam uma série de diferentes algoritmos, satélites e sistemas de radar para produzir para o setor da aviação previsões detalhadas de condições como ar frio, velocidade do vento, tempestades e turbulência. Eles apontam onde e quando pode ocorrer turbulência.

Jennifer Stroozas, metereologista do Centro Meteorológico da Aviação, descreveu a turbulência como "sem dúvida uma das coisas mais difíceis de se prever".

Usando essas previsões, além das orientações dos controladores de tráfego aéreo, pilotos procuram contornar áreas de turbulência, ajustando sua altitude para encontrar aquela que permite um voo mais estável. Isso implica em voar acima ou abaixo da altitude quando há previsão de turbulência e potencialmente queimar mais combustível que o inicialmente previsto, o que pode ter custo alto.

Robert Sumwalt é ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) e hoje dirige um novo centro de segurança da aviação na Universidade Aeronáutica Embry-Riddle. Ele destacou que é impossível evitar ou prever toda turbulência.

"Sempre pode aparecer uma turbulência imprevista", disse Sumwalt. "Geralmente não é algo que vai te machucar ou arrancar as asas do avião."

A turbulência é mais perigosa para aviões pequenos, mais suscetíveis às mudanças na velocidade do vento, que para grandes aviões comerciais, disse Stroozas, do serviço meteorológico.

É muito perigoso? Como posso ficar em segurança durante turbulência?

Os aviões são projetados para resistir a condições adversas, e é raro um avião sofrer danos estruturais devidos à turbulência.

Mas a turbulência pode sacudir passageiros e tripulantes, potencialmente causando ferimentos graves. Vários especialistas enfatizaram que a melhor maneira de reduzir riscos é permanecer sentado e manter o cinto de segurança travado pelo máximo possível de tempo durante voos.

"Se você ficar com o cinto travado, terá muito menos chances de sair machucado", disse Thomas Guinn, professor de ciências aplicadas de aviação na Universidade Aeronáutica Embry-Riddle.

Williams disse que em casos de turbulência severa, o movimento vertical do avião vai exceder a força da gravidade.

"O que isso quer dizer é que se você não estiver com o cinto de segurança travado, vai se tornar um projétil. Vai virar uma catapulta. Vai ser levantado do assento", ele disse.

As fatalidades provocadas por turbulência são extremamente incomuns, mas podem ocorrer. A última vez em que um passageiro de um voo comercial morreu de um ferimento ligado à turbulência foi em 1997, quando um voo da United Airlines de Tóquio a Honolulu passou por turbulência severa sobre o Oceano Pacífico, segundo investigação do NTSB. A passageira em questão não estava usando o cinto de segurança e foi projetada do assento para cima, possivelmente batendo a cabeça no compartimento de bagagem, segundo a investigação.

No mês passado, um ex-assessor da Casa Branca que viajava de New Hampshire à Virginia em um jatinho executivo morreu de ferimentos fatais atribuídos inicialmente a turbulência severa. Mas uma investigação preliminar do NTSB concluiu que os pilotos da aeronave haviam desligado um controle que a estabilizava, levando-a a oscilar brevemente no ar.

Como ficam os bebês que viajam no colo?

É permitido levar crianças de até 2 anos no colo de um adulto durante um voo, mas muitos especialistas do setor citam perigos como a turbulência para defender que essa prática seja proibida.

No mês passado, a Associação de Comissários de Bordo-CWA, sindicato que representa 50 mil comissários de bordo de 19 companhias aéreas, retomou sua campanha de décadas para impor que cada passageiro ocupe seu próprio assento, seja qual for sua idade.

Sara Nelson, a presidente do sindicato, disse em entrevista que, com a turbulência ficando "muito mais comum" recentemente, a necessidade de crianças pequenas ficarem corretamente acomodadas em assentos de segurança próprios durante os voos virou uma prioridade maior.

"Estamos falando de acontecimentos na cabine que são potencialmente fatais, mas aos quais é possível sobreviver quando você faz as coisas corretas para se proteger", ela disse.

Turbulência imprevista é a maior causa de ferimentos pediátricos em aviões, segundo a Administração Federal da Aviação (FAA), que traz informação detalhada sobre vários sistemas de assentos e cintos de segurança para crianças e como instalá-los corretamente em assentos de avião. Alguns desses produtos são compatíveis tanto para carros quanto para aviões.

A FAA e o NTSB há décadas aconselham os pais a proteger seus filhos pequenos, acomodando-os em seus próprios assentos pagos e em uma cadeirinha de segurança aprovada. A Academia Americana de Pediatria faz a mesma recomendação. Não há lei federal que torne essas medidas obrigatórias.

Tradução de Clara Allain

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